Bárbara Guimarães “Ouvir outra vez falar de cancro assustou-me bastante”

No livro, Bárbara Guimarães refere, sem nunca mencionar o seu nome, como Carlos Pegado, com quem tinha uma relação na altura em que enfrentou os tratamentos contra o cancro da mama, esteve sempre a seu lado e a ajudou a superar essa fase. “Nunca fui sozinha aos tratamentos. Acompanhou-me imensas vezes”, escreve. “Foi de facto um cuidador e apoiou-me imenso”, assume ainda.

No final de 2019, depois de ter sido submetida a várias sessões de quimioterapia e radioterapia para lutar contra o cancro da mama que lhe tinha sido diagnosticado um ano e meio antes, Bárbara Guimarães voltou a ficar internada. Na altura, a apresentadora da SIC contou que a hospitalização se devia a uma grave infeção. Agora, no livro Tempestade Perfeita – Como Sobrevivi à Tormenta, que lançou no Teatro Maria Matos, em Lisboa, na companhia de amigos e família, conta o que lhe disseram os médicos que a acompanharam nessa fase.
Na altura, estava debilitada e a batalhar contra os efeitos secundários provocados pelos tratamentos contra a doença oncológica. “De um momento para o outro, apareceu-me uma enorme mastite, uma inflamação do tecido mamário, que em muitos casos resulta de uma infeção e que causa dor e inchaço na mama. No meu caso, a mama ficou como uma bola, dura e encarnada. Fui tentando perceber o que era até que houve um dia em que não aguentava mais o incómodo”, escreve. 

A comunicadora, que celebra 51 anos a 21 de abril, foi de urgência para o Hospital da Luz e, depois de examinada pelo médico, ficou “logo internada”. O que ouviu a seguir deixou-a de rastos. “Não podia ser simples. Como já tinha tirado o cateter, os medicamentos para tratarem a nova infeção tinham de ser administrados diretamente na veia. Só que, para piorar a situação, as minhas veias rebentavam diariamente, bloqueavam quando tentavam injetar o medicamento. Fiquei toda furada. O maior problema foi que os médicos não tinham certeza do que estava a causar a mastite. Recebi antibióticos, atrás de antibióticos e nada de melhoras. Ninguém sabia o que eu tinha”, explica. “Decidiram então fazer uma PET, uma tomografia por emissão de positrões, que possibilita distinguir lesões benignas e malignas. (…) Fui picada nas costas com a maior agulha que alguma vez tinha visto. Uma facada que ia retirar diretamente líquido ao pulmão para se fazer a análise. Chegou o resultado e os médicos foram diretamente ao meu quarto para mo comunicarem”, recorda Bárbara Guimarães, adiantando que “estavam em cima da mesa as piores hipóteses”.Explicaram-me que poderia ser um linfoma ou um cancro do pulmão. Fiquei chocada. As únicas palavras que consegui proferir foram: ‘Como disse?’ Seria possível que o destino estivesse a passar-me mais uma rasteira? Foi uma daquelas ocasiões em que só pensamos ‘isto não está a acontecer.’ Mas estava. Perceber que os médicos não sabiam o que eu tinha foi das fases mais terríveis desta jornada. (…) Ouvir outra vez falar de cancro, e das terríveis perspetivas que me colocavam, assustou-me bastante. Tanto que tive de tomar medidas”, prossegue. Pensou, nesse momento, nos filhos, Dinis e Carlota, frutos do casamento entretanto terminado com Manuel Maria Carrilho – que a apresentadora acusou e que foi condenado por violência doméstica. “Tenho uma grande amiga procuradora da República, a Megue, a quem coloquei uma questão que me preocupava: se eu morresse, o que é que aconteceria aos meus filhos? A Megue foi clara e precisa: ‘Segundo a lei, a primeira pessoa a entrar na tua casa é o tutor, ou seja, o pai dos teus filhos’.”

Bárbara Guimarães “desconhecia esse facto e quis saber o que poderia fazer perante essa situação”. A resposta foi “um testamento”. “Sentada na cama do hospital assinei um testamento. Assumi que o fim poderia estar próximo e que não ia ser apanhada desprevenida. Deslocou-se ao quarto onde estava internada uma testamentária, duas testemunhas e decidi quem iria ficar a gerir os meus bens e a fazer cumprir os meus desejos caso eu morresse. Tinha de ser pragmática. Resolver tudo. Não deixar para amanhã. Porque senti que podia não existir um amanhã”, lembra.

O diagnóstico de que se tratava de uma infeção veio mais tarde. “Foi já em casa, com os resultados dos novos exames, que se percebeu que tinha uma bactéria instalada. Para resolver esse problema, bastava a medicação via oral. Os resultados indicaram que tinha uma bactéria chamada Stafhylococcus aureus. O meu novo passageiro clandestino, mais um do qual tinha de livrar-me”, lê-se em Tempestade Perfeita – Como Sobrevivi à Tormenta. “Nunca terminamos a batalha. Temos sempre mais exames. Aprendemos a viver dessa forma. Há sequelas da quimioterapia. Por exemplo, tenho de vigiar o meu coração. Fiz 50 anos e passei por uma menopausa precoce anos antes. No fundo, parece que tudo envelheceu mais cedo. Lembro-me de que não descansei enquanto não fiz outra PET. E em 2023 repeti esse exame. O que se percebeu nessa PET é que as minhas articulações não estão grande coisa, por assim dizer. Mas o mais importante é que não havia qualquer motivo para alarme. Nada fora do sítio. Não havia passageiros escondidos. Isso foi um grande alívio. Vivo o dia a dia com tranquilidade, não em sobressalto e com receio”, termina.

Texto: Ana Filipe silveira; Fotos: Carlos Mendes

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