Rui Maria Pêgo diz ‘adeus’ à Rádio Comercial, dois anos depois de se ter estreado na estação radiofónica da Media Capital, e vai mudar-se para Inglaterra. O locutor abandona temporariamente uma das suas paixões para se dedicar a outra – a representação – e tirar um mestrado em Teatro. Nas redes sociais, o filho de Júlia Pinheiro e Rui Pêgo anuncia a sua decisão com uma longa e sentida mensagem em que começa por falar sobre o programa que conduziu na Rádio Comercial.

“Era o que Faltava”. “Fazer um programa de conversas, num horário tradicionalmente próximo do defunto, com protagonistas improváveis na rádio mais ouvida do país. Foram mais de 410 programas. Titubeantes no início, a voar pré-pandemia, tolhidos pelo ar que matava quando o país fechou. E depois, a abertura. As palavras certeiras. Os silêncios. Os políticos, os escritores, os atores, os ativistas, os músicos, os jornalistas e apresentadores, o medo, o pânico. O sonho. A esperança. O tempo. Conversei com tantas pessoas que queria conhecer. Nada paga isso”, escreve o também apresentador de televisão.

“Era o que Faltava”. “Foi o programa que mais gostei de apresentar até hoje, líder há mais de um ano. Um alinhamento cósmico nem sempre possível”, prossegue Rui Maria Pêgo, particularizando dois agradecimentos: um ao Diretor de Programação da Rádio Comercial e outro à mulher com quem conduziu o formato. “Obrigado, comandante Pedro Ribeiro, pela coragem, visão e aposta, e – claro, não o fiz sozinho. Nunca se faz nada sozinho. Mesmo que se queira. Na dança, na doçura, na preparação, na sublimação das diferenças, esteve sempre a Ana Martins. Uma espécie de tágide do éter.”

“Os timings ditam agora que a terra se rasgue outra vez para dar espaço a novas espécies”, revela, então, o comunicador, salientando que “a decisão de ir solto” para a sua “aventura seguinte não foi tomada de ânimo leve”, uma vez que considera aquela estação de rádio “uma casa fora de casa”.

“Quantas vezes se pode dizer isto sobre o sítio onde se trabalha? A rádio onde me deixaram ser exatamente quem eu sou. Isso é inestimável. A próxima vida em download é sem estática, sem diretos ou podcasts na cloud. Pelo menos para já”, diz Rui Maria Pêgo.

Rui Maria Pêgo muda-se em setembro

Finda a despedida da Rádio Comercial, o também ator explica, então, que, “depois de vários anos a tentar e a falhar”, vai iniciar um mestrado em Teatro na Bristol Old Vic Theatre School. “Somos 14. A escola tem 75 anos. Bristol, no Reino Unido, exibe sete colinas”, refere. “Como é que isto pode correr mal? De muitas maneiras. Tenho 32 anos e nunca morei fora do meu país. O meu nome, simultaneamente, um escudo e uma lança, não tem qualquer impacto especial numa terra onde se come muito mal. E que bom”, continua Rui Maria Pêgo.

“O voo começa no final de setembro” e o comunicador não esconde o receio por abraçar este sonho. “É meio chato porque nos meus braços ainda não cresceram as penas. Também não me lembro da última vez de que tive tanto medo. Tenho tendência a despedir-me e avisar que volto quando termino um programa, um espetáculo ou uma relação, – imaginem o problemático que isso é –, e agora não será diferente”, diz.

Rui Maria Pêgo termina com novos agradecimentos. “Obrigado a ‘todxs’ os ouvintes, à rádio mais feliz do país, à equipa maravilha que sempre me recebeu tão bem, e onde aprendi muito sobre os ‘outrxs’, e ainda mais sobre mim. Vocês são o Real Madrid da Rádio!”, elogia, deixando uma promessa: “Um dia destes volto a campo. “Agora deixem-me comer tudo o que conseguir até entrar no avião. Até já.”

Texto: Dúlio Silva; Fotos: Arquivo Impala e reprodução redes sociais

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