
Arte Xávega de Espinho no inventário do Património Imaterial para “salvaguarda urgente”
A decisão publicada em Diário da República dá assim resposta ao processo de classificação iniciado em 2022 pela referida autarquia costeira do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto.
O anúncio publicado hoje justifica a decisão do instituto com a importância da Arte Xávega “enquanto reflexo identitário da comunidade, dos grupos e dos indivíduos envolvidos” nessa prática piscatória.
O mesmo documento refere “a relevância da sua dimensão histórica, social e cultural na área territorial em que se insere; o valor acrescido que transporta para o desenvolvimento sustentável nos territórios onde se pratica; o atual contexto de transmissão dos conhecimentos associados, que coloca em risco a continuidade da prática; e a necessidade urgente de implementação de medidas de salvaguarda e sustentabilidade com vista à sua viabilidade futura”.
Para a presidente da Câmara de Espinho, Maria Manuel Cruz, esta é assim “uma conquista histórica que reforça a identidade e o património cultural” do município.
“A Arte Xávega é, sem dúvida, um dos símbolos maiores da nossa tradição e da nossa história”, declarou a autarca socialista à Lusa. “Não representa apenas uma técnica de pesca, é também um reflexo profundo da nossa identidade coletiva, da nossa ligação com o mar e da força de uma comunidade unida em torno da preservação dos seus valores e da sua cultura”, acrescenta.
A inscrição dessa prática no Inventário Nacional, em regime de proteção premente, significa, por isso, que “é finalmente reconhecida a urgência de implementar medidas de proteção, valorização e sustentabilidade que garantam a preservação e a viabilidade desta prática tão importante”.
Segundo a definição constante da candidatura ao instituto do Património Cultural, a Arte Xávega praticada em Espinho é um tipo de pesca tradicional que recorre à utilização de uma rede de cerco lançada ao mar e depois puxada para terra com o pescado que nela tiver sido capturado.
Registada como “pesca por arte envolvente-arrastante” no Decreto-Lei N.º 7/2000 de 30 de maio e regulamentada pela Portaria 1102-F/2000 de 22 de novembro, essa prática tradicional envolve cordas, alares e saco, implicando que a rede seja largada ao mar a partir do bordo de uma embarcação que deixa um dos seus cabos de alagem na praia, para que, quando a lida terminar, o barco regresse ao areal com um segundo cabo e assim “cercando” o pescado.
“Depois de ambas as cordas estarem na praia, dá-se início à alagem, puxando a rede para a praia e mantendo a boca do saco aberta com recurso à utilização de boias e de pesos”, refere a documentação da candidatura, explicando que, “nos primórdios, a alagem era efetuada à mão, posteriormente com tração animal e atualmente por tração mecânica com recurso a tratores a motor”.
Entre as espécies mais capturadas ao longo da história incluem-se o carapau, a cavala e a sardinha. Antes da construção do porto de Leixões em finais do século XIX, para além da abundante sardinha também se pescavam em Espinho corvinas, pescadas e robalos.
Em épocas mais recentes, no arrasto das redes passou a capturar-se ainda caranguejo, dourada, faneca, linguado, lula, raia, robalo, ruivo e biqueirão.
Segundo fonte da autarquia, a Câmara Municipal de Espinho está a trabalhar com a comunidade piscatória local em projetos de requalificação da lota, no apoio à instrução de candidaturas de financiamento, na criação de um centro interpretativo sobre prática pesqueira agora protegida e na realização de ações de capacitação e promoção dessa atividade.
Para Maria Manuel Cruz, é dessa forma que se garantirá “o futuro da Arte Xávega e a sua integração sustentável na cidade”.
AYC // TDI
By Impala News / Lusa
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