António Costa, o bom político, e o perigo de ele estar só

O termo Geringonça foi usado pela primeiro vez com conotação pejorativa. O termo pegou. António Costa depressa inverteu a carga negativa da palavra. A técnica para consegui-lo pouco interessa. Um tipo que está só pode tudo.

António Costa, o bom político, e o perigo de ele estar só

A Geringonça só foi possível porque temos no nosso país António Costa, que é muitas coisas – positivas, negativas e indiferentes –, mas a menos contestável é ser bom político.

Foi o primeiro a governar sem vencer as eleições e disso só um bom político seria capaz. Foi fácil para ele: em Belém estava um Presidente que sempre foi muitas coisas – positivas, negativas e indiferentes –, mas que nunca foi político. Quanto mais bom.

Não há mal em termos bons políticos. Mau é haver só um. Em nosso nome – que é como eles chegam ao Poder –, um bom político faz o que quer, como quer e quando quer quando não há quem exerça, igualmente em nosso nome, o contraditório.

António Costa, o bom político…

O termo Geringonça foi usado pela primeiro vez com conotação pejorativa. O termo pegou. António Costa depressa inverteu a carga negativa da palavra. A técnica para consegui-lo pouco interessa. Um tipo que está só pode tudo.

A Geringonça passou a exemplo de Democracia adulta, capaz de produzir um governo estável e verdadeiramente representativo da maioria. Não sei, mas Costa naquela altura devia rir-se muito com a sorte de haver só um tipo hábil: ele.

O outro lado da moeda, como em qualquer situação, é o tal de não haver contradição. É ele contra ele: pode dizer uma coisa e fazer outra e pronto. Pronto mesmo. Não se contesta. E assim foi fácil voltar a ser – agora sendo de facto o mais votado – primeiro-ministro.

…, e o perigo de ele estar só

Aquilo que aparentemente era o píncaro da Democracia, porém, é perigoso. A coligação PCP-PEV – um dos pilares da governação de Costa – alcançou nas legislativas de 2015 que resultaram na formação da Geringonça 8,25% dos votos: menos de 446 mil votantes inscritos.

Para governar, o primeiro-ministro cedeu ao PCP e ao braço ecologista dos comunistas em várias matérias. Várias, mas bastaria uma única para subverter a Democracia. Porquê?

Porque 0,4 milhões imporem decisões a 9,6 milhões de votantes inscritos pode ser a Geringonça a funcionar, mas Democracia é que não é. E é este o nosso azar.

Temos bom político, mas não temos político bom. Temos Geringonça, mas não temos Democracia. Temos Governo, mas não temos futuro. Porque não pode chamar-se futuro ao espaço que António Costa abriu – no deserto da Política nacional – ao próximo bom político: André Ventura.

Luís Martins

Luís Martins | diretor

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