O Amor Acontece. Ex-concorrente vítima de bullying e fortes agressões
Paulo Válter, ex-concorrente de “O Amor Acontece” abriu o coração a Manuel Luís Goucha no vespertino da TVI. O jovem contou ter sido vítima de bullying, bem como, alvo de várias agressões físicas. Conheça a sua história.
Paulo Válter ficou conhecido pela sua participação no “O Amor Acontece”, da TVI, e marcou presença no programa “Goucha” desta sexta-feira, 27 de agosto. O jovem, de 23 anos, abriu o seu coração a Manuel Luís Goucha e recordou o bullying que sofreu às mãos de dois colegas de turma durante dois anos. Sem tabus, o ex-concorrente do reality show revelou que foi alvo de agressões físicas e psicológicas, tendo terminado este ciclo de violência quase atingindo a anorexia.
Vivida uma infância feliz, a situação complicou-se “bastante” na adolescência. “Tinha 14 anos” e estava a frequentar o sétimo ano de escolaridade quando “entraram na sua turma dois rapazes repetentes”. “Primeiro, fizeram-se de meus amigos. Depois, começaram a tratar-me mal, com agressões verbais”, disse.
“Gordo”, “feio”, “paneleiro”, “não prestas para nada” e “ninguém te quer” eram alguns insultos de que era alvo. Sobre o primeiro: disse: “Eu era muito gordinho, mas sentia-me bem como era. Comia muito, era de bom garfo. Sempre amei a forma como era, mas, no momento em que essas pessoas se cruzaram na minha vida, mudou por completo”, admitiu, acrescentando: “Não me achava feio, mas, quando essas pessoas apareceram e trataram-me assim, senti-me mal.”
«Se fizeres queixa, fazemos-te pior»
A Manuel Luís Goucha, o ex-participante de “O Amor Acontece” relatou alguns episódios de bullying pelos quais passou. “Eles usavam-me para fazer rir os outros. Eu era quase um objeto, era o bobo da festa. Sempre aprendi a ignorar. Tinha de ser forte. Mas depois passou a haver violência física. Chegaram a agredir-me num balneário. Tinha acabado de fazer uma aula de Educação Física. Eles puseram o meu saco da roupa debaixo do chuveiro. Quando cheguei, tinha a roupa completamente molhada. Eles molharam as toalhas e agrediram-me com elas nas costas. Não fiquei com marcas [porque as toalhas estavam molhadas], mas fiquei com marcas aqui dentro”, disse, apontando para o coração.
Paulo Válter não partilhava com ninguém o drama pelo qual estava a passar, até porque ela alvo de ameaças: “Se fizeres queixa, fazemos-te pior”. “Guardei sempre para dentro. Não queria preocupar a minha família. Comecei a refugiar-me de toda a gente, longe de tudo. Já não acreditava em ninguém, porque eu via as pessoas a rirem-se de mim. Eu via aquelas duas pessoas a humilharem-me e via as outras pessoas a ver o sofrimento de uma outra pessoa como algo maravilhoso”.
O ex-participante do reality show da TVI acabou por refugiar-se no quarto. Com uma grande ligação à fé, “só pedia força para mim” a Deus, disse. As agressões acabaram por refletir-se no rendimento escolar. “Fugia muito da escola. Dizia à minha mãe que estava doente e que não queria ir. Faltava às aulas porque tinha mesmo muito medo daquilo que eles me podiam fazer. Costumo dizer que, para mim, a escola era um campo de batalha, em que eu tinha de ser forte.”
«Cuspiram-me, bateram-me e eu só lhes pedia: ‘Deixem-me em paz’»
O pesadelo durou dois anos e o jovem mal sabia que o pior estaria para vir. “Posso dizer que o meu nono ano foi o pior de tudo. Não aguentei mais aquilo que eles me fizeram. Eu controlava horários dos autocarros para não apanhar os mesmos do que eles. Porque eles, dentro dos autocarros, batiam com a minha cabeça no vidro, puxavam-me as orelhas… Faziam-me muito mal. Cheguei a esconder-me dentro de uma casa de banho nos intervalos para dar tempo para entrar na aula. Fingia que estava ao telemóvel com a minha mãe ou o meu pai para eles não me fazerem mal”, recordou Paulo Válter.
Mas essas táticas nem sempre funcionaram. “Num dia de Educação Física, eles juntaram a turma toda e iam fazer quase uma festa para me humilharem em frente a todos. Estavam para aí uns dez. Puxaram-me pela escada, levaram-me para uma rua sem saída, partiram tudo o que tinha dentro da minha mala, puseram-me de joelhos, sem calças e sem camisola, cuspiram-me, bateram-me e eu só lhes pedia: ‘Deixem-me em paz, por favor. Que mal é que vos fiz?'”, lembrou.
O ex-participante de “O Amor Acontece” foi abandonado por todos. “Bateram-me, deixaram-me lá sozinho e foram para dentro da sala, todos a rirem-se. Custou-me muito apanhar as minhas coisas e colocá-las dentro da mala, vestir a minha roupa e colocar um sorriso na cara para ir para a aula”, disse, admitindo que “aqueles cinco minutos” o “colocaram no fundo”.
«Eu já estava quase numa anorexia»
O ponto final no bullying foi dado com um pedido de desculpas. “Um deles pediu-me desculpa a rir-se. O outro pediu desculpa de forma normal. Eu estava na cantina quando me pediram desculpa. Peguei num copo e disse: ‘Este copo sou eu, são os meus sentimentos’. Parti o copo e disse: ‘Isto é como eu fiquei, em cacos, destruído’.”
Paulo Válter perdoou os agressores “para poder ficar bem” com ele próprio. “Quero que eles sejam muito felizes”, chegou mesmo a dizer, em conversa com Manuel Luís Goucha, defendendo que “nenhuma criança merece passar” por aquilo por que passou. “É uma coisa que ainda me marca muito.” No seguimento destes episódios de bullying, o nortenho recorreu à ajuda de uma psicóloga. “Chorei muito, desabafei lá tudo”, disse. Mas um novo pesadelo estaria para vir. Para travar a luta contra o peso, o jovem começou a treinar entre duas a três vezes por dia, em busca do corpo perfeito.
“Num ano, de 95 quilos passei para 56. Comecei quase a deixar de comer. Cheguei a um excesso. Achava que estava sempre gordo. Cheguei a estar com 60 quilos e a achar que estava gordo”, admite, assumindo que esta luta contra o peso se tornou numa “obsessão”. “Cheguei a um ponto em que eu olhava ao espelho e dizia ‘Eu já não estou bem’. Eu queria emagrecer, mas já estava quase numa anorexia”, afirmou. A ajuda da psicóloga revelou-se fundamental para encontrar o equilíbrio.
Texto: Dúlio Silva; Fotos: Divulgação TVI e reprodução redes sociais
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