Escavações revelam nova configuração de abrigo de metralhadora em Vila Franca do Campo

Escavações arqueológicas no forte do Tagarete, em Vila Franca do Campo, nos Açores, revelaram a existência de uma nova configuração do abrigo de metralhadora ligeira da Segunda Guerra Mundial, datado de 1941, que difere da documentação histórica.

Escavações revelam nova configuração de abrigo de metralhadora em Vila Franca do Campo

Segundo o arqueólogo municipal, Diogo Teixeira Dias, a posição da metralhadora no monumento datado do século XVII foi a grande revelação das prospeções destinadas a esclarecer a época de construção da estrutura defensiva.

“Nós já tínhamos uma suspeita de que num forte do século XVII, que é o forte do Tagarete, iríamos encontrar uma posição de metralhadora, um abrigo de metralhadora ligeira da Segunda Guerra Mundial, datado de 1941. Temos o seu desenho, a sua planta [e] tínhamos, inclusive, um vestígio à mostra. Então optámos por pô-la a descoberto, para a mostrar às pessoas, mas também para perceber quais as dissonâncias que havia com aquilo que tínhamos na documentação escrita”, explicou Diogo Teixeira Dias à agência Lusa.

As escavações confirmaram as suspeitas em relação ao equipamento defensivo da Segunda Guerra Mundial: “Já tínhamos feito alguns ensaios e tínhamos percebido que aquilo que tínhamos no terreno não era exatamente igual àquilo que temos na documentação histórica. E, de facto, foi aquilo que encontrámos”.

Quanto à decisão sobre o futuro do local onde se encontra o achado, está dependente do executivo municipal de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel.

“O nosso trabalho técnico está quase terminado. Naturalmente, a decisão terá em conta aquele que é o nosso parecer, mas, agora, obviamente, já extravasa a nossa área de atuação, parte para a decisão política de aterrar e pôr a descoberto mais tarde ou de pôr a descoberto a partir de agora”, disse o arqueólogo.

O presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, Ricardo Rodrigues, admitiu à Lusa estudar uma solução para as revelações históricas ficarem expostas: “Penso que sim, que temos de aproveitar e deixar à vista aquilo que todos podem testemunhar e que fez parte da história desse forte.”

O autarca também referiu que a arqueologia “tem muito para estudar” no concelho, porque em 1522 “houve um terramoto que soterrou três quartos” da localidade.

As escavações no forte do Tagarete, também conhecido como forte d’Areia e do Baixio, começaram no dia 05 de agosto e terminam na sexta-feira.

As investigações procuram esclarecer a época de construção da segunda maior fortificação da ilha de São Miguel, que foi construída para defender os principais areais de desembarque em Vila Franca do Campo e o ancoradouro do ilhéu.

Daniela Cabral, aluna de mestrado em Antropologia Forense e Arqueologia, natural de Vila Franca do Campo e que também esteve na orientação dos trabalhos, contou que foram encontradas “bastantes coisas”.

Foram recolhidas “desde cerâmicas a malacofauna, que são moluscos, também fauna vertebrada, que são os animais terrestres, também ictiofauna, que são restos de peixe”, explicou.

Em relação a cerâmicas mais recentes, Daniela Cabral indicou que foram registadas várias, com destaque para uma mais antiga: “Provavelmente vai dar uma possível datação do forte, que era aquilo que nós estávamos a objetivar para este ano.”

Luís Vitorino, aluno do 3.º ano de Arqueologia da Universidade de Coimbra, natural do concelho de Lagoa (município vizinho de Vila Franca do Campo) e um dos voluntários participantes nas escavações, disse que a iniciativa é “muito boa”, porque nos Açores a arqueologia “é quase inexistente”.

Os arqueólogos utilizaram tecnologia de ponta, tendo efetuado o registo de todo o processo de escavação através de fotogrametria digital, ‘laser scanner’ e modulação 3D.

Os trabalhos de investigação vão ter continuidade no próximo ano e abranger outros pontos do interior da muralha do forte do Tagarete, que apresenta atualmente cerca de 60% da estrutura original.

*** António Sá Rodrigues (texto e vídeo) e Eduardo Costa (foto), da agência Lusa ***

ASR // ROC

By Impala News / Lusa

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