Pai Natal foi inspirado numa figura real que lutou contra erros judiciais

O Pai Natal não existiu, mas foi inspirado na figura real de São Nicolau, bispo bizantino nascido na Turquia cujas extraordinárias lendas e milagres que lhe são atribuídos tornou-o num dos santos mais populares da Europa.

Pai Natal foi inspirado numa figura real que lutou contra erros judiciais

O Pai Natal é baseado na figura histórica real de São Nicolau, bispo bizantino nascido na atual Turquia. Por causa das extraordinárias lendas e milagres que lhe são atribuídos, tornou-se num dos santos mais populares da Europa.

Os migrantes holandeses “terão espalhado a sua fama pelos EUA e – através de livros, revistas e filmes – acabou transformado no santo padroeiro das crianças e na figura familiar do Pai Natal que hoje conhecemos”, explica Brian Thorton, professor de Jornalismo da Universidade de Winchester.

Além da história de São Nicolau que todos conhecem – aquela em que dá presentes aos pobres pela calada da noite –, no fundo a história da origem do bondoso velhinho das barbas brancas, há, contudo, outra que, provavelmente, é menos familiar para a maioria.

Trata-se da história de como Nicolau lutou contra um erro judicial. “Um empresário local foi ver o governador da província e, por razões que se perderam na história, quer que três homens inocentes – Nepotian, Ursyna e Apollyn – sejam mortos. O governador, o notoriamente desonesto Eustathios, mostra-se muito feliz por ajudar”, conta Thorton.

A primeira documentação sobre a vida de Nicolau pode ser encontrada na Bibliotheca Hagiographica Graeca. Acredita-se que tenha sido escrita na primeira metade do século IX por Miguel, o Arquimandrita e sugere que, mesmo tendo pagado pelo roubo, os homens foram na mesma condenados à morte.

A notícia do que estava a passar-se chegou a Nicolau, que correu para a praça. No momento em que o carrasco ergueu a espada para despachar o primeiro prisioneiro, Nicolau lançou-se entre o executante e o condenado. Agarrou o braço do carrasco, tirou-lhe a espada, desamarrou os homens inocentes e libertou-os.

São Nicolau de Myra salva três inocentes da morte (Ilya Repin, domínio público, via Wikimedia)
São Nicolau de Myra salva três inocentes da morte (Ilya Repin, domínio público, via Wikimedia)

Depois, advertiu o governador. Ao deparar-se com a fúria justa de Nicolau, Eustácio caiu de joelhos e arrependeu-se, prometendo mudar de atitude, sugerem as fontes.

Trata-se, de facto, de uma imagem de São Nicolau muito diferente daquela a que a maioria das pessoas está habituada no século XXI. “Este não é o gentil e humilde bispo do século IV, o proto-Pai Natal”, contata Bryan Thorton. “Em vez disso, este é o herói de ação, o São Nicolau que não tem medo de enfrentar a espada de um carrasco.”

Como bispo de Mira – cidade costeira onde hoje é a Turquia –, São Nicolau foi “uma importante figura cristã num império cada vez mais preocupado com o crescente poder do Cristianismo”.

“Quando o imperador romano Diocleciano decidiu que estava na hora de enviar uma mensagem, ordenou a tortura de qualquer cristão que se recusasse a adorar os deuses romanos. A ordem desencadeou um reinado de terror. Nicolau foi um dos presos e torturados. A perseguição de Diocleciano durou entre oito e dez anos.”

Quando o Bispo Nicolau foi finalmente libertado, “era um homem mudado“. “Colocar a sua vida em risco por pessoas que nunca conheceu poderia ter sido simplesmente porque sabia o que era ser inocente e ter a sua liberdade roubada”, suspeita Thorton.

E assim, embora a história de São Nicolau a distribuir secretamente sacos de ouro a uma família pobre “deva ser lembrada e, eventualmente tornar-se na inspiração para a figura alegre e de bochechas rosadas do pai Natal, há outros aspetos desta personagem”.

Ruínas da igreja de São Nicolau na antiga cidade de Mira (Wikimedia)
Ruínas da igreja de São Nicolau na antiga cidade de Mira (Wikimedia)

Nicolau era um homem rico e, portanto, quando doou o seu ouro, fê-lo num ato de bondade. Nada, contudo, que ele não pudesse pagar. O facto de ele ter pensado fazê-lo anonimamente “mostrou a sua humildade”. “Estes foram os atos de um bispo compassivo, de um homem que rapidamente se tornaria célebre, depois famoso e, por fim, santo.”

Com o passar dos séculos, a lenda de São Nicolau cresceria cada vez mais, assim como os poderes que lhe foram atribuídos. Desde controlar o clima até aparecer em sonhos aos imperadores romanos, parecia haver pouco que São Nicolau não pudesse fazer.

Tornou-se no padroeiro das crianças, dos penhoristas, das mulheres solteiras, dos marinheiros, dos criminosos arrependidos, dos estudantes, dos empresários e de inúmeras cidades europeias – e, claro, reimaginado ao llongo dos tempo como Pai Natal.

“Mas há algo mais profundo na história do resgate dos três homens inocentes e na luta de Nicolau pela justiça que se destaca de todos os enfeites, dos filmes de Natal e dos mitos – e que explica como e por que motivo a lenda de Nicolau se espalhou pelo mundo”, considera Brian Thorton, professor de Jornalismo da Universidade de Winchester.

The Conversation

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