João Moleira “Desde a morte do meu pai, passei a dizer ‘amo-te’ a toda a gente”

Há 25 anos que o vemos, engravatado e sério, na condução de jornais televisivos. Nesta entrevista falamos de jornalismo e de trabalho, claro, mas sobretudo de emoções. E de como foi crescer reservado, mas assertivo, numa família que cultivava a proximidade mas não a intimidade. Aos 47 anos, João Moleira explica por que razão já quis ser pai e agora não.

Tens tempo para as relações pessoais?

Para quem é importante para nós, arranja-se sempre. O meu trabalho é uma parte muito importante da minha vida, mas não quer dizer que é a mais importante, porque tenho outra que é a minha família e os meus amigos próximos fazem parte dessa família.

Nos 25 anos de SIC que estás a comemorar, tiveste quase sempre horários contracorrente, de madrugada, quando a maior parte das pessoas ainda dorme. E tu levantavas-te às três da manhã. Tem-se vida?

[sorriso] É uma questão de disciplina, como em tudo. Se eu tenho um compromisso àquela hora, é àquela hora, não é outra. Eu adapto-me facilmente a rotinas. Ao longo destes 25 anos, nunca fui bater à porta de um diretor, a dizer “Eu quero sair da Edição da Manhã” [pausa]. Eu gosto efetivamente daquele espaço, daquele produto e daquele compromisso de trabalhar desde o zero. Depois, a minha vida pessoal encaixou muito facilmente com outros desafios profissionais fora da SIC que posso ter durante o resto do dia.

Alguma vez imaginaste que estarias há 25 anos na mesma empresa?

Não. No dia 28 de junho do ano 2000, quando aqui cheguei, não imaginei que ia viver aqui 25 anos da minha vida profissional.

Eras um puto.

Éramos todos, Nuno, éramos todos [gargalhada]. Tinha 21 anos na altura. Tinha feito o CNL com a Marta, com o Nuno Santos, com o Guilherme Simões, que está aqui também, e outros colegas que, entretanto, seguiram outros rumos. Quando a SIC compra o CNL, houve um grupo restrito que foi convidado a fazer parte da fundação da SIC Notícias, e eu vim nesse grupo.

Presumo que a tua mãe tenha ainda recortes das tuas estreias. Ela deve ter ainda fotocopiado o teu primeiro artigo na Imprensa, como a minha também tem. Deve ter também, se calhar, ainda presente a tua estreia televisiva.

Sim, seguramente. A memória dela já não é a mesma, mas sim. Tem lá recortes dos primeiros artigos que eu escrevi na Imprensa.

Que pais foram eles?

[sorriso brilhante] Foram os melhores que eu poderia ter tido, e que tenho ainda, no caso da minha mãe. Foram pais que, como muitas outras famílias, vieram do Alentejo pobre nos anos 60 e que se instalaram nos arredores de Lisboa, à procura de constituir uma família.

A morte do teu pai é um buraco que não sara?

[longa pausa] Não te sei dizer de forma clara isso. Eu penso muito no meu pai [volta a fazer uma pausa. Não foge ao tema, mas percebe-se o desconforto].

Morreu há oito anos.

Era uma parte muito importante da nossa família, embora eu nem sempre tenha percebido isso. Acho que é normal, tem a ver com a idade. Nos seus anos finais, quando começo a cuidar dele, é que eu percebo a ligação forte que tínhamos.

Porque o lado de cuidador, às vezes, interpela-nos nessa coisa mais óbvia, que é: “Se calhar, andámos aqui a perder algum tempo”.

[pausa] Sim, mas nem foi perder. Nunca nos demos mal, mas eu nunca disse ao meu pai “Amo-te”. Desde a morte dele, passei a dizê-lo a toda a gente.

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Texto: Nuno azinheira; Fotos: HELENA MORAIS

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