Devem os pais impingir um clube desportivo aos filhos?
Agora que termina mais uma época desportiva, de que forma se deve agir com as crianças no que diz respeito aos gostos clubísticos? A psicóloga clínica Teresa Paula Marques explica.
Deverão os pais impingir um clube aos filhos? A psicóloga clínica Teresa Paula Marques é perentória na resposta. «Os pais nunca deverão impor nada que tenha a ver com gostos/preferências. Isso deve ser uma opção dos próprios filhos», começa por explicar-nos. No entanto, «é compreensível que, sendo os pais de um determinado clube queiram que os filhos dêem continuidade a essa opção, até porque quando as crianças são muito pequenas não têm sequer noção dos clubes, o que lhes interessa é ganhar, independentemente de ser este ou outro clube.» «Muitas vezes até dizem que são de um clube e depois mudam apenas porque estão a perder. Nesse caso cabe aos pais transmitir a ideia de que ganhar e perder faz parte do espírito desportivo, portanto teremos de aguentar a frustração quando a nossa equipa perde e apoiá-la nos bons e nos maus momentos», continua.
Pais ferrenhos, prestem atenção!
A verdade é que, para os adultos apaixonados por um clube, nem sempre é assim tão fácil criar distanciamento. Eduardo é adepto ferrenho do Sporting. Tem dois filhos, um com 10 e outro com seis e as crianças são… do Sporting. «Sim, influenciei-os para que fossem do meu clube. Não conseguiria lidar com o facto de os meus filhos serem de um clube rival. Sei que na teoria não é correto, mas comigo foi assim que aconteceu», revela.
Nestes casos, Teresa Paula Marques realça a importância de «respeitar a diferença no sentido mais amplo», ou seja, «tal como as crianças têm de ser instruídas no sentido de respeitarem quem tem uma religião, uma opção política, uma orientação sexual… diferentes da sua, também deverão crescer respeitando que os pais têm um clube diferente do seu e vice-versa. No que respeita aos pais ferrenhos, por vezes é-lhes difícil aceitar isso, uma vez que essa obsessão não lhes permite a flexibilidade necessária para aceitarem essa realidade. Nesse caso há que evitar discutir futebol e, acima de tudo, nunca deixar de ter presente que o amor pelos filhos é superior a todas as diferenças, mesmo clubísticas», aconselha.
Respeito acima de tudo
Existem crianças que acabam por seguir o gosto por determinado clube, devido à influência dos pais. Esta é uma forma de moldar a criança aos gostos dos adultos. Essa questão afetará algo na personalidade da criança? A psicóloga clínica explica. «Se uma criança nasce no seio de uma família que é fã de determinado clube, muitas vezes até fica logo inscrito (e com direito a cartão) como sócio. Desse modo vai crescendo sob esse tipo de realidade, vive as alegrias e as frustrações clubísticas em conjunto com a família e esse passa a ser um forte elo afetivo que os de liga. Não me parece que daí venha algum mal, desde que, no caso de a criança querer mais tarde mudar de clube, isso ser respeitado pelos mais velhos», realça.
Conselhos para as famílias
Há cada vez mais pessoas ferrenhas por clubes desportivos, o que faz com que, por vezes, não seja olhe um pouco mais à frente e se veja que o desporto pode ser útil, não só na questão de um amor por um clube, mas por outras razões essenciais no crescimento de uma criança. «Penso que os conselhos deverão ser, sobretudo, para os pais e não para as crianças. O que é importante dizer-lhes é que o desporto tem lados bastante positivos que deverão ser explorados em termos de educação.
Por exemplo, através do desporto é possível ensinar regras de conduta, a ter fairplay, respeito pelo adversário, empatia, desenvolver a capacidade de resiliência, de entre outros aspetos. Posto isto, há que evitar a associação do desporto à violência, verbal e física, infelizmente tão comum nos últimos tempos. Os pais são sempre um modelo para os filhos, cabe-lhes ter isso presente e ensinar através do exemplo», finaliza Teresa Paula Marques.
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