Rui Luís Brás emociona-se ao falar do filho adotivo

O ator não conteve as lágrimas ao falar do menino que adotou quando este tinha 12 anos. «É impossível apagar certas coisas que o incomodarão para o resto da vida», disse sobre a vida difícil que o filho teve anteriormente.

Em 2016, Rui Luís Brás adotou um menino de 12 anos. Refere-se a ele como «o melhor presente» que a vida lhe deu e, numa conversa emotiva em que fala deste processo e das mudanças que tem visto no filho, o ator não conteve as lágrimas.

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Vem aí o Natal. O Natal ganhou um novo significado há três anos?
[Sorri] Completamente. Sabe que ainda não tivemos oportunidade de passar o dia de Natal cá? Optei sempre por ir de férias com ele, sair daqui, mostrar-lhe um bocadinho do Mundo e das coisas de que gosto e, portanto, ainda não tive aquela sequência de estar em casa, a fazer o Natal na altura certa. Fazemos sempre em janeiro.

Mas há pinheiro na mesma?
Há tudo! Tudo igual! Mas em janeiro. Normalmente no Dia de Reis. Mas, este ano, vai ser o primeiro Natal em casa.

Já passou a fase de adaptação ou essa fase vai existir sempre?
Esta fase vai existir sempre. Adaptação no sentido de um ao outro, não. Adaptação dele ao mundo, à segurança, àquilo que a estabilidade lhe trouxe, ao amor. Acho que está tudo muito bem, mas, obviamente, há aqui um passado muito pesado, com o qual ele vai ter de lidar a vida toda.

Foi um presente que a vida lhe deu?
Foi o maior presente que… [emociona-se] eu já tive na vida [pausa].

Porque é que se emocionou?
[Sorri] Porque foi uma coisa que eu quis desde os meus 18 anos.

A adoção?
Sim, a adoção. Acho que o Mundo está cheio de gente. Gente a mais, sozinha e abandonada. E, portanto, pôr mais um numa altura em que, até em termos ambientais, quanto menos seres humanos houvesse, mais possibilidade o planeta tinha de se auto-superar. Mas já nessa altura tinha essa consciência: ‘Para quê mais um se há crianças que precisam de pais?’. É evidente que um filho biológico podia ter acontecido.

Embora não tenha outro termo de comparação, acha que se ama de outra forma?
Não sei se é uma outra forma de amar, porque, como disse, não tenho termo de comparação, mas é a coisa mais forte que já vivi em toda a minha vida. Não acho que haja possibilidade de amar de outra forma. Eu, na minha santa inocência, acho que se ama mais assim.

Isso é muito curioso.
[Com a voz novamente embargada] Ama-se mais no sentido em que se tem alguém que precisa mais do que aquilo que é normal, da atenção, do tempo, do carinho, da capacidade de curar e sarar as feridas…

Mas também se tem mais medos.
Tem.

Como é que se ultrapassam esses medos?
Já não penso muito nisso, sabe? Estou numa fase em que quero que ele seja feliz e pronto. E vê-lo feliz, ver que ele já não traz aquela carga de tristeza que tinha no olhar, aquele disfarce como se a vida fosse melhor do que a que realmente tinha… Isso findou. Ele está completamente integrado. Costumo dizer-lhe: ‘Não podias ser mais biológico do que és’. Para mim, é lógica a relação que tenho com ele. E é, sobretudo, fortíssima.

O olhar de tristeza já não existe?
Não, não.

E esse é o maior presente que poderia ter recebido.
Para mim, é. Esse e tentar acompanhar isso o resto da vida e estruturá-lo como o grande homem que vai ser.

O processo de adoção é uma coisa de que se fala?
Nós falamos constantemente. Não é um tema tabu. Há circunstâncias que se calhar o exigem – não estou a ver quais -, mas no meu caso não fazia sentido. Ele tem plena consciência do que lhe aconteceu, até pela idade que tinha. É impossível – quem dera! – passar uma esponja sobre o passado e poder… apagar certas coisas que o incomodarão para o resto da vida. Eu não forço. De cada vez que ele quer voltar ao passado, falamos.

Dá-lhe respostas a todas as perguntas que ele tem?
Dou. Tento dar, na medida do possível. Não há nada a esconder.

Faz falta uma figura materna ao seu filho?
Acho que ele sente a falta… Ele vai tendo à sua maneira e eu tento compensar, tento ser pai e mãe… Claro que faz falta, mas também acho que ele vive muito bem com isso. Acho que é preferível não ter um dos cônjuges do que ter dois que não sejam uma referência. E, portanto, acho que ele está melhor assim.

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Impala e Pedro Pina/RTP

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