Engenheiro António Moura recorda com emoção o filho Francisco Moura

Francisco Moura perdeu a vida a 20 de outubro de 2010 e passados sete anos, o pai, António Moura recorda os últimos momentos ao lado do filho.

Estivemos à conversa com o engenheiro António Moura, um aficcionado pelo hipismo e organizador de várias competições de saltos, como a Vilamoura Atlantic Tour, que nos falou das provas de hipismo que se realizam este mês na região.

Ainda assim, houve espaço para entrar no coração deste amante de cavalos e conseguimos com ele recordar o filho Francisco, que perdeu a vida num lamentável acidente no dia 20 de outubro de 2010.

WIN – De engenheiro civil a presidente do Centro Hípico de Vilamoura, o que o levou a dedicar-se ao hipismo?
António Moura – O meu pai e o meu avô eram oficiais de cavalaria portanto a partir daí nasceu o “bichinho” pelos cavalos como hobbie, assim como aos meus filhos e sobrinhos. Há duas famílias em Portugal que vão na quarta geração a fazer competição. Claro que sou engenheiro civil e foi assim que iniciei a minha vida e cheguei a trabalhar em grandes companhias de construção civil fora de Portugal e cheguei mesmo a ter a minha própria empresa, mas não há nada melhor do que trabalhar no nosso hobbie. Dediquei-me à organização de eventos hípicos e não estou nada arrependido, pelo contrário, estou muito satisfeito.

(W) O clube foi fundado entre 96-97, desde quando é presidente do clube?
(AM) O Senhor Jordan, que na altura era proprietário de Vilamoura , que me desafiou para trazer os cavalos para a cidade e em 1997 começaram os primeiros eventos nacionais e só em 1998 os primeiros internacionais. Dessa altura até agora foi sempre a crescer até chegarmos hoje, dentro do panorama equestre europeu, a sermos uma referência. No outono somos o maior circuito da Europa.

(W) Quais são para si as melhores características de um bom cavalo
(AM) Para cavalos de saltos procuramos animais que sejam calmos e que ao mesmo tempo tenham muito sangue, para poderem ser rápidos na sua batida e que sejam limpos, isto é, que não toquem nos obstáculos durante as provas.

(W) Durante os eventos existe algum tipo de exigência mais extravagante por parte da figuras públicas convidadas?
(AM) Antes pelo contrário, eles querem ser o mais discretos possível porque querem vir de férias. Os que são conhecidos querem estar à vontade. Tomemos como exemplo o senhor Amancio Ortega, em que a primeira vez que se deixou fotografar em público foi aqui em Vilamoura porque estava muito descontraído e veio ver a filha, que estava em competição. Todas as famílias conhecidas vêm pelos filhos que vão entrar na competição e acabam por ser arrastados para Vilamoura, mas num bom sentido.

(W) Após a partida do Francisco a 20 de outubro, como foi para si e para a sua esposa toda essa fase de aceitação?
(AM) Ninguém estava à espera, nem se pensava nisso nos nossos piores pesadelos, mas ao longo do tempo todo este meu trabalho tem sido com o apoio do Francisco. Foi assim que eu superei e uma das pistas chama-se Francisco Moura e todas as pistas têm o nome de um cavalo que ele tenha montado. A presença dele, que eu sinto até hoje, é que tem permitido levar para a frente um projeto que também era dele. Era vice-campeão nacional e tinha tudo para conseguir continuar a superar as expectativas. Continua presente na minha vida e tem-me ajudado imenso. Sinto que durante as competições que se fazem na pista que tem o nome dele, sempre que há um problema ele está presente para me ajudar a solucioná-lo.

(W) O Francisco tinha acabo de chegar de Marrocos. Qual era o seu estado de espírito naquele momento?
(AM) Ele veio no meio na tournée que estava a fazer porque tinha de vir a Lisboa para dar assistência a alguns dos alunos. Estava muito animado e cheio de vontade, de tal maneira que na última noite estivemos os dois a conversar sobre os resultados que ele estava a atingir e a última coisa que fizemos foi o plano do ano seguinte dos cavalos que tínhamos de vender.

(W) Como é que o mundo do hipismo reagiu à partida do Francisco?
(AM) O Francisco era uma pessoa muito especial porque conseguia agregar à sua volta desde tratadores a proprietários, uma grande amizade. Eu recebi de todo o mundo manifestações muito sentimentais, nomeadamente o senhor Amancio Ortega que o homenageou num dos eventos. Isto mostra que o Francisco já tinha uma projeção internacional muito grande, e isso é uma alegria imensa para mim.

Texto: André da Silva Carvalho Fotos: Zito Colaço

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