Metade das famílias carenciadas com crianças não compra todos os medicamentos que devia

Cerca de metade das famílias mais carenciadas com crianças e jovens até aos 15 anos não compra todos os medicamentos que devia, indicador de uma das principais barreiras no acesso aos cuidados de saúde, segundo um inquérito nacional.

Metade das famílias carenciadas com crianças não compra todos os medicamentos que devia

A conclusão consta do estudo “Acesso das Crianças a Cuidados de Saúde”, realizado por dois investigadores da faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE), Pedro Pita Barros e Carolina Santos, que numa primeira versão divulgada em dezembro indicava já que a pobreza impede muitas famílias de irem a consultas ou urgências.

Na versão final agora divulgada, o relatório mostra que, num país onde os menores estão isentos do pagamento de taxas moderadoras, uma das principais barreiras financeiras no acesso aos cuidados de saúde está relacionada com o custo dos medicamentos.

Numa análise de agregados familiares com crianças e jovens abaixo dos 15 anos, os investigadores concluem que 50,7% das famílias em situação de elevada carência económica (escalão E) em 2022 não adquiriram todos os medicamentos que deviam.

A percentagem é quase três vezes superior em relação às famílias pertencentes ao escalão anterior (17,11%) e 12 vezes superior face aos agregados familiares com menos dificuldades económicas (4,22%).

“Após uma redução deste indicador entre 2015 e 2019/2020, a probabilidade de não aquisição de todos os fármacos aumentou desde então, sobretudo nos escalões socioeconómicos mais desfavorecidos (D e E)”, comparam os investigadores, justificando que “a conjuntura económica dos últimos anos, com inflação elevada, tem acentuado as barreiras financeiras no acesso a cuidados de saúde”.

Outro dos indicadores observados é a substituição de medicamentos de marca por genéricos e, também a esse nível, são identificadas diferenças relacionadas com a situação socioeconómica das famílias.

De maneira geral, nos últimos anos houve um favorecimento por medicamentos genéricos, com a probabilidade de as famílias optarem por genéricos a crescer cerca de 36% em apenas dois anos, de 23,26% em 2020 para 32,31% em 2022.

No entanto, entre os agregados familiares mais e menos carenciados existe uma diferença bastante significativa e enquanto apenas 7,4% das famílias com menos dificuldades optam por genéricos, essa escolha é feita por 66,6% das famílias mais carenciadas.

Em linha com as conclusões adiantadas em dezembro, que mostravam um aumento da percentagem de famílias que não procurou auxílio médico, a versão mais recente do relatório releva que a probabilidade de não ir a uma consulta ou urgência por falta de dinheiro mais que triplicou em apenas um ano, de 2,14% para 7,35%.

As famílias em situação de elevada carência económica apresentam uma percentagem bastante superior à média: duas em cada 10 evitam ir ao médico por esse motivo.

Sem taxas moderadoras, as barreiras económicas no acesso a consultas e urgências estão, por exemplo, relacionadas com o custo de transporte ou os custos associados à aquisição de medicamentos, mas os investigadores apontam também barreiras não financeiras no acesso a cuidados de saúde.

Destacando os médicos de família, o relatório revela que a maioria dos agregados familiares tinha médico atribuído (85,84% entre as famílias com menores de 15 anos e 82,38% nas restantes).

Há, ainda assim, zonas do país com menor cobertura e as taxas mais baixas registam-se na Grande Lisboa, onde apenas 79,09% das famílias com menores de 15 anos e 65,27% das restantes tinham médico de família.

 

MCA (SIM) // JMR

By Impala News / Lusa

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