Filme de Edgar Pêra com Pessoa, Lovecraft e Inteligência Artificial estreia-se no dia 20

O filme “Cartas Telepáticas”, do realizador Edgar Pêra, feito com recurso a aplicações de Inteligência Artificial, estreia-se no dia 20, nos cinemas portugueses, revelou hoje a Nitrato Filmes.

Filme de Edgar Pêra com Pessoa, Lovecraft e Inteligência Artificial estreia-se no dia 20

“Cartas Telepáticas” ficciona uma troca de correspondência entre o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) e o escritor norte-americano H.P. Lovecraft (1890-1937), dois autores sobre os quais Edgar Pêra foi encontrando pontos de contacto, desde que começou a lê-los na adolescência.

É através da ficção que Edgar Pêra coloca Pessoa e Lovecraft a trocarem ideias sobre cosmos e o fantástico, sobre arte ou sobre moralidade.

O dispositivo escolhido para fazer a ponte entre os dois autores foi através de aplicações de Inteligência Artificial de criação de imagem em movimento, que lhe permitiram escrever, filmar e montar a longa-metragem praticamente em tempo real.

Em agosto passado, nas vésperas da estreia do filme no festival de cinema de Locarno (Suíça), Edgar Pêra explicou à Lusa que quis aproveitar as potencialidades das aplicações de IA, de utilização comum, que estavam ainda em desenvolvimento há um par de anos.

“Muitas das imagens que lá estão no filme, que têm uma estética dos anos 1960 ou 1980, já não as consigo fazer, porque foram desse período ‘beta’ em que a criação de imagem em movimento estava ainda muito no início. Todos os elementos estranhos e excêntricos foi o que me interessou mais”, contou.

Em “Cartas Telepáticas” só as vozes são reais, com narração de Keith Esher Davis, Iris Cayatte, Bárbara Lagido e Victoria Guerra. Tudo o resto resulta de uma montagem de comandos de ação indicados por Edgar Pêra, que geraram múltiplas imagens em movimento, cenários, paisagens, algumas grotescas, bizarras, disformes, hipóteses de imagens animadas de Fernando Pessoa e Lovecraft.

“Eu adoro as coisas quando estão no início. Quando apareceu o 3D, eu quis logo experimentar e experimentei câmaras de pequeno formato. O [escritor] Aldous Huxley dizia que os livros são os brinquedos da consciência e eu acho que os filme também são. […] Fiquei totalmente deslumbrado por poder criar imagens a partir de texto”, lembrou Edgar Pêra.

Ao recorrer à Inteligência Artificial — que designa como ‘Inteligência Animal’ -, Edgar Pêra queria ter acesso a um processo inicial de uma ferramenta, “como no cinema”.

“O que me atraiu mais no cinema foi o cinema mudo, as primeiras regras, o cinema soviético, Fritz Lang, Murnau, [D.W.] Griffith [pioneiros do cinema], uma série de autores que hoje não são propriamente falados. Ou o Orson Welles. Esse processo de descoberta é o mais interessante porque toca no inesperado”, sublinhou.

Segundo o realizador, “Cartas Telepáticas”, produzido por Bando à Parte, pode ser entendido como uma espécie de prequela do filme “Não sou nada — The Nothingness Club”, que é focado nos heterónimos de Pessoa, e de um próximo projeto inspirado em contos de Lovecraft.

SS // MAG

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS