Mozer e o momento em que Mourinho “pôs a faca no pescoço de Vilarinho”

Mozer foi treinador-adjunto de José Mourinho no Benfica e recorda um momento específico entre o treinador e o presidente Manuel Vilarinho.

Mozer e o momento em que Mourinho “pôs a faca no pescoço de Vilarinho”

Nos dias que correm, José Mourinho é o treinador dos ingleses do Tottenham. Mas foi em Portugal que o setubalense deu os primeiros passos enquanto treinador principal. Na época 2000/01, João Vale e Azevedo apostava em José Mourinho para liderar a equipa encarnada. Isto depois da saída de Jupp Heynckes. Um dos pedidos do então jovem treinador foi que Mozer, antigo jogador do clube, fizesse parte da sua equipa técnica. Algo que o brasileiro ficou a saber depois de receber um telefonema do presidente dos ‘encarnados’.

Mourinho fez questão de ter Mozer na equipa técnica do Benfica

“convidou-me para uma reunião e nem sabia do que se tratava. Quando chego ao escritório dele, deparo-me com o José. Tinha conversado sobre futebol duas vezes com ele, em contexto de férias, no Algarve, e fiquei muito surpreso por ter solicitado a minha presença para trabalhar com ele”, recorda, em conversa com a Lusa.

LEIA AINDA

Benfica. Luisão internado depois de queda grave em casa

Mozer relembra que naquela época já via algo de diferente em José Mourinho. “É verdade que vinha de trabalhos com o falecido Bobby Robson no Sporting, no FC Porto e em Barcelona, mas já tinha conhecimentos desde os tempos em que fazia relatórios para o pai, Félix Mourinho. Era um ser humano raro e demonstrou essa visão sobre futebol num curto espaço de tempo, tal como nunca tinha visto”, refere.

“Era um ser humano raro”

Ainda assim, a aposta em Mourinho nunca reuniu consenso no universo encarnado. Apesar disso, Mozer garante que a equipa mostrou “muita boa adesão” à chegada e aos métodos do treinador. Algo que resultou num “salto grande” na qualidade futebolística da equipa. “Era notória a reação dos atletas em beberem daquele sistema e daquela metodologia. Infelizmente, as coisas foram curtas para nós, sobretudo para mim, porque tinha muito para aprender com ele e fiquei como se tivesse ligado apenas a chave do motor do carro”, lamenta o antigo internacional brasileiro.

José Mourinho teve apenas 76 dias no Benfica

Foi também nessa época que os ‘encarnados’ viveram umas eleições bastante conturbadas. João Vale e Azevedo acabou por perder, em outubro de 2000, as eleições para Manuel Vilarinho, presidente que tinha em Toni o seu treinador. “Não tenho mágoa, mas fiquei bastante chateado pela oportunidade desperdiçada de o Benfica subir de patamar. O José foi uma revolução à época. Achava de uma importância tremenda que ele permanecesse, pois tínhamos contactado pela primeira vez com essa organização de trabalho, que seria benéfica para um clube modernizado”, explica.

VEJA TAMBÉM

Covid-19: Diretor do Benfica Campus receia que formação só retome na primavera

Vilarinho recusou aumentar a duração do contrato da equipa técnica e Mourinho abandonava o Benfica 76 dias depois da chegada. Para a história ficam 11 jogos em três competições. “Houve muitas histórias de que o José pôs a faca no pescoço do Manuel Vilarinho, mas ele não exigiu mais dinheiro. Só queria que o deixassem trabalhar para certificar a sua qualidade e mostrar ao público que tinha plenas condições de treinar ali. Percebo que era para se cumprir o pacto com Toni, mas foi um desperdício muito grande”, defende.

Mozer acreditava que Benfica ganharia a Liga dos Campeões com Mourinho

Mourinho acabou por não trabalhar até ao final da época. No ano seguinte rumou a Leiria – algo que Mozer não quis fazer – e depois ao Porto. O resto é história e o ex-jogador lamenta que alguns capítulos não tenham sido escritos no Benfica. “Quem beneficiou com o despedimento de José Mourinho do Benfica foi a União de Leiria. Tudo o que aconteceu aí e no FC Porto, com as duas taças europeias e o bicampeonato, podia ter acontecido na Luz. Na altura, pensei que o Benfica voltaria a ganhar a Liga dos Campeões com um homem realmente fora do comum”, conclui.

Texto: Bruno Seruca; Foto: Impala

Impala Instagram


RELACIONADOS