Jovem retratista moçambicano “eterniza” Malagantana na areia com cinza e carvão
Entre luz e sombra, o jovem retratista Fredy Uamusse desenhou no chão, com cinza e carvão, o artista plástico mais influente da história de Moçambique, Malangatana, numa obra que procura “eternizar” o legado de quem “pintou a independência”.
“Malangatana foi o primeiro artista plástico moçambicano com destaque internacional e ele pintou a nossa história, a nossa independência, com amor pela arte. Esse amor foi o que me fez tentar honrar o seu nome com este desenho, como forma de enaltecer o seu legado”, explica à Lusa o artista, 23 anos, com as mãos sujas de cinza e carvão, minutos após concluir a obra desenhada no pátio da sua casa, no interior do bairro de Albasine, nos arredores de Maputo.
Desenhar, no chão, um dos influenciadores da “estética africanista” nas artes plásticas é naturalmente um desafio para qualquer jovem artista, explica Fredy Uamusse, que é retratista há quase cinco anos e tem Malangatana entre as suas principais referências.
“A minha ideia foi sempre pintar e desenhar quem me inspira e quem engrandece a sua cultura”, acrescenta o jovem artista.
Para o caso do retrato de Malangatana, Fredy precisou de pouco mais de duas horas: Primeiro, é preciso conceber a estrutura e, posteriormente, desenhar com recurso ao pó de carvão e cinza, num exercício em que luz e sombra são essenciais.
“É um trabalho desafiador porque tenho de trabalhar com materiais que já não estão a ser usados, nomeadamente carvão e cinza, e dar visibilidade ao próprio chão”, explica.
Como se exige a qualquer arte realista, a obsessão de Fredy é a minúcia.
Foi necessário capturar com rigor a anatomia de Malangatana, valorizando a expressão facial, num trabalho que será eternizado em fotografias tiradas pelo seu irmão, a partir do teto da sua casa.
“O meu irmão é o meu drone humano. Ele tira as fotografias que depois são distribuídas pelas minhas redes sociais […] O ‘feedback’ que tenho recebido é positivo”, explica o jovem artista, com mais de 80 mil seguidores só na sua página do Facebook.
Além de Malangatana, no pátio da sua casa, diversas outras figuras já foram desenhadas, entre antigos Presidentes moçambicanos, figuras de referência no panorama político e literário, até futebolistas, como é o caso de Cristiano Ronaldo, a quem um dia Fredy espera entregar pessoalmente um dos vários retratos por ele produzidos em homenagem ao jogador português.
“Eu admiro todas aquelas figuras que fazem um esforço e tornam-se referência. Por exemplo, Cristiano Ronaldo é um jogador que se dedica muito e tem um foco inabalável no seu trabalho”, observa.
Com dezenas de obras produzidas, no chão ou no papel, o sonho do jovem retratista agora é abrir a sua própria galaria, mas os desafios são vários, sobretudo financeiros, quando se tenta “viver de arte” num país sem uma indústria consolidada.
“O meu sonho é viver de arte”, diz o artista, que frequenta o último ano do curso de arte no Instituto Superior de Artes e Cultura de Moçambique.
“Como Malangatana, um dia chegaremos lá”, conclui o jovem retratista.
Malangatana, o mais importante artista plástico moçambicano, morreu em 05 de janeiro de 2011, aos 75 anos, em Portugal, vítima de doença prolongada.
O seu corpo foi transladado para Moçambique, onde foi decretado, na altura, luto nacional, com a bandeira içada a meia haste em todo o território e nas missões diplomáticas e consulares.
EAC // VM
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram