O relato desesperado de um médico: “Nunca assisti a tantas mortes”
Ricardo Baptista Leite está na linha da frente da pandemia de covid-19 e faz apelo ao Governo e a toda a população. Vídeo está a tornar-se viral.
Ricardo Baptista Leite é médico infecciologista e deixou um apelo desesperado nas redes sociais devido à covid-19. Através de um vídeo que se está a tornar viral, o clínico relatou o desespero que ele e os colegas têm vivido no Hospital de Cascais, devido ao brutal aumento de casos que se tem verificado nos últimos dias.
O médico pede ajuda ao Governo e a toda a população para evitar o agravamento da pandemia. “Nunca assisti a tantas mortes num tão curto espaço de tempo como no dia de ontem [sábado, 16 de janeiro].
“Não aguentamos este ritmo”
Ricardo Baptista Leite fala da experiência que tem vivido. “Ontem estive, como tenho estado desde o inicio da pandemia, no Serviço de Urgência do Hospital de Cascais, mais especificamente no Covidário, onde tratamos de doentes de covid-19 e suspeitos”, começou por dizer.
“Tenho que vos dizer que nunca assisti a tantas mortes num tão curto espaço de tempo como no dia de ontem [sábado, 16 de janeiro]. É, de facto, demolidor ver médicos a terem que decidir quem são os doentes que vão ter acesso a ventilação e quem não vai, determinar quem vive e quem morre, porque não há camas de Intensivos, escasseiam vagas de internamento”, explicou, sublinhando o desespero dos médicos: “Muitas vezes temos de entubar os doentes em pleno serviço de urgência, ver os colegas exaustos, muitos a chorar, por não aguentarem mais.”
O infecciologista garante que o Serviço Nacional de Saúde está num ponto limite. “Não aguentamos este ritmo e isto é apenas uma amostra do que se está a passar no país. Compreendam que estamos a falar de vidas humanas, mortes que podem ser evitadas”, afirmou, dizendo ainda que a situação ainda vai piorar: “Depende de cada um de nós ficar em casa, mas este confinamento não está funcionar. Nós sabemos que o número de casos vai aumentar até ao final do mês, mas, se continuarmos assim, o número de casos vai continuar em níveis demasiado elevados em fevereiro”.
“Temos de esmagar a curva de novas infeções e, para isso, não podemos esperar 15 dias. É fundamental aumentar o confinamento já, por três semanas, fazer um confinamento como fizemos em março. Fechar as escolas, garantir que os pais tenham remuneração para poderem ficar em casa, dar os apoios às empresas para passarem as pessoas para teletrabalho e parar os serviços não essenciais”, disse, num apelo ao Governo. “Nós temos de reforçar os meios de saúde, tudo o que seja hospital de campanha, recursos humanos que estejam disponíveis.”
“Este é o momento em que tem de estar tudo mobilizado para diminuirmos o impacto disto. E temos que aumentar brutalmente a testagem e ter uma política agressiva de identificação, isolamento e testagem de todos os infetados e suspeitos, caso contrário, quando acabar este confinamento, vão subir os casos outra vez. Não podemos andar de confinamento em confinamento. Podemos todos fazer a nossa parte. Comecemos hoje com urgência, para salvar vidas. Por favor”, terminou o médico.
Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução redes sociais
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