José Cid Assume paixão por Amália, mas confessa: “Ela não me tratava bem”

“Deixava-me triste”, garante José Cid sobre o tratamento que recebia de Amália Rodrigues, de quem era fã. Ainda assim, garante, não se deixava intimidar.

É monárquico assumido, mas não antirrepublicano. Ao podcast Posto Emissor, da Blitz, José Cid abordou a crise política e atacou as ideologias extremistas, nomeadamente as de André Ventura. “Este espertalhão que está no Chega aproveita todos os erros do sistema democrático português para convencer o português médio que tem razão.” O cantor não tem mesmo qualquer problema em dizer que, caso o Chega venha a vencer, poderá existir um novo 25 de Abril. “Estes novos sistemas de pessoas de extrema-direita, que não respeitam os direitos humanos, não são aquilo de que nós precisamos para uma humanidade mais justa e melhor”, referiu, acrescentando: “Se eles ganharem, se se portarem mal, faz-se uma nova revolução”.

Sem papas na língua, como é conhecido, o artista, que se prepara para atuar na inauguração da Rock Station, nova sala de espetáculos de Lisboa, marcada para 6 de janeiro de 2024, falou de algo recorrente que já o tira do sério: a comparação com Elton John. “Dizem-me ‘tu és o Elton John português’ só porque uso óculos, porque sou cego de uma vista e toco piano. Devo dizer que toco piano muito menos que o Elton, mas a cantar sou de outro campeonato vocal. E não esquecer que eu sou poeta, eu escrevo 80 por cento das minhas letras. O Elton John tem um poeta a escrever para ele”, argumentou, porém fazendo questão de elogiar o músico inglês: “Tem imenso valor, é fantástico, extraordinário”. Questionado se foi ver a sua despedida em algum concerto, respondeu, perentoriamente: “Não. Pessoas sem saldo vocal eu já não vou ver.”

Com quase 82 anos de vida, o músico e compositor continua a encher recintos com fãs de todas as gerações. Um feito que não é para todos: “Não paro, a minha ideia é continuar a gravar, a produzir novos projetos, gente nova, e essa longevidade consegue-se com muita perseverança, algum sofrimento gastronómico, não fumando… Porque vejo os cantores de 80 anos lá fora e estão muito atrapalhados, já não são aquilo que eram. O Bob Dylan está a fazer uma digressão mundial com uma única corda vocal e de platina. É patético. Eu não faria nunca”, confessou. 

O tema da inimizade com Amália Rodrigues também foi abordado. “Eu tinha uma paixão artística muito grande pela Amália (…) [ela] nunca dizia: ‘Olá, Zé, como é que estás?’ Dizia: ‘Olhe…’ E eu ficava… Ela achava que me intimidava, mas não, porque eu sou um poeta. (…) Ela não me tratava bem. Isso deixava-me triste.”

Texto: NEUZA GOMES; Fotos: impala

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