Por que nunca devemos beijar bebés recém-nascidos
Mais de metade dos pais recentes “permitem que amigos e familiares beijem os filhos recém-nascidos, sem conhecerem o risco de infeção grave”. Afinal, por que é tão perigoso beijar um recém-nascido?
Existe um pressuposto cognitivo a que se chama “maldição do conhecimento”, segundo o qual se assume, incorretamente, que os outros sabem tanto quanto nós sobre determinado assunto. Nesse sentido, e “enquanto microbiologista clínica”, Primrose Freestone, professora de Microbiologia Clínica da Universidade de Leicester, em Inglaterra, presumiu que “todos sabiam que era uma péssima ideia beijar bebés recém-nascidos em qualquer lugar da cabeça”.
Karan Raj, cirurgião do Serviço Nacional de Saúde britânico, “fez recentemente um TikTok a alertar as pessoas sobre os perigos de beijar um bebé e, a julgar pelos milhares de comentários, o tema era novidade para muitos”, constata Freestone. Há cerca de um ano, em finais de 2023, a instituição de caridade The Lullaby Trust publicou o resultado de uma sondagem que revelou que 54% dos pais recentes “permitem que amigos e familiares beijem os filhos recém-nascidos, sem conhecerem o risco de infeção grave”. Afinal, por que é tão perigoso beijar um recém-nascido?
@dr.karanrNewborn warning!♬ original sound – Dr Karan Raj
“O sistema imunológico de um bebé não está totalmente desenvolvido quando nasce. Por isso, o risco de contrair uma infeção grave é muito maior”, situa Primrose Freestone. “Durante os primeiros três meses, aproximadamente, o sistema imunológico do bebé tem menos células imunes inatas que combatem infeções, como neutrófilos e monócitos, em comparação com os adultos, o que significa que infeções que causam sintomas leves em adultos ou crianças mais velhas podem ser fatais para os recém-nascidos.”
A infeção pelo vírus do herpes é um exemplo. Em adultos, causa herpes labial, mas os bebés “podem rapidamente ficar gravemente doentes se infetados com o vírus”. Se o herpes afetar apenas os olhos, a boca ou a pele da criança, “a maioria recuperará após tratamento antiviral”. “Mas se o vírus se tornar sistémico e afetar os órgãos do bebé, a infeção é muito mais séria e pode até ser mortal. Quanto mais jovem o recém-nascido, mais vulnerável é à infeção pelo herpes, principalmente nas primeiras quatro semanas após o nascimento.”
Bebés recém-nascidos são “igualmente mais vulneráveis” a bactérias infecciosas do que crianças mais velhas e adultos e são “especialmente suscetíveis a infeções com patógenos intracelulares (bactérias que podem entrar e sobreviver dentro das células do organismo hospedeiro), como estreptococos do grupo B (GBS)”. Estas bactérias “vivem geralmente nos tratos gastrointestinal e genital do hospedeiro sem causar doenças”. Infecções por GBS em bebés causam sepse, pneumonia, meningite e infeções sanguíneas.
“Os bebés são também suscetíveis a infeções por estirpes de E. coli, que não são prejudiciais aos adultos, provocando-lhes pneumonia, meningite e sepse, podendo todas ter consequências graves“, afirma.
Se não devemos beijar bebés recém-nascidos, como podemos demonstrar-lhes afeição?
Pais de bebés muito pequenos não devem sentir-se desconfortáveis em pedir aos visitantes que evitem beijar ou tocar nos seus filhos. “Se o visitante se importa realmente com o bem-estar do bebé, não deve sentir-se ofendido pelo pedido. E os pais não devem sentir que estão a exagerar. A atitude mais gentil de qualquer visitante é não colocar o bebé em risco, mas se por bons motivos precisar de beijar o bebé, há algumas coisas que podem reduzir o risco de infeção que os adultos representam.”
Primeiro, “certifique-se de lavar bem as mãos”. Depois, “evite beijar a criança na boca ou no rosto”. Beije, por exemplo, “o pé ou a parte de trás da cabeça”. “Se tivermos uma infeção ativa de qualquer tipo, devemos pensar se realmente devemos visitar a criança, principalmente se ela tiver menos de um mês de idade.”
As infeções por herpes são “particularmente graves para bebés muito pequenos”. Por isso, aconselha Freestone, “cubra qualquer herpes labial com um penso”.
“Se não estiver bem, mas não consegue evitar visitar a criança, use máscara e evite aproximar-se do recém-nascido, principalmente se tiver uma doença respiratória. Tenha sempre em mente que os bebés são muito vulneráveis a infeções. Embora beijá-los seja um sinal de amor, pode deixar um recém-nascido seriamente doente”, reforça Primrose Freestone, professora de Microbiologia Clínica da Universidade de Leicester.
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