Operação policial no Brasil visa extração ilegal de ouro de terras indígenas
A polícia brasileira efetuou hoje uma operação contra suspeitos de terem movimentado quatro mil milhões de reais (633 milhões de euros) de ouro extraído de terras indígenas para outros estados e ao exterior.
A Polícia Federal informou, em comunicado, que a operação contempla o cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão e nove mandados de prisão nos estados brasileiros do Pará, Roraima, Amapá, São Paulo, Paraná e Goiás. Além disso, foram apreendidos mais de 615 milhões de reais (97,3 milhões de euros) em bens e valores.
Durante um ano de investigações, as autoridades disseram ter descoberto que aproximadamente uma tonelada de ouro foi transportada de maneira ilegal da Amazónia brasileira por pessoas e empresas fantasmas.
Os supostos membros da organização criminosa recrutavam, na sua maioria, estrangeiros para despachar bagagens carregadas com ouro em voos comerciais, de acordo com a autoridade policial.
Além da mineração ilegal, o crime organizado expandiu-se para dentro dos territórios indígenas e outras áreas da maior floresta tropical do planeta. De acordo com especialistas, o Brasil tem sido invadido por organizações criminosas conhecidas pelo tráfico de drogas, problema que já tornou a Amazónia na região mais perigosa no país.
Um relatório divulgado hoje pela Organização Não-Governamental (ONG) Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que a taxa de violência letal na Amazónia no ano passado foi de 32,3 mortes por cada 100 mil habitantes, resultado 41,5% acima da média brasileira.
Apesar de ser a região com a menor densidade populacional no Brasil, a Amazónia registou o ano passado 8.603 homicídios, quase o quinto das 46.328 mortes violentas que ocorreram em todo o país.
Conflitos de terra na região são impulsionados pelo crime organizado, que controla as cadeias produtivas ilegais, como a criação de gado em territórios de desflorestamento, pesca predatória e, principalmente, a mineração em terras indígenas, explicou o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
Embora a região tenha observado redução de 6,2% nas mortes violentas intencionais entre 2021 e 2023, no relatório aponta-se que a migração de violência para zonas rurais e de floresta tornou municípios pequenos e tidos como pacatos em alguns dos mais violentos do país.
Considerando dados de 2021 a 2023, no relatório “‘Cartografias de violência na Amazônia” indica-se que nas 445 cidades que concentram 66,8% da população amazónica registaram-se 83,7% de todos os assassínios da região.
O aumento da violência ocorre em função da expansão das fações criminosas oriundas do sudeste do Brasil e suas alianças ou disputas com grupos locais.
A ONG apontou ser possível afirmar, a partir de um levantamento conservador, a presença destes grupos em pelo menos 260 municípios, dos quais 176 apontam para o monopólio de uma única fação e 84 com a presença de dois ou mais grupos em disputa.
O levantamento constatou também que o domínio que o Comando Vermelho, facão criminosa do Rio de Janeiro, estabelece na região amazónica, é visível em pelo menos 130 municípios, vários dos quais em regiões de fronteira com a Bolívia, o Peru e a Colômbia, maiores produtores de cocaína do mundo.
Já o Primeiro Comando de Capital (PCC), o maior grupo criminoso do Brasil, domina 28 cidades amazónicas, incluindo algumas áreas onde a mineração de ouro ilegal e pedras preciosas ocorre em terras indígenas e reservas ambientais.
CYR // JMC
By Impala News / Lusa
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