Sir Alex Ferguson: O mental a sobrepor-se à táctica
Alex Ferguson ganhou tudo o que havia para ganhar no mundo do Futebol e é uma das mais figuras do desporto. Conheça a sua história.
Sir Alex Ferguson é um dos melhores treinadores de sempre do futebol mundial. Foi um líder como poucos foram e ganhou como muito poucos ganharam. Pelas suas mãos passaram jogadores como Paul Scholes, Peter Schmeichel, David Beckham, Ryan Giggs, Wayne Rooney, Roy Keane, Eric Cantona, Ruud van Nistelrooy, Ole Gunnar Solskjaer ou Cristiano Ronaldo.
Ao longo da sua longa carreira, o escocês nascido em Glasgow em 1941 venceu 49 títulos ao longo da sua carreira, sendo que 38 foram ao serviço do Manchester United FC. A estrela de Ferguson começou a brilhar em 1977, levando o Saint Mirren FC à conquista da Scottish First Division, a segunda divisão do país. No ano seguinte, a época do clube dos subúrbios de Glasgow não correu da melhor forma e, a 31 de maio, o técnico foi despedido do comando do Saint Mirren.
A partida do clube não significou porém o desemprego para Ferguson. Dias depois de ter sido demitido, o treinador assinou pelo Aberdeen FC, equipa que tinha terminado o campeonato anterior na segunda posição. A juventude do técnico acabou por ser um enorme desafio no primeiro ano na cidade do norte da Escócia, com Alex Ferguson a ter dificuldades em gerir um balneário com jogadores mais velhos do que ele. No final da época de estreia no Aberdeen, o clube tinha ficado apenas no quarto lugar da tabela, chegado à meia-final da Taça da Escócia e perdido a final da Taça da Liga para o Dundee United FC.
Aberdeen e o sucesso europeu
Na temporada seguinte, 79-80, Ferguson fez história ao conseguir acabar com o domínio de The Rangers FC e Celtic FC. Foi a primeira vez em quinze anos que a Premier League escocesa não foi vencida por um dos dois gigantes de Glasgow e apenas a segunda conquista da história do Aberdeen, após o título de 54-55. Depois da conquista, o treinador afirmou que finalmente tinha os jogadores do seu lado e a acreditar no seu trabalho.
A mentalidade do clube começava assim a mudar e, em 1982, conquistou a Taça da Escócia ao vencer o Rangers no Hampden Park por 4-1, após prolongamento. A vitória na competição permitiu à equipa escocesa a participação na Taça das Taças, extinta competição da UEFA, com todos os vencedores das taças dos países europeus.
A estreia na prova foi pouco brilhante, vencendo o KS Dinamo Tirana por 1-0 e empatando na Albânia. Na segunda ronda, Ferguson e os seus jogadores receberam no Pittodrie Stadium o KKS Lech Poznan, da Polônia, e venceram por 2-0. No segundo jogo, em Poznan, o Aberdeen voltou a vencer por 1-0 e marcou encontrou com o FC Bayern Munique.
Os gigantes da Baviera tinham vencido facilmente o Tottenham Hotspur FC por 4-1 e eram favoritos para o primeiro jogo, que foi disputado na Alemanha. Mas em campo tudo foi diferente, os corajosos escoceses – que nem William Wallace – resistiram ao forte adversário e conseguiram terminar o jogo com o resultado em 0-0, trazendo assim o jogo para o norte da Escócia.
No segundo jogo, tudo começou mal, com o central Klaus Augenthaler a fazer o 1-0 aos dez minutos de jogo. Ainda antes do intervalo, o médio Simpson empatou a partida, mas o Bayern continuava na frente com a regra dos golos fora. No segundo tempo, e com uma hora de jogo, os alemães voltam a marcar por Hans Pflügel e o sonho escocês parece terminar ali. Era preciso dois golos para apurar o Aberdeen frente a uma equipa que tinha sido finalista da Taça dos Campeões Europeus no ano anterior. Faltava menos de um quarto de hora para jogar em Aberdeen quando a equipa de Ferguson reagiu. Alex McLeish, agora treinador da selecção escocesa, fez o 2-2 com 77 minutos e, no minuto seguinte, John Hewitt (que tinha entrado dois minutos antes) deu a volta ao jogo e à eliminatória com o 3-2 e o apuramento para as meias, onde iria jogar com os belgas do KS Waterschei.
O primeiro jogo das meias definiu logo o apuramento escocês, com a formação escocesa a vencer por 5-1 e de nada valeu a vitória belga por 1-0 no jogo seguinte. O Aberdeen tinha assim marcado a presença na final da Taça das Taças onde iria jogar com outro clube histórico europeu, o Real Madrid CF de Santillana, Stielike ou José António Camacho e que era treinado por Alfredo di Stéfano.
Na final de Gotemburgo, na Suécia, o Aberdeen entrou a marcar cedo, com um golo de Eric Black aos sete minutos. Juanito, um dos avançados merengues e goleador do clube espanhol, empatou o jogo à passagem do primeiro quarto de hora. O jogo ficou empatado até ao fim dos 90 minutos e o Aberdeen voltava a discutir um título no prolongamento. Aos 112′, John Hewitt voltou a ser o herói escocês e marcou o golo histórico que deu a única conquista continental ao clube escocês.
Nas celebrações, o defesa Willie Miller falou que o momento de viragem tinha sido o jogo frente ao Bayern, uma vez que a vitória fez a equipa acreditar que a conquista era possível. Para Ferguson, este teria sido o momento em que sentiu que tinha feito algo de importante e meritório com a sua vida. Na mesma temporada, o Aberdeen venceu de novo a Taça da Escócia com um 1-0 frente, de novo, aos Rangers.
Ferguson chega a Manchester
O facto é que mais do que um treinador muito táctico e com ideias diferentes de abordagem ao jogo, o grande trunfo de Ferguson passava pela sua capacidade de gestão dos seus recursos e de tirar o melhor de cada um dos seus jogadores. Até agora neste texto, já demos alguns exemplos de superação e de acreditar sempre na vitória, e é este um dos maiores talentos do escocês. O exemplo da final da UEFA Champions League de 1999 é um dos melhores exemplos disso, mas já lá chegamos.
Na década de 90, o Manchester United começou a dominar a novíssima Premier League, conquistando a mesma em 93, 94, 96, 97, 99 e em 2000 (falando apenas do século passado). Para além do futebol atractivo e com jogadores como Cantona, Andy Cole ou Peter Schmeichel, Ferguson começava a colocar no plantel e no onze jogadores formados nas categorias de base do clube. Os irmãos Neville, Nicky Butt, Ryan Giggs, Paul Scholes e David Beckham são todos jogadores que cresceram nas academias do clube e que foram aprendendo com Ferguson todo o conhecimento que o técnico tinha para dar. Célebre ficou também o momento em 2003 em que o escocês atirou uma chuteira a Beckham.
O milagre de Camp Nou
Depois de se tornar o clube mais forte do campeonato inglês, o United partiu à conquista da Europa. Em 98-99, e depois de conquistar a Liga com mais um ponto do que o Arsenal de Wenger e a Taça de Inglaterra ao Newcastle United FC, os ingleses enfrentavam o Bayern de Munique na Final da Champions League, em Nou Camp, Barcelona, a 26 de Maio de 1999.
Logo com cinco minutos disputados, o meia Mario Basler marcou um livre directo sem defesa para o guardião Schmeichel, que ficou sem reacção colado ao relvado. O jogo caminhou depois num ritmo sem grandes oportunidades e sem o United a assustar verdadeiramente Oliver Kahn durante grandes períodos do jogo. Os red devils chegaram aos 90 minutos a perder 1-0 e com Schmeichel e os postes, por duas vezes, a salvar a equipa.
Contudo, tudo mudou a partir da entrada de Teddy Sheringham e Ole Gunnar Solskjaer; os dois ameaçaram Kahn antes de, já dentro dos descontos, Sheringham marcar o empate em Nou Camp. Mais uma vez, o drama fazia parte de uma final disputada por Alex Ferguson e depois de a derrota parecer quase certa, o acreditar dava frutos. Mas o melhor estava ainda para vir e, aos 90+3 minutos, e após um canto do lado esquerdo, a bola chegou ao pé direito de Solskjaer que rematou para um golo fácil e decisivo. Foi o golo que dava a primeira Champions League a Ferguson, a segunda taça europeia ao United, depois de 1968, e um histórico treble ao clube, conquistando pela primeira vez três títulos importantes na mesma época.
Nesse ano, Alex Ferguson recebeu da Rainha Isabel o título de Sir.
No início dos anos 2000, o Manchester partilhou com o Arsenal e a sua armada francesa (Wenger, Pires, Henry, Petit e Vieira, entre outros), o domínio da Premier League, com os gunners a conquistarem o campeonato invictos em 2003-2004. Curiosamente, foi nessa temporada que chegou a Old Trafford um menino de 18 anos, chamado Cristiano Ronaldo. Contratado ao Sporting CP depois de um brilhante jogo em Alvalade, Ronaldo encantou desde cedo o exigente público britânico e foi lentamente se tornando uma das peças fundamentais da equipe de Ferguson. Aprendendo com o mestre escocês a melhorar o seu jogo, o jovem português foi melhorando e melhorando até vencer, em janeiro de 2009, a sua primeira Bola de Ouro.
Ao mesmo tempo, o United ultrapassava o Arsenal e o novo rico Chelsea FC de Abramovich e José Mourinho e vencia três títulos consecutivos (2007, 2008 e 2009), após três anos sem conquistas. A idade começava a pesar para Ferguson, com rumores de o término da carreira a existir desde 2002. Porém, no relvado – onde realmente conta – o treinador continuava a acumular títulos importantes e a equipa parecia voltar à melhor forma. Em Maio de 2008, o Manchester United disputou de novo uma Final da Liga dos Campeões, desta vez frente ao Chelsea agora de Avram Grant, que tinha substituído Mourinho após o seu despedimento no início da temporada.
Em 2013, e depois de mais dois títulos da Premier League em 2011 e 2013, Sir Alex decidiu largar a sua cadeira de sonho e deixar o comando do Manchester United, retirando-se do futebol. O seu legado é enorme e está visível aos olhos de todos. O clube passou a ser dos mais conhecidos do Mundo, com milhões de fãs espalhados por todos os países e é, ainda hoje, o clube mais rico do Mundo, à frente de Real Madrid e Barcelona.
Como técnico, Ferguson fez crescer grandes jogadores como Giggs ou Beckham e foi um dos maiores responsáveis por Cristiano Ronaldo ser hoje o melhor jogador do Mundo. A sua relação com o craque português é como de pai e filho e mostra bem aquilo que o escocês significa para CR7.
Um óptimo gestor de recursos e de homens, um verdadeiro general que sabe que a táctica de nada vale sem um psicológico forte e um treinador que soube se adaptar à evolução do futebol, tendo sido campeão em quatro décadas de futebol.
Texto: Vítor Miguel Gonçalves | WIN
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