Obra da série “Capuchinho Vermelho” de Paula Rego vai a leilão em Lisboa
Uma obra de Paula Rego (1935-2022) da série “Capuchinho Vermelho” vai quinta-feira à praça em Lisboa, com estimativa entre 180 mil e 250 mil euros, segundo o catálogo do leilão de arte moderna e contemporânea organizado pela Veritas.
Intitulada “Mother wears the worlf’s pelt” (“A mãe veste a pele do lobo”, em tradução livre), o quadro em pastel sobre papel faz parte de uma série que retrata o conto do Capuchinho Vermelho, em que uma menina é levada por um lobo a revelar o caminho para casa de sua avó, onde chega antes dela e o pior acontece.
A peça foi exibida nas exposições “Paula Rego”, antológica apresentada no Museu de Serralves, no Porto (2004-2005), na “Family Sayings”, no La Virreina Centre de la Imatge, em Barcelona (2017), na “All the Better to See You With: Fairy Tales Transformed”, no The Ian Potter Museum of Art, em Melbourne (2017-2018), e em “Paula Rego: Folktales and Fairy Tales”, na Casa das Histórias, Cascais (2018), refere o catálogo.
Contactada pela agência Lusa sobre a propriedade da peça, a leiloeira Veritas Art indicou que “Mother wears the worlf’s pelt” pertence a uma coleção particular portuguesa, e estará em exposição a partir de sábado até à realização do leilão presencial, em 14 de novembro, 19:00, em Lisboa.
No quadro com dimensões de 84 por 67 centímetros, a mãe surge sentada, vestida de forma elegante com um vestido de veludo vermelho, numa cadeira giratória do tipo escritório, e usa um chapéu e uma estola de pele, cuja ponta felpuda segura com uma das mãos.
A série de pastéis pintados por Paula Rego sobre o conto escrito no século XVII, a partir de recolhas orais de Charles Perrault e, no século XIX, pelos irmãos Grimm, reúne seis momentos da história.
“Happy Family: Mother, Red Riding Hood and Grandmother” (“Família Feliz: Mãe, Capuchinho Vermelho e Avó”), “Little Red Riding Hood on the Edge” (“Capuchinho Vermelho no limite”), “The Wolf” (“O Lobo”), “The Wolf Chats Up Red Riding Hood” (“O Lobo à conversa com Capuchinho Vermelho”), “Mother Takes Revenge” (“A Mãe a vingar-se”) e, por fim, este pastel em que a mãe veste a pele do lobo, “Mother wears the worlf’s pelt”.
Neste quadro, a outra mão da mãe “paira de forma protetora — sugestivamente — sobre a sua barriga”, descreve, num ensaio sobre a obra, a curadora britânica Fiona Bradley.
“Na dinâmica narrativa da série a que pertence esta pintura, esta mãe, claramente, despachou e esfolou o lobo, dominando-o, batendo a filha em qualquer jogo de poder psicossexual que pudessem estar a jogar. Ternurenta em ‘Happy Family’, determinada em ‘Mother Takes Revenge’ e, nesta pintura, simultaneamente presunçosa e astuta. A mãe vingou-se, mas, de quem? E, quem ou o que está na sua barriga? O lobo? A sua filha?”, questiona a curadora.
Originalmente, o conto servia de advertência, alertando para o cuidado com estranhos. Na versão dos Irmãos Grimm, Capuchinho Vermelho e a sua avó sobrevivem, retirados da barriga do lobo por um caçador que lhe queria a pele.
Nesta série, Paula Rego – que ao longo do percurso artístico se interessou pelos contos infantis como fonte de inspiração – aproveitou a história para explorar vários aspetos do poder feminino, a rivalidade entre mãe e filha, o despertar sexual e a maioridade.
Em 2023, o painel “Avestruzes Bailarinas do filme ‘Fantasia’ de Walt Disney”, de Paula Rego, foi leiloado em Londres por 3,5 milhões de euros, um novo recorde para uma obra da artista portuguesa, e o quadro “Meadow”, pintado pela artista em 1996, foi vendido em junho deste ano num leilão da Sotheby’s, em Londres, por 2,07 milhões de libras (2,45 milhões de euros).
Nascida em Lisboa, Paula Rego começou a desenhar ainda em criança e, com 17 anos, a conselho do pai, foi estudar para a Slade School of Fine Arts, em Londres, cidade onde viria a fixar residência.
Distinguiu-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura e nas experiências pessoais, e marcada, ao longo de décadas, pela defesa dos direitos das mulheres, em séries sobre a opressão e repressão feminina, como a dedicada ao aborto.
AG (TDI/BM) // MAG
By Impala News / Lusa
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