Marcelina é licenciada, mas sobrevive a vender molina nas ruas de Maputo

Marcelina, licenciada há cinco anos, vende molina – sobremesa de mandioca – de esquina em esquina, nos subúrbios de Maputo, para sustentar a família, tal como milhares de graduados moçambicanos que se reinventam face à falta de emprego.

Marcelina é licenciada, mas sobrevive a vender molina nas ruas de Maputo

Enquanto as portas do mercado de emprego continuam fechadas, Marcelina Chipanga, 38 anos, formada em administração entre 2014 e 2019, percorre as ruelas de Mali – bairro periférico da província de Maputo – na busca incansável por um futuro melhor.

Abandonada pelo marido em 2017 com um filho e sem meio de sustento, Marcelina decide criar o seu próprio caminho, inicialmente fazendo `badjias´ – pasteis de feijão -, tendo posteriormente começado a confecionar a molina, que vendia principalmente na faculdade.

Após a formação e inúmeras tentativas frustradas de enquadramento no mercado de emprego, viu-se novamente obrigada a “reinventar-se”.

“Atualmente, vendo molina e bolinhos de coco”, explica à Lusa, instantes após terminar as vendas do dia, que não lhe renderam mais que a metade dos doces, o que lhe é normal porque “raras” vezes consegue vender toda a mercadoria.

O preço dos bolinhos, feitos às primeiras horas da manhã, varia entre os cinco meticais (0,06 cêntimos) e os 110 meticais (1,5 euros), sendo a habitual clientela constituída por estudantes e funcionários de algumas lojas.

Num país onde a juventude enfrenta altas taxas de desemprego e onde o empreendedorismo surge como necessidade, Marcelina continua a sonhar com um “amanhã melhor”.

“Já passam cinco anos, documentos de um lado para o outro, nas correrias, mas não há novidade. Só à espera mesmo”, lamenta.

Diante da falta do emprego, tal como Marcelina, muitos licenciados veem no empreendedorismo um meio para escapar à inatividade e gerar algum rendimento, o que demonstra os reais impactos do desemprego no país.

Dados divulgados pelo Governo indicam que a prevalência do desemprego em Moçambique aumentou em 1,8% no quarto trimestre de 2024, com o registo de 190.558 desempregados, contra 187.149 do terceiro trimestre. 

Estefânia Sega, 27 anos, é outro exemplo da dura realidade pós-formação no país, com um grau em arquitetura e planeamento físico adquirido entre 2017 e 2024, viu os seus sonhos reduzidos desmoronarem quando o mundo profissional lhe virou as costas.

Entre “crises de ansiedade” e dúvidas sobre as capacidades adquiridas, a jovem buscou através do apoio social firmar-se nas suas convicções.

“Eu fico às vezes com aquele receio, será que eu não sei o suficiente? Mas sempre tem alguém lá no `backstage´ (…) que sempre diz ‘tem força, defende aquilo que tu estudaste, tu és capaz, tu consegues”, diz à Lusa.

Com os desafios impostos pelo desemprego, Estefânia decide então trocar os esquissos por linhas e agulhas, e o que inicialmente parecia um desvio de rota, tornou-se uma forma de reencontro com a sua “primeira paixão”, a costura.

“Antes da arquitetura, eu era apaixonada por costura desde muito nova”, confessou, instantes antes de sentar em frente à sua máquina branca, onde costura mais uma peça.

Ao som da máquina de costura, Estefânia recupera a autonomia que o emprego um dia lhe negou, colocando sonhos e metas em cada peça confecionada, sem, no entanto, deixar de considerar voltar à arquitetura.

Apesar dos desafios impostos aos graduados pelo mercado, o número de instituições de ensino superior tem crescido em Moçambique, passando de 53 em 2019 para 57 em 2024, segundo dados do Governo.

A taxa de escolaridade no ensino superior no país é de 8,19%, onde a cada 100 moçambicanos em idade para o ensino superior, apenas 8% estão nesse sistema.

LYCE // VM

Lusa/Fim

 

 

 

By Impala News / Lusa

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