Jornalista divulga episódio de assédio sexual e revela nome do agressor

Joana Emídio Marques relatou o seu episódio de assédio sexual em 2012, quando trabalhava no “Jornal de Notícias”. A jornalista também deu a conhecer publicamente o nome do agressor nesta sexta-feira, dia 30 de abril.

Joana Emídio Marques fez uma revelação inédita nas redes sociais nesta sexta-feira, dia 30 de abril. Depois de Sofia Arruda ter divulgado o seu episódio aterrador no “Alta Definição“, da SIC, várias figuras públicas e outras caras conhecidas do panorama televisivo seguiram o mesmo exemplo. A jornalista foi assediada em 2012 por um superior hierárquico, durante a altura em que trabalhou no “Jornal de Notícias”. Manuel Alberto Valente poderá ter sido o autor do crime.

Através de um desabafo na sua página do Facebook, Joana relatou o seu caso. Tudo aconteceu depois de um convite para um jantar de trabalho. “No ano de 2012 começou a correr a notícia de que a Porto Editora ia comprar a mais importante chancela de poesia a Assírio e Alvim, cujo catálogo tinha nomes como Herberto Helder. Para quem está fora do meio literário isto pode não significar nada. Para quem trabalha no meio era uma cacha (um furo jornalístico) e eu queria-o para mim. Era “amiga” no Facebook do editor e homem forte da Porto Editora, que já então me enviava mensagens ‘pseudo-sexutoras‘ (não é erro, inventei esta palavra). Aceitei jantar com ele para falarmos da compra da Assírio”, começou por escrever.

“Não é por acaso, ele marcou o jantar num fim de semana em que a sua mulher estava num festival literário no México. Mas esta ligação eu só fiz muito depois. Fomos a um restaurante (caro) ali ao fundo da rua do Alecrim, um que serve sushi. Ele, cavalheiro a ajudar-me a despir o casaco, a puxar a cadeira para eu me sentar. Estava eu a ficar bem impressionada, quando ele tira do bolso uma caixinha de comprimidos que espalhou na palma da mão e aproximou do meu rosto e lançou: estás a ver? Não tenho aqui nenhum comprido azul“, continuou.

«Logo a tratar-me por tu e a insultar-me de forma velada»

“Eu, que acabara de conhecer o homem e não queria parecer burra, forcei o meu cérebro a tentar entender a ‘piada‘, mas não consegui. ‘Oh’, soltou ele, ‘não te faças de sonsa‘. Assim, logo a tratar-me por tu e a insultar-me de forma velada. Nesse momento eu entendi (se nasces mulher aprendes cedo a descodificar alusões sexuais): o homem estava a mostrar-me, a dizer-me que não tomava viagra. E aquilo que era para mim um jantar de trabalho tornou-se logo ali uma humilhação”, confessou.

E foi um pouco mais à frente no relato que a jornalista referiu, pela primeira vez, o nome do alegado agressor. “Como fazia sempre, tinha deixado o meu carro estacionado na Rodrigues Sampaio, junto à porta do Diário de Notícias. Ele ofereceu-se para me dar boleia até lá. Aceitei. Erro meu. Quando parou o carro e ia dar-lhe os tradicionais dois beijos de despedida, o Manuel Alberto Valente ainda achou por bem começar a tentar beijar-me na boca, com uma descontração que mostrava que ele deve ter feito isto centenas de vezes”.

“Eu afastei-me e sai do carro. Em silêncio chamei-o de velho porco, em silêncio humilhado chorei até Setúbal. Contei isto a vários amigos, mas não mais. Queixei-me ao (na altura) assessor de imprensa da Porto Editora, Rui Couceiro, que reconheceu ‘haver esse problema‘, como quem aceita que pode chover num dia de sol”, atirou.

«Tenho mais», alerta Joana Emídio Marques

Joana Emídio Marques terminou o relato pormenorizado afirmando que tem conhecimento de muitos mais casos de assédio. “Se fores mulher, ser tratada sem vergonha nem respeito, é apenas mais um dia normal na tua vida. O Manuel Alberto Valente, acabou no final do ano passado por ser afastado da Porto Editora. Hoje em dia é cronista do Expresso. Colega do Henrique Raposo que veio a público pedir às mulheres que digam nomes. Aqui está um nome, caro Henrique. E tenho mais. Mas talvez não dê jeito ouvir”, rematou a jornalista.

Texto: Carolina Sousa; Fotos: Impala e redes sociais

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