ONU alerta para aumento da fome no Sudão

A fome instalou-se em cinco novas regiões do Sudão devastado pela guerra, segundo um relatório publicado hoje pelo sistema de Classificação das Fases da Segurança Alimentar (IPC) utilizado pelas agências das Nações Unidas.

ONU alerta para aumento da fome no Sudão

O relatório prevê que a situação se estenda à região de Darfur até maio.

Segundo o documento, 638.000 pessoas enfrentam atualmente a fome em três campos de refugiados no Darfur do Norte e nos Montes Nuba, no sul do Sudão. 

Em agosto, o IPC declarou o estado de fome no campo de deslocados internos de Zamzam, no Darfur do Norte.

O Sudão foi dilacerado por 20 meses de combates entre o exército sudanês e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), lideradas por generais rivais, o que conduziu a uma terrível crise humanitária.

A guerra, que começou em abril de 2023, matou dezenas de milhares de pessoas e desenraizou 12 milhões de sudaneses, criando aquilo a que as Nações Unidas chamaram a maior crise de deslocações do mundo.

No seu último relatório, publicado na terça-feira, o IPC afirmou que 638 000 pessoas enfrentam atualmente níveis catastróficos de fome, com mais 8,1 milhões à beira da inanição.

O IPC determinou que a fome era generalizada em três campos no Darfur do Norte, incluindo Zamzam, onde a fome foi oficialmente declarada em agosto, e entre os habitantes e comunidades deslocadas das montanhas de Nuba, na região do Cordofão do Sul.

Entre dezembro e maio, o IPC declarou que 24,6 milhões de pessoas, cerca de metade da população do Sudão, deveriam enfrentar “níveis elevados de insegurança alimentar aguda”.

A guerra entre o exército e as RSF deve-se às fortes divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar – agora declarado como rebelde – nas forças armadas, uma situação que provocou o descarrilamento da transição iniciada após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir, em 2019.

Segunda-feira, o líder do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, instou a ONU a tomar medidas contra os países que apoiam as RSF e que se avance para uma resolução do conflito.

O Presidente do Conselho Militar de Transição do Sudão transmitiu este pedido ao enviado pessoal do secretário-geral da ONU, Ramtane Lamamra, durante uma reunião em Porto Sudão, na qual participou igualmente o ministro dos Negócios Estrangeiros sudanês, Ali Yousef.

Durante a reunião, Al-Burhan reiterou a importância de “as organizações internacionais tomarem medidas decisivas e dissuasoras contra os países que apoiam os rebeldes”, referindo-se aos Emirados Árabes Unidos, que acusou repetidamente de financiarem e fornecerem apoio logístico às RSF.

Al-Burhan considerou que a cessação do apoio aos rebeldes acelerará os passos para o fim do conflito que, por sua vez, conduzirá os cidadãos ao regresso das suas casas e a um processo político que visa a realização de eleições “em que o povo sudanês decidirá sobre o seu futuro político sem intervenção externa”.

Dezenas de milhares de pessoas foram mortas desde o início da guerra em 15 de abril de 2023, enquanto mais de 11 milhões estão deslocadas internamente devido à violência, tornando o Sudão o cenário da pior crise de deslocados internos do mundo, de acordo com a ONU.

 

JSD (NYC) // JPS

By Impala News / Lusa

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