Portugal esgota hoje os recursos disponíveis para este ano

Portugal esgota hoje os recursos naturais disponíveis para este ano e começa a usar recursos que só deveriam ser consumidos no próximo ano, segundo dados sobre a pegada ecológica do país divulgados pela associação ambientalista Zero.

Portugal esgota hoje os recursos disponíveis para este ano

De acordo com um comunicado da associação, se a humanidade consumisse como Portugal os recursos para este ano acabavam hoje. Ou, dito de outra forma, “se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos”.

Os dados atualizados deste ano, em parceria com a organização “Global Footprint Network”, indicam que se mantém o mesmo dia do ano passado, 07 de maio, em que o país passa a usar o cartão de crédito ambiental. “Portugal é, já há muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo). O mais preocupante é que a ‘dívida ambiental’ portuguesa tem vindo a aumentar”, alerta a Zero. Este desequilíbrio, explica, tem a ver com o modelo de produção e de consumo que suporta o estilo de vida no país.

O consumo de alimentos (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) estão entre as atividades humanas que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da Pegada. A Zero cita dados oficiais para lembrar que a circularidade dos materiais em Portugal é de apenas 2,2%, quando a média comunitária está quase nos 13%, que os portugueses comem cerca de três vezes mais proteína animal do que deviam, em detrimento dos legumes e frutas, e que só 9,7% do consumo final bruto de energia nos transportes provém de fontes renováveis.

Para reduzir a dívida ambiental portuguesa, a Zero defende a aposta numa agricultura virada para alimentos de qualidade, preservando os solos e reduzindo a poluição e o uso de água, o aproveitamento do potencial do teletrabalho, reduzindo deslocações, o investimento em modos suaves de transporte e transportes públicos, bem como na sustentabilidade dos produtos (reparar, reutilizar e reciclar, por exemplo).

E cada português pode contribuir para essa redução. A Zero dá exemplos, a começar pela redução da presença de proteína animal na alimentação, porque cada português come mais proteína animal do que recomenda a roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas.

É importante também que as pessoas se movimentem de forma sustentável, quer privilegiando os transportes coletivos, quer andando a pé ou de bicicleta. E que acabem com o hábito do “usar e deitar fora”, escolhendo antes “ter menos, mas de melhor qualidade”. De acordo com os dados da “Global Footprint Network” países como a Alemanha (04 de maio) ou a França (05 de maio) também já esgotaram os seus recursos para este ano. Espanha esgota os recursos já no dia 12.

Segundo o mapa, o primeiro país a esgotar os recursos para este ano foi o Qatar, logo a 10 de fevereiro, seguindo-se o Luxemburgo a 14. Em março esgotaram os recursos países como o Canadá, Estados Unidos, Austrália, Bélgica ou Dinamarca, em abril a Suécia, a Áustria, a Rússia ou a Irlanda, e ainda este mês o Reino Unido, a Grécia ou a Hungria. Nos meses de verão predominam no mapa os países da América do Sul e a dezembro chegam três países: a Indonésia, o Equador e Jamaica.

Os dados indicam que seriam precisos 5,1 planetas se todos fossem norte-americanos, 4,5 planetas se o mundo fosse como a Austrália e apenas 0,8 planetas se todos vivessem como os indianos. A Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços, a biocapacidade.

A associação explica que a Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (por exemplo, o dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis), e que a biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.

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