Mpox: Angolanos continuam a consumir carne de caça e ignoram riscos

Apreciadores de carne de caça, muitos angolanos continuam a procurar os mercados locais para consumir animais selvagens, apesar do Ministério da Saúde desaconselhar o consumo de macacos e roedores devido aos riscos da mpox.

Mpox: Angolanos continuam a consumir carne de caça e ignoram riscos

No Mercado do 30, em Luanda, Fifi Ernesto vende carne fumada de javali, veado e cambuíge (grande roedor), e descarta riscos no seu manuseio associados à doença conhecida popularmente como “varíola dos macacos”.

“É mentira que carne de caça traz doenças, eu, por exemplo, [acho que] a coxa de frango e peixe é comida para as crianças, prefiro sempre carne de caça com outras verduras por ser natural”, garantiu Fifi, de 39 anos, enquanto ajeitava a bancada com enormes quantidades de carne fumada.

São sobretudo mulheres que se encontram na secção da carne seca e fumada, sobretudo de caça, neste enorme mercado do município de Viana, que fica a 30 quilómetros do centro de Luanda, onde a mpox não é motivo de conversa.

Ali é possível encontrar carnes de caça fumada variadas, desde veados e javalis, seixa (espécie de pequeno antílope) e cambuíges (que estão entre os mais procurados), mas escasseia a carne de macaco, apesar da apetência dos clientes.

“Aqui a carne de macaco aparece pouco, porque os vendedores também já não trazem”, acrescentou Fifi.

Para a vendedora, há oito anos naquele mercado, onde a carne seca, fresca e fumada está exposta às moscas e à poeira, sem as recomendáveis condições de higiene, o produto que comercializa não oferece perigo de doença.

“Nós conservamos bem a carne, não sabemos como é conservada lá onde sai [no interior de Angola], mas aqui nas nossas mãos, se estiver molhada deve ir ao fogo [para estar imune aos parasitas] e evitar que apodreça”, explicou.

Também Cristina Afonso, 61 anos, que tem residência na província do Cuando-Cubango, mas comercializa a carne de caça fumada no Mercado do 30, na capital do país, desconhece os riscos da mpox.

“Ainda não ouvi sobre essa doença”, disse, quando questionada sobre a mpox, garantindo, no entanto, que não vende carne de macaco, apesar da procura.

“Há pessoas que comem, mas como não como, também não compro para vender”, justificou, referindo que a carne de veado e de javali que vende é adquirida a caçadores no Cuando-Cubango, província onde abundam florestas, parques e zonas de conservação.

A água salgada constitui o principal meio de conservação deste tipo de carne, de modo a evitar que roedores e vermes contaminem o produto.

Esta carne é molhada (em água salgada) e depois é exposta ao sol, antes de ser guardada, para ser protegida dos bichos, explicou Cristina, lamentando, por outro lado, a redução de clientes naquele que é considerado um dos maiores mercados à céu aberto de Luanda.

Quatro metades de carne fumada estão atualmente a ser comercializadas a 15.000 kwanzas (15 euros).

Iraulo Teka, um dos poucos consumidores da carne de caça que por ali se encontra assumiu desconhecer os riscos da mpox, pedindo mais informação das autoridades sanitárias sobre a doença, com epicentro na República Democrática do Congo, que partilha uma extensa fronteira terrestre e marítima com Angola.

“Ainda não entendi isso [do mpox], mas quem deve saber melhor são as autoridades que fazem a análise daquilo que entra aqui e consumimos”, observou, garantindo ao mesmo tempo que a carne de caça, sobretudo de javali, a sua preferida, “é a melhor”.

Teka, originário da província do Zaire, norte de Angola, recordou que nasceu nas aldeias e que a carne de caça “é a melhor comida”.

“Somos apenas consumidores e não temos medo. O caçador quando sai no mato e vem [com a carne] para mim é um bom consumo”, realçou, queixando-se ainda dos preços ali praticados.

Além da carne fumada, em vários pontos de Angola, sobretudo à beira das estradas que seguem para fora de Luanda, é comum encontrar à venda animais selvagens vivos e mortos, apesar de as autoridades apertarem o cerco à caça furtiva.

O Ministério da Saúde de Angola anunciou que o país ainda não regista casos de mpox e tem desenvolvido medidas de vigilância epidemiológica, visando travar eventuais contágios do vírus, cujo ressurgimento na república democrática do Congo já causou mais de 500 mortes.

Na semana passada o ministério reiterou que devem ser adotadas medidas de proteção individual e coletiva, nomeadamente não caçar, nem comer a carne de macacos e roedores (ratos, camundongos, cambuíge e esquilos) e evitar a exposição direta à carne e sangue destes animais.

A OMS declarou o surto de mpox em África como emergência global de saúde, com casos confirmados entre crianças e adultos de mais de uma dezena de países e uma nova variante em circulação, considerada mais perigosa do que a detetada em 2022.

A nova variante pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre duas pessoas, sem necessidade de contacto sexual.

DYAS // JMC

By Impala News / Lusa

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