Regresso à normalidade: Psicóloga deixa 5 estratégias para ajudar os jovens
A pandemia de Covid-19 veio alterar a vida dos portugueses e são muitos os jovens que terão de se adaptar à nova normalidade. A psicóloga Marta Dias deixa alguns conselhos aos pais.
Nos últimos meses, o mundo e a vida de todos nós, sofreu um conjunto de mudanças que nunca pensámos enfrentar e que vão deixar marcas significativas nos nossos modos de viver. Após diversas semanas de confinamento, regressamos agora, a algumas das nossas rotinas e atividades habituais, que implicam um conjunto de exigências, principalmente sobre os pais, pois gerir a adaptação dos filhos a esta nova realidade pode constituir um desafio. Perante o regresso à normalidade, o presente texto procura identificar algumas dificuldades manifestadas pelas crianças e jovens e recomendar um conjunto de estratégias, que promovam o seu bem-estar psicológico.
É importante que os pais possam ter em conta que os filhos podem manifestar:
Resistência em voltar à normalidade
Causa: resulta da tomada de consciência dos aspetos positivos que ocorreram durante o isolamento e que agora se podem perder, nomeadamente, o tempo em família, o tempo de lazer, a maior flexibilidade em termos de horários, entre outros.
Estratégias: Elaborar um plano familiar de desconfinamento que contenha as novas adaptações; identificar atividades e tarefas a serem realizadas fora de casa por parte de todos os elementos da família, permitindo um maior contacto com a realidade atual; Refletir em conjunto com os filhos sobre os aspetos positivos do regresso à normalidade, tais como: voltar a sair de casa, contacto com o meio ambiente, reencontro de amigos e colegas e outas pessoas de referência.
Recusa em voltar à escola
Causa: sensação de falta de segurança nas medidas de proteção implementadas, dificuldade em adaptarem-se às novas regras da escola, completamente diferentes das habituais e resistência em voltarem os horários e rotinas habituais, que envolvem maior empenho e exigência.
Estratégias: Antecipar como será o regresso à escola, através da criação de diferentes cenários situações e respetivas emoções/sentimentos que poderão surgir; Transmitir aos filhos confiança na escola, na implementação das medidas e nas ações que foram tomadas e pensadas para que a sua proteção e segurança seja garantida, tornando-se menos difícil enfrentar receios que possam surgir.
Ansiedade de separação
Causa: após um período prolongado de contacto exclusivo com os pais e principais cuidadores a vivência da separação no regresso à normalidade poderá ser um fator de ansiedade para pais e filhos.
Estratégias: Realizar “treinos de separação”, em que deverá explicar à criança/jovem que irá estar noutra divisão da casa por alguns minutos; depois por algumas horas e assim sucessivamente, reforçando que a separação se trata de algo temporário e que há sempre o regresso a casa; Manter rotinas que gerem segurança e tranquilidade, sobretudo no que diz respeito à hora de adormecer.
Dificuldade em ocupar o tempo
Causa: para as crianças e jovens que continuam com o ensino online e que passam mais tempo em casa, poderá ser difícil manterem-se ocupadas. Por esse motivo, podem surgir momentos de maior frustração e agitação ou, por outro lado, apatia e falta de motivação.
Estratégias: Elaborar um plano semanal ou diário, que contenha um conjunto de atividades para as crianças e jovens: momentos de estudo, lazer, atividades em família e atividades novas, de forma a promover o quotidiano dos seus filhos com limites e ocupações, mesmo sem a sua presença; Procurar programas de voluntariado jovem de verão (as câmaras municipais disponibilizam), cursos online que vão ao encontro de interesses manifestados, atividades desportivas (escolas de surf nas praias ou associações desportivas) ou escuteiros.
Medo e preocupação
Causa: estes sentimentos podem ser mais contagiosos do que o vírus, na medida em que, se forem excessivos, deixam de ter a função de proteção que é esperada.
Por isso, é fundamental aplicar um conjunto de estratégias que permitam regular a ansiedade e combater o medo exagerado face ao vírus:
1. Reenquadrar as exigências da nova realidade: a COVID-19 não desapareceu, mas é necessário que as crianças e jovens aprendam que é possível viver com ela, cumprindo todas as recomendações.
2. Reorganizar: planear como e quais as tarefas e atividades que serão para manter ou adaptar, bem como as novas tarefas e procedimentos que terão de incluir na nova rotina.
3. Recomeçar: o medo pode ainda estar presente, por esta fase representar também um desafio e incerteza. No entanto há que promover as adaptações das crianças e jovens, através da reorganização, reenquadramento e motivação.
Equilibrar de forma gradual o regresso à normalidade e ao mesmo tempo reenquadrar os aspetos positivos do confinamento neste regresso, vai promover um maior bem-estar, segurança e confiança no retorno ao quotidiano.
Estas são apenas algumas estratégias que podem ser implementadas junto das crianças e jovens. Termos consciência de que não estamos sozinhos, vai ajudar-nos, em conjunto, a enfrentar estes novos obstáculos. Sabendo, porém, que só ao cuidarmos de nós, poderemos cuidar dos outros. Estamos juntos.
Para mais informações, consulte:
Marta Dias, psicóloga
https://www.psicologiaclinicanalinha.com
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