Sabe o que significa a palavra “cisgénero”
Surgido na década de 1990, o termo cisgénero lembra-nos de que todas as identidades de género fazem parte de processos de construção social e íntima.
Em maio de 2024, Elon Musk quis banir as palavras “cis” e “cisgénero” do X (antigo Twitter), argumentando que via os termos como insulto às pessoas “normais”. Se esta proibição parece, de facto, muito relativa, acaba por esclarecer as questões específicas desta terminologia. Afinal, o que significa o termo cisgénero?
Cisgénero”: mais do que neutro e normal
“A sociologia do desvio ensina-nos que primeiro nomeamos ‘outros’, aqueles que categorizamos como ‘anormais’, ‘desviantes’, para distingui-los daqueles que consideramos ‘neutros’ ou ‘normais’, ‘saudáveis’ ou ‘naturais'”, enquadra Arnaud Alexandre, sociólogo da Universidade de Bordéus. “Conhecemos bem esta lógica. Em A Invenção da Heterossexualidade, Jonathan Katz lembra-nos de que o termo homossexualidade foi inventado antes do termo heterossexualidade. Trata-se de criar categorias que são também hierarquias. Um seria ‘natural’ (heterossexualidade) e o outro não.”
Estes são também os critérios de diferenciação que a Academia Francesa utiliza na sua definição de heterossexualidade na edição de 2024 do seu dicionário – “que se refere à sexualidade natural entre pessoas de sexos diferentes”. “Sem palavras as coisas não existem”, diz Alexandre. “Se nomeamos pessoas ‘trans’ desde a década de 1950 (usamos então o termo transexualidade) – quem são os não ‘trans’? São ‘normais’? ‘Neutros’? ‘Naturais’? ‘Indizíveis’?”
A criação do termo cisgénero
Do ponto de vista académico, podemos traçar a história do termo cisgénero. Numa publicação de 1991 (que poderíamos traduzir como Transexuais e a Nossa Visão Nosomórfica), o sexólogo Volkmar Sigusch utiliza o termo cissexual como antónimo ao de “transexual”. A popularização deste termo, no entanto, “ocorre principalmente através da obra Whipping Girl, de Julia Serano”, situa Arnaud Alexandre.
“Torna-se gradualmente evidente que as identidades de género minoritárias já não podem ser as únicas a suportar o peso da categorização e, portanto, da estigmatização (uma vez que apenas a categoria de doença mental era definida)”, explica. “Com a Internet, o uso do termo cresceu ainda mais, até tornar-se numa proposta de identidade no Facebook ou uma apresentação biográfica no Twitter ou no Instagram.”
Afirmando a identidade de género
A identidade cisgénero é, em conclusão, “a suposição que se aplica por padrão aos seres ao nascer”. “Apostamos que a presença de um sexo anatómico (seja ele qual for) dará origem a uma identidade de género que abraça as normas sociais associadas a este sexo”, explica. “Ao pénis, o masculino – homem. Ao útero, o feminino – mulher”, conclui o sociólogo Arnaud Alexandre.
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