Bebé fica com paralisia cerebral depois de infetada com herpes

O vírus do herpes é muito perigoso em bebés e pode até provocar a morte. Sandra Domingos conta a história da filha à NOVA GENTE e desabafa: “Vê-la assim mata-me por dentro”.

Bebé fica com paralisia cerebral depois de infetada com herpes

O vírus do herpes pode ser muito perigoso para os bebés e há casos em que pode mesmo levar à morte. Sandra Domingos conta à NOVA GENTE que a filha, Miriam, atualmente com 14 anos, foi infetada ainda bebé e que isso resultou numa paralisia cerebral. O relato é impressionante e pode servir de alerta.

Sandra Domingos foi mãe aos 30 anos de uma menina saudável e sem qualquer problema de saúde. Com apenas oito meses, Miriam sofreu uma encefalite herpética, depois de ter estado em contacto com o vírus do herpes. A mãe não esquece o momento em que soube do diagnóstico e ainda hoje se emociona: “É impossível esquecer esses dias… A minha filha era uma criança perfeitamente saudável e normal…”, começa por dizer. “Nunca mais esqueci… Não consigo mesmo esquecer o dia em que me foi dado o diagnóstico.

Para acompanhar a filha a tempo inteiro, Sandra, que vive em São Brás de Alportel, no Algarve, abdicou da sua profissão de educadora de crianças e nunca mais voltou ao ativo. A ajuda dos pais tem sido fundamental, até porque se divorciou quando a menina tinha apenas um ano de idade. “Pode doer um bocadinho o que eu vou dizer, mas, para o pai da Miriam, é como se ela não existisse… Abandonou-nos, vive na zona, mas não se preocupa com ela nem a procura”, lamenta.

Sandra não se conforma e vive revoltada por tudo o que aconteceu. “O pior é não saber quem foi… Isso é o que mais me dói. Sei que não foi por mal… As pessoas não têm noção do perigo que os bebés correm…”, diz, sobre o vírus do herpes, acrescentando que o problema da filha deverá ter tido origem num “beijinho” que alguém deu na mão da bebé: “Quando percebi que ela não estava bem fomos logo ao médico. Ainda me custa lembrar-me daquelas palavras. Foi horrível. Os médicos disseram-me que a Miriam corria risco de vida, que poderia não sobreviver. Depois, explicaram-me que o vírus do herpes da Miriam estava alojado no cérebro. Fiquei em choque.”

“No hospital perdi toda a esperança. A minha princesa, a minha bebé que eu vi nascer saudável… estava a um passo de a perder, sem esperança nenhuma. Ela era irrequieta, sorridente, simpática, uma bebé perfeitamente normal! Foi muito doloroso… Foi difícil para mim aceitar, vê-la assim mata-me por dentro. Mas ela é tudo para mim, faço tudo por ela, tudo!”, desabafa aquela que nem sempre consegue conter as emoções perante a filha: “Choro muitas vezes… Por vezes, à frente dela e ela já percebe. Mas, logo a seguir, tento recompor-me. A pandemia foi muito dura, os tratamentos tiveram de parar, não saíamos de casa. Os meus pais, o meu irmão e a minha cunhada também não podiam visitar-nos. Felizmente, já está tudo a voltar ao normal”.

O perigo do vírus do herpes

De acordo com o relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral de 2016, as encefalites herpéticas representam 25 por cento das infeções do sistema nervoso central causadoras de paralisia cerebral.

Segundo Eulália Calado, neuropediatra no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas, ninguém deve desvalorizar este e outros vírus. “Os vírus neurotrópicos são, de facto, muitos agressivos e destrutivos. Há muitas pessoas que têm herpes labial e há que ter muito cuidado, principalmente com crianças. Os vírus são piores do que as bactérias, mas também não podemos pôr as crianças numa redoma… As crianças também têm de ter defesas. Não podemos viver atormentados com o que eles podem apanhar. Temos de encontrar um equilíbrio”, refere a
médica.

“Sobretudo no primeiro ano de vida, as crianças ainda não são imunocompetentes. Estão protegidas mais ou menos até aos seis meses pelos anticorpos maternos, mas, depois, dos seis meses até um ano, as crianças estão vulneráveis”, explica Eulália Calado, alertando para os cuidados que a sociedade tem de ter: “As pessoas quando estão doentes não podem visitar bebés pequenos. No entanto, os pais não podem viver atormentados… Os miúdos têm de ter uma vida saudável e cheia de experiência, mas dentro das normas de higiene.”

Caso fatal que se tornou viral

Em 2018, Emerson Faye morreu com apenas 12 dias, depois de ter sido beijada por um adulto e de ter contraído o vírus do herpes. Foi a mãe, a norte-americana Presley Trejo, que fez uma partilha na sua página de Facebook. “Parem de beijar bebés que não são vossos”, escreveu na referida rede social. “A minha filha acabou por morrer. Para os adultos, ser infetado com herpes não é um problema grave, mas para os recém-nascidos, sem o sistema imunitário desenvolvido, pode ser fatal (…) Quando o vírus penetra no organismo dos bebés, transmite-se rapidamente e ataca o cérebro. Os rins falharam, a minha bebé teve várias convulsões até entrar em morte cerebral”, referiu a mulher. “O coração dela deixou de bater e a única coisa que a mantinha viva eram máquinas”, continuou.

O desespero desta família comoveu a Internet e os desabafos de Presley não deixaram ninguém indiferente. “O vírus levou-a e nós assistimos à sua morte muito lenta. Agora tenho uma vida inteira sem ela (…) Toda a gente precisa de saber o que este vírus faz com as crianças e com as suas famílias! Parem de beijar bebés que não são vossos (…) Já ouvi histórias de outros bebés que passaram por este problema, mas nunca achamos que vai acontecer connosco (…) O nosso anjo perfeitamente saudável, feliz, lindo já não está aqui connosco por causa de um vírus terrível para o qual as pessoas precisam de estar mais conscientes”, salientou.

Além de tudo o que passaram, os pais tiveram de tomar uma dura decisão. Quando a bebé entrou em morte cerebral, a família teve de ser confrontada com a decisão de desligar as máquinas de suporte básico de vida.

O apelo de Sandra à sociedade

Enquanto mãe, Sandra Domingos faz questão de deixar um apelo à sociedade. “As pessoas deviam ter mais cuidado. Um bebé é muito fofinho, mas chega olhar e apreciar. Talvez uma festa na cabeça não faça mal, mas nada mais que isso. Não toquem nas mãos, por favor. Não deem beijinho, não toquem nos bebés! Eles são muito indefesos e têm fraca imunidade. Levam as mãos a toda a hora à boca e não sabemos o que pode acontecer… Mesmo sem ser o herpes, há imensos vírus… É o único apelo que eu passo: tenham muito cuidado”, apela, emocionada, enquanto olha para a filha.

Foi criada uma página de apoio a Miriam. Visite “Miriam, a pequena lutadora” e acompanhe a luta diária da menina.

Texto: Filipa Rosa; Fotos: D.R.

 

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