TVI obrigada a interromper direto de incêndio após jornalista chorar: “Eu pedi para não trabalhar”

O jornalista da TVI António Pereira Gonçalves estava em direto de Freixianda, em Ourém, para dar conta do incêndio que deflagrou na zona quando desabou em lágrimas.

O jornalista da TVI António Pereira Gonçalves não conteve a emoção ao ver a Freixianda, sua terra natal, envolta em chamas. O repórter preparava-se para, nesta quarta-feira, 13 de julho, entrar em direto dessa zona do concelho de Ourém quando desabou em lágrimas e revelou ter chegado a pedir ao canal para não trabalhar. Tudo começou quando José Carlos Araújo, pivô do Jornal da Uma da TVI, introduziu a conversa, referindo os laços familiares do jornalista ao local. “Alguém falava da ajuda que o teu irmão deu no combate a estes fogos. (…) Tu também és um homem da terra. Como é que tens estado a olhar para isto do ponto de vista pessoal e a ouvir pessoas que, provavelmente, tu bem conheces?”, perguntou.

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Durante uma reportagem na aldeia da Bairrada, em Ansião, um repórter da CMTV tentou ‘apagar’ o incêndio com os pés. O momento inédito já circula por toda a Internet. Veja as imagens chocantes no vídeo (… continue a ler aqui)

António Pereira Gonçalves emocionou-se e, com a voz embargada, respondeu: “Zé Carlos, essa pergunta mata-me. Não deviam fazer essa pergunta. Eu ontem pedi para não trabalhar… Eu tenho um pequeno terreno de nogueiras que estava na linha de fogo. Estive lá até às 11 horas. Aquilo não é nada comparado com o que esta gente perdeu. Não é absolutamente nada. Mas dá para perceber aquilo que esta gente sofre, aquilo que se perde com isto”.

“Às vezes, dá a impressão que nós, jornalistas, temos de ser frios e não podemos emocionar-nos”

O jornalista da TVI prosseguiu, frisando ser difícil reportar o incêndio na zona por estar demasiado envolvido emocionalmente. “Tenho a sorte de as pessoas aqui terem uma grande estima por mim. Conhecem-me desde criança e foram acompanhando a minha vida. (…) Desculpa, mas isto tem sido a minha vida. Custa-me imenso ouvir… É mais fácil fazer isto [reportagem] noutro lado. Aqui custa muito. É um martírio. Às vezes, dá a impressão que nós, jornalistas, temos de ser frios e não podemos emocionar-nos ou que não nos emocionamos, como se fosse um filme. Estou desejoso que este direto acabe para poder respirar. Se fizeres favor… É de facto duro…”, atirou. José Carlos Araújo acabou por pedir desculpa e interromper o direto: “Perdoa-me a forma como introduzi a questão (…). Parabéns pelo teu trabalho e por teres estado em direto aqui connosco, mesmo nestes momentos muito pessoais e muito difíceis”. Pode ver o momento aqui.

“Estive nos atentados do Charlie Hebdo, em Paris, mas mais doloroso foram os incêndios de 2017”

Curiosamente, quando esteve à conversa com Manuel Luís Goucha, em abril de 2020, no programa Você na TV!, José Carlos Araújo  recordou os incêndios trágicos que marcaram o ano de 2017 e cuja cobertura disse ter sido um dos trabalhos mais difíceis que fez. “Estive nos atentados do Charlie Hebdo, em Paris, mas mais doloroso foram os incêndios de 2017… Estive mais ou menos quatro dias a fazer diretos consecutivamente ao longo do dia e a entrevistar forças da autoridade, bombeiros, proteção civil, ministros… Estava no centro do comando. Foram dias muito longos, estávamos no ar desde as 7h da manhã até às 22h30”, recordou.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: DR

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