Saúde: “O infantário é um local de aprendizagem, mas também pode ser um ‘infetário’”

A entrada no berçário, na creche ou infantário é, muitas vezes, um momento de fragilidade para os pais. Essa nova etapa na vida de uma criança levanta receios emocionais pela separação entre pais e filhos e é também sinónimo de doenças. Ao Impala News, o pediatra Henrique Soares explica quando é que os pais devem valorizar as doenças e vírus e como fazer da entrada na escola um processo sem sobressaltos.

Saúde: “O infantário é um local de aprendizagem, mas também pode ser um 'infetário'”

Pais com os nervos à flor da pele e crianças frequentemente doentes. É muitas vezes este o cenário das famílias quando os filhos frequentam um berçário, creche ao infantário (dependendo da idade da criança) pela primeira vez. Os pediatras assumem o papel de conselheiros quando o caos se instala. “Sendo o pediatra o elemento mais próximo e que melhor conhece a individualidade de cada criança, os pais tendem a questionar este profissional acerca das estratégias a seguir. O pediatra deve ser o garante da passagem de uma informação científica isenta, clara e nunca preconceituosa”, explica Henrique Soares.

Segundo Henrique Soares, pediatra e neonatologista do Serviço de Neonatologia, Hospital Pediátrico Integrado do Hospital de São João (Porto), existem formas de amenizar o processo de adaptação das crianças ao infantário.

“Dependendo da idade, pode fazer sentido a presença dos pais em tempo decrescente à medida que a adaptação vai sendo conseguida. No entanto, as crianças, não reagindo todas da mesma forma, devem ser amparadas à sua medida e sem nunca perder da mente o objetivo final de integração junto dos seus pares”, explica.

O pediatra diz ainda que ficar doente com frequência não deve ser encarado apenas de forma negativa por parte dos pais. “As doenças podem ser vistas quase como vacinas naturais que atingem as crianças numa fase em que o seu sistema imune ainda é imaturo”, ressalva.

Mas quando é que as viroses ou infeções devem ser valorizadas? Segundo Henrique Soares,  “devem ser valorizadas todas as doenças febris prolongadas ou com sinais de alerta associados que habitualmente os pediatras explicam aos pais como identificar”. Retirar as crianças do ambiente escolar só deve ser ponderado quando “têm infeções respiratórias repetidas que, em determinados casos de maior suscetibilidade individual, podem levar a otites recorrentes, bronquiolites, sibilância repetidas, entre outras”. “Quando começam a ser usados antibióticos e outros tratamentos em escala menos aceite o que pode levar o clínico a aconselhar um “descanso” durante algum tempo. É um processo de avaliação individual e felizmente raro”, explica ainda o mesmo especialista.

“Há sazonalidade para a maioria das doenças”

Ao longo de um ano letivo, há períodos mais difíceis no que se refere às crianças, que entram muitas vezes em ciclos contínuos de viroses e doenças respiratórias.”A título de exemplo, as doenças respiratórias infeciosas têm o seu pico entre novembro e fevereiro habitualmente. Os picos são monitorizados pelas autoridades de saúde para assim poder haver uma maior adequação nas respostas necessárias,” avança Henrique Soares.

Pediatra Henrique Soares

Ter as vacinas em dia – as que fazem parte do Plano Nacional de Vacinação e as chamadas “extra-plano” – e não enviar as crianças doentes para as escolas (de forma a evitar o contágio) são algumas das medidas que podem minimizar a propagação das doenças mais frequentes.

“À medida que as crianças ganham mais memória imunológica ficarão mais aptas a responder às agressões externas. Este efeito vale por si, isoladamente, quer pelo facto da criança do lado estar a gozar do seu mesmo efeito criando uma imunidade de grupo e dificuldade maior na propagação em cadeia das doenças mais comuns”, conclui Henrique Soares.

O especialista defende ainda que “o infantário é um local de aprendizagem, de mimetização de modelos achados ideais para o neurodesenvolvimento de uma criança”.

Texto: Cynthia Valente

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