Exposição mostra História do teatro e da dança desde Gil Vicente a Paula Rego
Uma exposição de fotografias, pinturas, figurinos, esculturas e maquetes que testemunham mais de 150 anos de espetáculos e figuras marcantes da história cultural do país, abre ao público na quinta-feira, no Museu do Teatro e da Dança, em Lisboa
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Esta mostra é, no fundo, História dentro da História, já que acompanha a História do teatro e da dança em Portugal, desde o final do século XIX, através da História do museu e das exposições que apresentou ao longo dos últimos 40 anos, e de artistas como Paula Rego, Amália, Eunice Muñoz e Mário Viegas.
Com curadoria de Nuno Costa Moura, “Aplauso – 40 anos a celebrar o espetáculo” é o título desta mostra, que, a coberto do aniversário do museu, abre o seu acervo ao público.
“Trazemos as principais coleções e um olhar para o percurso feito até aqui. Foi-se renovando a história do espetáculo em Portugal desde o século XIX até ao século XXI. Fizemos um puzzle das coleções, seguindo a linha de tempo, para mostrar o máximo possível. Não é possível fazer a recriação de todas as exposições, mas lembrar os 40 anos que se cruzam com espetáculos dos últimos 150 anos”, disse Nuno Costa Moura à agência Lusa.
Segundo o curador, há quatro momentos-chave de rutura, todos presentes na exposição: Gil Vicente, o pai do teatro português, Almeida Garrett, que o reorganizou, o Estado Novo e as restrições à liberdade, o 25 de Abril e a alteração do que é a atividade artística, e os anos 1990, com o ‘boom’ da nova dança portuguesa e das companhias de teatro.
A exposição tem início em 1836 com Almeida Garrett, que reorganizou, “com uma visão estratégica, a atividade cultural teatral e criou a Inspeção Geral de Teatro, o conservatório, o Teatro Nacional Dona Maria (TNDM) II e lançou o Jornal dos Teatros.
A primeira peça é o cadeirão em que Almeida Garrett presidia às sessões do conservatório, adornada com dois grandes leões nos braços.
O núcleo seguinte é dedicado à Companhia Rosas & Brasão, que muda o panorama dos cenários de teatro, fixados em pinturas, nomeadamente óleos da autoria do pintor italiano Manini.
A chegada de 1910 e da República é marcada por um movimento que não mexe na estrutura teatral, mas faz uma “alteração cosmética”, modificando, por exemplo, os nomes dos teatros com nomes reais.
Nesta altura, surge a Companhia Rosas & Brasão, chega a companhia de dança Les Ballets Russes, retratada em pinturas por Raul Lino, seguindo-se o período dos anos 1920, marcado pelo modernismo e patente em imagens que retratam a animação noturna, novos sons (como o foxtrot ou o maxixe) e novas silhuetas.
Aparecem aqui imagens de Beatriz Costa, Corina Freire e Luísa Santanela fotografadas por Joaquim da Silva Nogueira, bem como da Art Déco e o que vinha das novas exposições de Paris.
O “fado e o teatro” é o tema que se segue, retratando uma época em que este género de música portuguesa se afirma por contrabalanço aos sons trazidos do estrangeiro, explicou o curador.
“Vai ser um elemento muito importante nos palcos, porque o fado era música de tabernas e de vielas” e nesta altura chega aos palcos, criando uma dualidade entre as fadistas e as atrizes que cantavam fado, mas não se assumiam como fadistas.
É aqui que se encontram várias fotografias e trajes de Amália Rodrigues referentes não só às suas atuações em palco, como nas operetas “A Romaria” e “A Severa”, mas também no cinema.
Uma secção mais institucional, dedicada ao Estado Novo, apresenta figurinos para cinema e fotos da altura do surgimento da Companhia Verde Gaio, desvendando uma dualidade entre os motivos regionais e os motivos históricos.
A Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro também está em destaque nesta mostra que ocupa dois pisos do museu, bem como o cenógrafo e decorador francês Lucien Donnat, “que criou cenários de grande elegância e trabalhou para Amélia Rey Colaço.
No segundo piso, a mostra começa com um núcleo dedicado a Eunice Muñoz e a “80 anos de trabalho de excelência”, com uma enorme fotografia da atriz a preto e branco, outras imagens e o seu diploma do conservatório, que completou com 18 valores.
Fotografias dos papéis mais emblemáticos que fez, capas de revistas em que apareceu, troféus que ganhou e um quadro com os seus figurinos também fazem parte deste núcleo.
O cenógrafo António Casimiro, a coreógrafa Margarida de Abreu, que “tentou dar nova força à Companhia Verde Gaio” e a professora Anna Mascolo, também constam de imagens desta exposição.
Seguindo a linha temporal, a mostra “recorda o percurso de Mário Viegas, ator de excelência, embaixador da poesia, e de um humor inteligente”, descreveu o curador.
O Teatro Moderno de Lisboa (nos anos 1960) também está em foco, com Carmen Dolores, Armando Cortês e Fernando Gusmão, que “criaram a ideia do que poderia ser resistência artística perante o Estado Novo”.
A chegada do 25 de Abril traz uma “explosão artística” patente na exposição que reproduz as paredes do país, com cartazes e dizeres que caracterizam os anos 1970 em Portugal, alusivos ao fim da censura e à possibilidade de fixar companhias profissionais fora de Lisboa.
Gil Vicente fecha este ciclo da exposição – com fotos, pinturas e gravuras de várias representações que têm sido feitas da sua obra – porque, apesar de ter começado a trabalhar em 1502, tornou-se um clássico, que todas as companhias fazem ainda nos dias de hoje, explicou Nuno Costa Moura.
A última sala é dedicada a Paula Rego e ao trabalho que fez para um espetáculo de dança na Gulbenkian, “Pra lá e pra cá”, a partir do seu imaginário, tendo desenhado os trajes e gigantescas cabeças de animais que os bailarinos vestiam.
Ainda no âmbito dos 40 anos do museu, vai estar patente na Galeria de Exposições Temporárias a exposição “domicílios de D. Domicília – a partir de Casio Tone, 1997”, que evoca as casas, agora vazias, da Sra. Domicília, a solitária personagem criada por Sérgio Pelágio e Sílvia Real, que habitou a trilogia “Casio Tone”, “Subtone” e “Tritone”, espetáculos que marcaram o percurso desta companhia.
Nesta mostra, pode ver-se fotografias das encenações, videos com excertos das peças, pedaços dos cenários e adereços utilizados, como o teclado Casio Tone, que dá nome ao espetáculo, as ‘sandálias-esfregonas’ que Domicília calçava, os seus óculos e o candeeiro que não cabia dentro de casa.
AL // MAG
By Impala News / Lusa
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