Lince ibérico consolida presença em Castelo Branco após 30 anos de ausência
O lince ibérico consolidou a sua presença na região de Castelo Branco, onde há várias décadas não tinha uma presença regular, disse hoje Samuel Infante, da associação ambientalista Quercus.
Segundo Samuel Infante esta “é uma boa notícia” e “um desafio” para a sua conservação na região, onde este ano foi consolidada a presença do lince ibérico. “Em Castelo Branco, após mais de 30 anos de ausência regular a presença da espécie foi detetada em 2021”, referiu.
Este ano consolidou-se a presença na região de Castelo Branco do lince ibérico (Lynx pardina), que há várias décadas não tinha uma presença regular. “Desde 2021 que a Quercus e o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] têm monitorizado a presença de uma fêmea na região”, sublinhou.
O ambientalista disse ainda que, neste último ano, além da permanência dessa fêmea (Maguilla), “tem havido observações de outros indivíduos, assim como recolha de indícios em vários locais da região, o que indica pelo menos a passagem de outros exemplares”. De acordo com a Quercus, a população de lince-ibérico em Portugal e Espanha atingiu os 1.668 exemplares em 2022.
Em Portugal, o número passou de 209 para 261 em 2022, tendo nascido 86 crias nesse ano. Samuel Infante adiantou que na Extremadura espanhola existem atualmente 176 animais, pelo que é expectável que venham a atravessar a fronteira e entrem na Beira Baixa.
“A área de distribuição de linces-ibéricos foi diminuindo até quase a sua extinção, em grande parte também por causa do declínio da presa preferida desta espécie o coelho-bravo”, sintetizou.
Apenas com o projeto Ibérico de reprodução em cativeiro e reintrodução foi possível inverter o declínio e quase extinção da espécie e recuperar algumas das zonas onde ocorria no passado.
Contudo a presença desta espécie apresenta vários desafios como a questão dos atravessamentos de estradas e o risco de mortalidade por atropelamento, que já foi registado em Portugal.
“Os atropelamentos representam 32% da mortalidade da espécie, nos animais marcados e seguidos por telemetria, pelo que é urgente preparar as infraestruturas viárias da região de Castelo Branco para a presença desta espécie de forma a minimizar o risco de atropelamentos e o efeito barreira”, defendeu o responsável da Quercus.
A intenção do Governo de construir o IC31, uma estrada numa região com elevado património natural e cultural (concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), “põe em causa o modelo de desenvolvimento sustentável e terá um impacto ambiental e social negativo muito significativo”.
A área onde se pretende construir esta infraestrutura linear [IC31] é habitat de Lince ibérico, que são zonas de carvalhais de Carvalho das beiras (Quercus pyrenaica), sobreirais e mosaico agrícola, sendo uma das últimas zonas na região com grande densidade de coelho bravo”, sustentou.
Neste âmbito, a Quercus apela à tutela que aplique a legislação que protege o lince e o seu habitat e implemente um conjunto de medidas efetivas de conservação dirigidas para esta espécie na região de Castelo Branco, nomeadamente que se avalie a permeabilidade das estradas, que sejam aplicadas medidas de minimização nas zonas com presença da espécie e abundância de coelhos.
Pede ainda que se trabalhe com os proprietários e entidades gestoras de zonas de caça da região para preparar a coexistência da espécie e as melhores praticas conhecidas em projetos como o IBerlynx ou o Lynxconnect.
“A Quercus apela também à tutela que sejam dados apoios diretos e majorações a agricultores e proprietários de Castelo Branco que tenham a presença desta espécie nas suas propriedades no âmbito do Plano Estratégico para a Política Agrícola Comum (PEPAC) à semelhança do que esta previsto acontecer para o Alentejo e Algarve”, concluiu.
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