Manuel Moura Dos Santos “Houve momentos em que pisei o risco, mas ‘Ídolos’ pedia isso”
Rosto fechado, gargalhada difícil, duro e acutilante. Foi essa a imagem que construiu, também porque o Ídolos, onde se estreou em 2003, pedia essa personagem. Não parece ser um galhofeiro, mas é muito mais do que o tipo dos talent shows. E esta entrevista, mais intimista do que seria de supor, prova bem as diversas camadas deste ribatejano apaixonado por África.
Que talento tens que os leitores desconhecem?
Talento artístico, nenhum. Se o tivesse, era artista ou teria sido candidato a isso. Talvez, como trabalho há muitos anos na indústria musical, o meu talento seja educar um bocadinho o ouvido. Se pensar bem nos artistas com quem trabalhei, ouvi coisas que, por norma, um ouvinte comum não ouve. Quando se está há 18 anos com o Rui Veloso, 20 com os Ala dos Namorados e 17 com o Jorge Palma, a gente vai aprendendo coisas. Mas, confesso-te, quando comecei a fazer o Ídolos há 22 anos, pensei: “O que é que eu vou para ali fazer?”
Assustou-te na altura?
Não direi que me assustou. Conhecia o formato, mas nunca o tinha visto. Nem tinha talento, só nas coisas da vida comum das pessoas.
Estás bastante mais magro.
Sim. Já pesei 110 quilos e hoje peso 85.
E interiormente, sentes que estás diferente? Na forma, por exemplo, como exteriorizas as tuas emoções?
À medida que vamos envelhecendo, vamos adquirindo algum conhecimento. Hoje não olho para as coisas como olhava aos 20 anos, como é óbvio. Tenho mais bagagem, pode não ser muita mais, mas tenho. E, normalmente, tenho tendência para olhar e tentar perceber o que é que está por trás. Aquilo que está à minha frente, muitas vezes, não quer dizer nada, mas há qualquer coisa que está por trás que quer dizer qualquer coisa ou quer dizer mesmo muito.
Mas hoje, vinte e tal anos depois, reconheces que pisaste o risco em muitos momentos na forma como falaste com concorrentes do Ídolos?
[pausa] Houve momentos em que pisei o risco, mas o formato pedia isso.
Se tivesses aqui um botão, daqueles vermelhos dos talent shows, que quando carregasses tivesses o poder de, durante um minuto, voltares a um momento da tua vida, onde é que gostarias de voltar?
Ainda bem que esse botão não existe, porque nunca carregaria nele. Não queria voltar a nada e não tenho arrependimentos daqueles que penso que gostaria de voltar atrás para arranjar.
Nem para reveres alguém?
Nesse sentido, ressuscitava a minha mãe e os meus dois irmãos [pausa]. Mas fora isso, se tivesse um botão para voltar atrás, não apagava nada. Houve momentos mais felizes, menos felizes, mas é a vida. Foi o que foi, foram as decisões que foram tomadas e, portanto, não voltaria atrás. Não tenho arrependimentos de ter cometido erros ou atrocidades.
Leia esta matéria na íntegra na sua NOVA GENTE desta semana. Já nas bancas.
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