Como Mértola inverteu a desertificação e restaurou a natureza com o apoio de todos
Diretora executiva da WWF Portugal dá o exemplo de Mértola, no Alentejo, como inspiração para o que devemos fazer e o que podemos ganhar ao restaurarmos a natureza.

Ângela Morgado, diretora executiva da WWF Portugal aponta Mértola, no Alentejo, como exemplo do que pode ganhar-se com o restauro da natureza. “Portugal está cheio de lugares que precisam de ser recuperados: florestas e matos queimados, rios reduzidos a fios de água, solos cansados, dunas a desaparecer. Mas o que muitas vezes falta não são planos ou tecnologias – é envolvimento. Falta ouvir o saber de quem vive nos territórios, incluir as comunidades no desenho das soluções, criar espaço para as pessoas contribuírem com o que sabem, com o que sentem, com o que querem para o futuro. Restaurar é reconstruir. E isso exige participação desde o início. Quando as pessoas são chamadas a pensar, a decidir e a agir, os projetos deixam de ser ‘dos outros’ e passam a ser ‘nossos’. Isso muda tudo”, diz.
Além dos ganhos óbvios, a diretora da WWF Portugal considera ainda que há “justiça social” na inversão da desertificação encarada “como destino inevitável”, mas que, “com o envolvimento de todos”, inverteu um processo afinal evitável. “Durante décadas, a desertificação foi encarada como um destino inevitável. Mas, nos últimos anos, diferentes organizações têm vindo a mobilizar a comunidade local para transformar o problema numa oportunidade. Agricultores, técnicos, estudantes e vizinhos juntam-se em ações de restauro agroecológico, usando práticas regenerativas que respeitam o solo, a água e o clima. Há hortas comunitárias, eventos educativos, oficinas para todas as idades. A terra começa a recuperar – e, com ela, recupera também o ânimo de quem ali vive”, regista.
Este envolvimento pode assumir muitas formas, “desde associações locais que limpam e cuidam de ribeiras a escolas que fazem projetos de ciência cidadã, a cooperativas que apostam em práticas agrícolas sustentáveis”, enumera Ângela Morgado. A participação de todos, que “pode passar por ações de voluntariado, orçamentos participativos, ou fóruns de decisão conjunta”, proporcionam a oportunidade para a criação de “canais de diálogo e cooperação, e em garantir que as pessoas não são apenas ‘consultadas’, mas verdadeiramente envolvidas”.
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