Ana Rocha de Sousa revela que foi vítima de abuso sexual aos 17 anos

Num emotivo e sentido discurso, Ana Rocha de Sousa revelou ter sido vítima de abuso sexual quando tinha apenas 17 anos. A cineasta endereçou ainda umas palavras ao alegado agressor: “Quero acreditar que passados mais de 25 anos és outra pessoa”, disse.

Ana Rocha de Sousa, de 42 anos, abordou pela primeira vez de forma pública um assunto da sua esfera pessoal. A realizadora do aclamado filme “Listen” revelou que foi vítima de abusou sexual em 1995. A também atriz tinha, na altura, 17 anos. A revelação foi feita à margem de uma cerimónia de entrega de prémios que ocorreu esta quinta-feira, 27 de maio.

Ao tomar a palavra, após ser distinguida na categoria Artes, Ana Rocha Sousa fez um poderoso discurso sobre violência sexual, no qual acabou por contar uma experiência semelhante vivenciada na primeira pessoa. “Quero partilhar convosco, sem mais demoras, e sem que mais anos se acumulem e me atropelem […]. Nem sempre fui feliz, mas quero ser. Guardo para mim uma situação que, em detalhe, não posso contar. Hoje, convosco, aqui mesmo e agora finalizo uma superação. A vida escolheu entregar-me mais essa missão. Oiçam, porque, como já todas percebemos, eu estou longe de ser a única a ter de guardar para mim seja um nome, uma verdade, os detalhes escabrosos de uma violenta reputação”, começou por dizer.

Mais à frente no discurso Ana Rocha de Sousa detalhou um pouco mais sobre a sua história. “Era tão ingénua, própria da tenra idade, que, mesmo avisada com estranheza do perigo, achei ser impossível. Hoje, falo para meninas, adolescentes, recém mulheres. O perigo não está apenas nos lugares óbvios. Protejam-se. Seja perante a casualidade do homem anónimo escondido nas dunas. Seja perante o cantor famoso que acham conhecer e parece tão seguro porque vos encantou com palavras líricas e bonitas. Foi em 1995 a história que não vos posso contar“, afirmou.

 

Ana Rocha de Sousa: “lamento ter guardado a história que tenho cravada por contar”

“Arrependo-me de muito pouco na vida, mas lamento ter guardado a história que tenho cravada por contar. A ti, menina, mulher, adolescente, eu digo: ‘ não tens culpa. Lembra-te e repete: não tens culpa’. A ti, tenho imenso para dizer que pode ajudar. Escreve, se te fizer algum sentido, o que acabo de contar”, prosseguiu, dirigindo-se a todas a vítimas que tenham sofrido deste tipo de abuso.

A cineasta fez ainda questão de dirigir-se ao alegado agressor. “A ti, assediador, violador. Sejas tu um outro, um patrão, um homem da duna ou um cantor famoso. Fui ensinada a desejar o bem. O bem te desejo. Não pretendo nunca destruir a vida de ninguém. Jamais. Quero acreditar que passados mais de 25 anos és outra pessoa. Esperemos que sejas diferente e muito melhor. Quero acreditar que deixaste de fazer uso da tua fama para assediar e aliciar teenagers para o teu universo sexual, violento, louco e promíscuo. Quero acreditar que fui a única a ser forçada a crescer bruscamente sozinha na vergonha da minha culpa. Que assim tenha sido. Oxalá que assim seja. Repito: nem sou capaz de te desejar mal. Compreendo que só uma alma muito dorida, perdida e atormentada faz o que tu sabes que me fizeste. Ouve bem: nunca mais voltes a fazer. Nunca mais voltes a fazer”, terminou.

Ana Rocha de Sousa finalizou o discurso relembrando que “somos magoados por pessoas, mas também são as pessoas que nos salvam”, concluiu a artista que recebeu uma ovação do público presente.

Texto: Alexandre Oliveira Vaz;
Fotos: Redes Sociais

 

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