“Trabalhar em Portugal? Sim! Até porque seria um facto curioso: eu seria o único treinador negro na primeira divisão”, diz Oceano Cruz, primeiro entre sorrisos, mas focando-se depois na seriedade do tema.

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“O racismo existe. Não vamos escamotear isso, porque existe. Em Portugal, que é onde posso falar de forma mais assertiva, existe um racismo perigoso, porque é estrutural. Achas normal não haver um treinador negro na I Liga? No ano passado já não houve ninguém… A maior parte das pessoas acha que é normal e isso é que torna o racismo estrutural”, acusa.

Racismo marca entrevista de Oceano

O racismo marca a entrevista de Oceano Cruz e o primeiro episódio de Final Cut, podcast da Sports Tailors que estreia nesta quarta-feira, 12 de julho, às 21:30 no Youtube da Sports Tailors. O teaser já está disponível.

“Não é normal olharmos para a qualidade que têm os jogadores negros, para a qualidade que têm os treinadores negros e ver as poucas oportunidades que eles têm. Dou por mim a educar as pessoas quase todos os dias neste tema do racismo. Não devia ser o meu trabalho… Ou melhor, devia ser o trabalho de todos”, continua o técnico, recuperando o sucedido recentemente em Espanha.

“O Vinicius tornou-se viral porque está no topo da pirâmide. É jogador do Real do Madrid e obriga toda a gente a falar sobre o tema. Mas existe racismo todas as semanas. O problema deste mundo é que amanhã acontece sempre outra coisa. Mas às vezes o que aconteceu ontem merece ser lembrando e discutido. Este é um problema e é um problema grande.”

Quantos treinadores negros estão no ativo?

Lito Vidigal e Pepa foram os últimos treinadores de raça negra na Primeira Liga, na temporada 2021/22. A nível internacional, na época passada, foram vários os campeonatos que seguiram o exemplo português, sem qualquer treinador de raça negra. Desde logo, Espanha, Itália ou Alemanha. Patrick Vieira (Crystal Palace – Inglaterra), Patrick Kisnorbo (Troyes – França), Antoine Kombouaré (Nantes – França), Henk Fraser (Utrecht – Países Baixos) e M´Baye Leye (Zulte Waregem – Béligica) são as exceções identificadas nas principais ligas europeias.

Ao longo de mais de uma hora, Oceano Cruz aborda outros tópicos da atualidade desportiva (Sporting, Benfica, FC Porto e SC Braga, entre outros), a fase como jogador, em particular na Real Sociedad e no Sporting, o convite para o Barcelona ou a aventura enquanto treinador, no Irão e na Colômbia, ao lado de Carlos Queiroz.

Aprender com o professor

“O rótulo de ter treinado com Queiroz é para mim um orgulho. É um bom rótulo. Foi um prazer ter estado com ele nestes anos todos. Ainda hoje tenho gente que me diz: ‘pá, pensava que estavas com o Carlos’.” No final da entrevista, Oceano, ex-capitão do Sporting Clube de Portugal e da Seleção Portuguesa, deixa uma emocionante mensagem para Manuel Fernandes. Depois deste episódio piloto, o podcast Final Cut acompanhará o regresso das competições desportivas, com novos convidados.

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