Geração Z – Provada menor saciedade após uso do telemóvel durante as refeições

O Dr. Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta, fala-nos sobre os malefícios da prática de uso do telemóvel durante as refeições.

Geração Z - Provada menor saciedade após uso do telemóvel durante as refeições

O Dr. Alberto Lopes – neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clínicas Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica fala-nos sobre os malefícios da prática de uso do telemóvel durante as refeições; situação que é bastante frequente na geração Z.

“Nos dias de hoje, os telemóveis são praticamente uma extensão de nós mesmos. Estamos sempre ligados, sempre online. Mas será que já paramos para pensar no impacto que o uso dos telemóveis durante as refeições pode ter nas relações familiares e no fortalecimento dos laços de casal?
A Geração Z é a primeira geração que nunca experimentou a vida antes da Internet. As redes sociais, em especial o Instagram, TikTok e o YouTube, tornaram-se um aspeto central na vida desta geração. Consideram os YouTubers como amigos e, na altura de tomar decisões, seja de compra ou até como vestem, ou tomam decisões pessoais, têm uma forte opinião em conta. Para a geração Z, os influenciadores digitais são considerados mais acessíveis, mais credíveis e com quem os seus seguidores mais se identificam, até comparando com as celebridades tradicionais. Várias pesquisas comprovam a influência dos influenciadores digitais relativamente à forma como vestem, como adquirem certos trejeitos ou maneirismos, até à intenção de compra.”

A importância das refeições 

“Um dos princípios do mindfulness é estar totalmente presente nas atividades que estamos a executar, para desfrutar dos momentos de lazer e partilha, o que beneficia o cérebro. Sabemos, pela psicologia, da importância de criar e fomentar redes de apoio familiares. Naturalmente, as refeições são momentos valiosos para a conexão social e emocional. No entanto, quando estamos distraídos com os ecrãs dos telemóveis, perdemos a oportunidade de partilhar experiências diárias, emoções e preocupações. Imagine um jantar em família onde cada um está absorto no seu telemóvel; a conversa desaparece, e com ela, a ligação emocional que fortalece os laços familiares.”

Menor satisfação e saciedade

“A descoberta de um estudo publicado recentemente por pesquisadores da Associação de Psicologia Americana (APA), no Journal of Personality and Social Psychology, revelou que o uso de telemóveis durante as refeições está associado a um maior consumo de guloseimas nas horas seguintes. Os participantes que usaram o telemóvel durante as refeições relataram menor satisfação e saciedade, levando-os a compensar-se com mais guloseimas e doces depois das refeições principais. Os investigadores concluíram que a distração durante as refeições pode fazer com que procuremos prazer adicional noutras atividades, resultando num consumo excessivo de alimentos (Journal of Personality and Social Psychology, acedido em 21.05.2024).

Por outro lado, sabe-se que o uso de telemóveis à mesa pode reforçar comportamentos evitativos e prejudicar a comunicação direta. Quando colocamos o telemóvel ao lado do nosso prato durante uma refeição familiar, estamos a enviar uma mensagem clara: o telemóvel é mais importante do que os presentes. Dar atenção aos dispositivos digitais muitas vezes é uma tentativa de fuga emocional, evitando a profundidade emocional crucial para construir e manter vínculos afetivos saudáveis. Em vez de um jantar cheio de partilha e risos, temos um cenário de isolamento emocional, onde cada um olha apenas para o ecrã em detrimento das pessoas mais importantes, a família ou o companheiro.
Pensando em termos sistémicos, é importante criar laços afetivos e manter os rituais familiares de convivência. A sociedade valoriza rituais de convívio e partilha, logo é crucial que durante as refeições a família esteja junta, partilhando alegrias, risos e dificuldades, facilitando a coesão e identidade familiar como rede de apoio principal. Quando usamos telemóveis à mesa, comprometemos esses momentos de apoio familiar e união. Em vez de momentos de partilha, transformam-se em ocasiões de solidão compartilhada, onde cada elemento é uma ilha emocional.”

Dicas para reverter a tendência de isolamento emocional

“Podemos concluir que o uso de telemóveis e outros dispositivos durante as refeições interfere significativamente na dinâmica das relações familiares e dos casais. A interrupção destes momentos de socialização pode enfraquecer os laços emocionais, aumentar a sensação de isolamento e criar dificuldades na comunicação.
Usando a máxima “se não podes vencê-los, junta-te a eles”, reconhecemos que os telemóveis são uma parte integrante das nossas vidas. Contudo, isso não significa que não possamos fazer um uso criterioso e positivo destes dispositivos. Aceitemos que os ecrãs erguem barreiras invisíveis, criando ilhas emocionais que dificultam a comunicação aberta e honesta, essenciais para resolver conflitos e partilhar apoio emocional. Assim, podemos adotar pequenos comportamentos funcionais para garantir que cada coisa ocupa o seu lugar e tempo apropriado. Na dúvida, siga a máxima: “longe da vista, longe da mente”.
Deixo algumas dicas, para reverter esta tendência isolamento emocional:
1. Desligue o telemóvel durante as refeições e guarde-o longe da mesa. Longe da vista, longe da mente.
2. Crie um ambiente onde todos possam estar verdadeiramente presentes e focados uns nos outros. Desfrute dos sabores e da presença de quem ama.
3. Desafie-se a si e à sua família a fazer esta mudança simples, mas fundamental. Desliguem o telemóvel e liguem-se ao que realmente importa: as pessoas que amam.
Ao implementar mudanças simples, como desligar os telemóveis ou colocá-los longe da vista durante as refeições, podem fortalecer as nossas conexões emocionais e promover um ambiente de amor e compreensão. A longo prazo, estes pequenos gestos podem fazer uma grande diferença nas relações, fortalecendo os laços familiares e promovendo um ambiente de amor e compreensão. Recordemos que, a verdadeira conexão não se mede em megabytes virtuais, mas nos momentos e emoções partilhados com as pessoas que são realmente importantes. No final de tudo, o que conta são a intensidade com que amou, os afetos que partilhou e como fez a diferença na vida dos outros.”

Fotos: D.R.

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