Carla Vasconcelos “A sociedade tolera muito mais os disparates dos homens”

A atriz e humorista garante que não deixa que as opiniões alheias a impeçam de fazer o que lhe apetece. Porém, admite que a vida em sociedade é mais difícil para as mulheres.

Numa fase em que encara a vida de uma forma muito tranquila, Carla Vasconcelos garante que, atualmente, nada a impede “de fazer o que quer que seja”. A artista esteve à conversa com a NOVA GENTE, no âmbito do dia do Preconceito Zero, que se realiza no dia 1 de março, e falou abertamente sobre a forma como lida com os estereótipos nos dias de hoje, e sobre o papel que as mulheres ocupam no humor e na sociedade.

Aos 52 anos, a humorista garante que não está “minimamente preocupada” com as críticas ou preconceitos que possam haver sobre si. “Para mim nada é impeditivo de fazer o que for. Quem gosta, gosta. Quem não gosta, paciência. Os conceitos que cada um tem na cabeça, que os guarde. Estou focada é em trabalhar, viver a minha vida, e ser feliz com os meus”, contou.

A atriz acredita que esta forma de lidar apareceu com a idade e maturidade: “Começas a deixar de dar a importância a imensa coisa. Começas a perceber que já viveste mais do que o tempo que tens de vida, e queres aproveitar bem o tempo em que cá estás. O mundo vai continuar a andar quando morrermos, por isso não podemos dar muita importância a certas coisas”.

Para tal, Carla rodeou-se na sua “bolha” de pessoas, e concentra-se nos temas que considera verdadeiramente importantes. “Vivo no meu num círculo íntimo, longe de preconceitos. Estou muito cansada que não se dê voz ao que se devia. Temos problemas tão graves para resolver dentro do nosso país, no Sistema Nacional de Saúde, na Educação, na Cultura, e isso preocupa-me. Preocupa-me o bem-estar de pessoas. Já passaram 50 anos desde o 25 de abril e há tanta coisa que já devia noutro patamar e que ainda não está”.

“Sou uma pessoa com muita sorte”

Nas várias áreas da sua vida, considera-se uma mulher feliz e realizada. “Sou uma pessoa com muita sorte, tenho participado em vários projetos, por ser atriz, ser uma mulher livre, mesmo não sendo o estereótipo da beleza que a sociedade nos impinge. Estou feliz no meu cantinho”, garantiu. A atriz acredita que “pode e deve-se ser feliz”, mas sempre com a “consciência de que o que temos e adquirimos ao longo da vida é um privilegio”.

Privilégio este que nem toda a gente o tem. A atriz revela que, tanto no humor como no dia-a-dia o papel de mulher é difícil. “As mulheres só são maiorias como mães, porque de resto não o somos. Enquanto tivermos de continuar a falar de igualde na sociedade entre homens e mulheres, está tudo dito. A igualdade, nos dias de hoje, nem deveria precisar de ser um tema”, disse.

No mundo do humor, que sempre foi muito dominado por homens, conquistar um lugar pode ser difícil. “Há mulheres que continuam a esbracejar para ter o seu lugar. A sociedade tolera muito mais os disparates dos homens do que das mulheres. Um homem tem sempre muita graça, se for uma mulher é considerada ridícula”, afirmou.

Segundo a artista, “a sociedade está como está graças aos media e redes sociais. As pessoas são inundadas por mensagens de perfeição”. Enquanto olharmos para as pessoas cheias de rótulos, e não enquanto pessoas, não vamos a lado nenhum. Vivam e deixem viver, as oportunidades deviam ser iguais a todas as pessoas”, finalizou.

Texto: Luís Duarte Sousa; Fotos: Impala

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