Português Nuno Júdice e brasileira Micheliny Verunschk vencem prémio de literatura Oceanos
Os livros “Uma colheita de silêncios”, de Nuno Júdice, autor português morto em março, e “Caminhando com os mortos”, da brasileira Micheliny Verunschk, venceram, na quinta-feira, o Oceanos — Prémio de Literatura em Língua Portuguesa.
O prémio, organizado anualmente no Brasil, distingue obras escritas em língua portuguesa, publicadas em qualquer país do mundo.
Nuno Júdice, que morreu em Lisboa, aos 74 anos, em março, dizia que o mais relevante na sua poesia é a imagem, a possibilidade de ver e dar a ver, “o que fica nas palavras daquilo que se viveu”.
Último livro de poemas publicado em vida, “Uma colheita de silêncios”, fala do mundo em volta, multiplicando referências históricas, de arte e literatura, para abordar esses “silêncios” vindos da passagem do tempo, e que são tudo ou quase tudo.
Na cerimónia, Manuel da Costa Pinto, curador do Oceanos para o Brasil, homenageou o autor português lembrando que “Nuno Júdice via a finitude com melancolia, mas, para o poeta, a poesia podia transcender esse limite, como deixou eternizado nesses versos”.
“Porém, o melhor é esconder a mão e não fazer contas pelos dedos: há equações que nunca se resolvem, e talvez seja melhor não as aprender, apenas para sentir, no que é finito, o sabor do infinito”, acrescentou Costa Pinto, citando parte do poema “Meditação num fim de ano”, escrito pelo vencedor da categoria poesia pelo júri final do Oceanos.
Poeta, ficcionista, tradutor e dramaturgo, Nuno Júdice deixou uma obra literária com perto de 80 títulos, que se estendem ao conto, ao romance e ao ensaio.
Já a romancista brasileira, Micheliny Verunschk, presente no anúncio dos vencedores desta edição do Oceanos, afirmou que a distinção é individual, mas também “um prémio da língua portuguesa”.
“Dessa língua que é tão bela, tão pungente, tão forte. E, num mundo em ruínas como o nosso, a gente ter a arte, a palavra, a literatura como guia é, talvez, penso, não sei, um farol para uma reconstrução ou de um novo mundo ou um apocalipse que nos seja educativo”, completou.
O livro “Caminhando com os mortos” retrata um crime que choca os moradores de uma pequena cidade no interior do Brasil. Uma mulher é queimada viva, num ritual motivado por razões religiosas, a fim de purificar a vítima e endireitá-la para o “caminho do bem”.
Além de Micheliny Verunschk, concorreram na final da categoria prosa, o livro de contos “Certas raízes”, da portuguesa Hélia Correia, “Os infortúnios de um governador nos trópicos”, do cabo-verdiano Germano Almeida, e as obras “Outono de carne estranha”, do brasileiro Airton Souza, e “Meu irmão, eu mesmo”, do brasileiro João Silvério Trevisan.
Em poesia, os outras obras finalistas foram “Criação do fogo”, do moçambicano Álvaro Taruma, “Limalha”, do brasileiro Rodrigo Lobo Damasceno, “Perder o pio a emendar a morte”, do cabo-verdiano José Luiz Tavares, e “Uma volta pela lagoa”, da brasileira Juliana Krapp.
A partir de 2023, os organizadores do prémio dividiram as inscrições em duas categorias: prosa (que também incluiu obras de dramaturgia) e poesia. Os autores selecionados nessas categorias foram avaliados por três júris diferentes.
Na edição deste ano, concorreram 2.619 livros de autores residentes em 28 países, sendo esse total divido em 1.204 obras de poesia, 836 romances, 389 contos, 156 crónicas e 34 dramaturgias.
Participaram escritores de Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Espanha, Guiné-Bissau, Índia, Itália, Moçambique, Palestina, Portugal, São Tomé e Príncipe e Uruguai.
Os autores distinguidos vão receber um prémio monetário total de 300 mil reais (47,1 mil euros), a dividir por cada um dos vencedores.
O Oceanos é realizado por via da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Brasil, e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, com o apoio do Itaú Cultural, do Ministério da Cultura e do Turismo de Moçambique, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
CYR // EJ
By Impala News / Lusa
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