Quatro países juntam-se para criar parques urbanos ‘lixo zero’

Organizações de Portugal, Espanha, Polónia e Bélgica juntaram-se numa iniciativa que visa criar uma Rede Europeia de Parques Urbanos Lixo Zero, locais de bem-estar, que respeitem e protejam a natureza e com práticas mais sustentáveis.

Quatro países juntam-se para criar parques urbanos 'lixo zero'

No próximo ano, como explicou à Agência Lusa Maria Cristina Sousa, coordenadora em Portugal do projeto ‘Zero Waste Urban Parks’, será publicado um manual prático, nos idiomas dos quatro países e em inglês, que pode servir de referência, com orientações para implementar medidas lixo zero em parques urbanos de toda a Europa.

Maria Cristina Sousa é membro da direção da “Zero Waste Lab”, uma organização não-governamental para o desenvolvimento, que em Portugal acolhe a iniciativa dos parques urbanos, financiada pelo Programa Erasmus+, da União Europeia.

Um encontro internacional dedicado aos Parques Urbanos Lixo Zero, que vai decorrer em Lisboa de terça a sexta-feira no Instituto Superior de Agronomia (ISA), vai fazer a apresentação pública do projeto e trocas de experiencias, formação e visitas guiadas a vários parques da capital.

Bélgica e Espanha já organizaram encontros do género, e ainda este ano, em outubro, será a vez da Polónia, concluindo-se o projeto no próximo ano, com a divulgação do manual.

“Desde 2023 temos promovido a troca de conhecimentos em vários países”, com visitas a locais na Bélgica e em Espanha que estão envolvidos no projeto, e agora será a vez de Portugal mostrar o que está a ser feito na Tapada da Ajuda, um parque botânico de cerca de 100 hectares onde fica o ISA, mas também dar a conhecer outros parques urbanos da capital, explica Maria Cristina Sousa.

“Lisboa tem investido na melhoria dos parques verdes”, diz, salientando que serão visitados parques da zona oriental de Lisboa, onde projetos como o “Life Lungs” e “Connexus”, geridos pela autarquia, promovem práticas sustentáveis.

Na Tapada da Ajuda estão a ser capacitadas equipas internas. Maria Cristina Sousa explica que hoje o parque já tem compostores, junto das hortas comunitárias, “tem inovações que têm a ver com a redução de desperdícios”, e tem painéis solares instalados por cima de uma vinha, “fazendo sombreamento”.

A Tapada da Ajuda, que será o primeiro Parque Urbano Lixo Zero em Portugal, tem ainda uma casa sustentável, com monitorização e circularidade de consumos e resíduos. E tem um lema que já faz parte da comunidade de visitantes: “Não leve só memórias, leve também o seu lixo”.

O objetivo, diz a responsável, é que o lema e as ideias não fiquem pela Tapada, que o conceito de “lixo zero” se instale no espaço público, que as boas práticas se espalhem e que os visitantes dos parques tenham “essa experiência imersiva de práticas mais sustentáveis” e que sejam depois agentes de expansão dessas práticas.

“Queremos criar essa consciência entre os gestores dos parques, os visitantes, as equipas de limpeza, os serviços subcontratados, os concessionários de espaços, como quiosques. O objetivo é provocar bem-estar com medidas práticas”.

Maria Cristina Sousa admite que não é fácil nem rápido esse trabalho, diz que no ISA há a expectativa de ver como se comporta a comunidade estudantil, fala do trabalho de comunicação e sensibilização que tem vindo a ser feito, de levar as pessoas a decidirem por reutilizar em vez de comprar, de mostrar, por exemplo, que um pequeno rebanho de ovelhas pode ser a forma mais eficiente de fazer controlo de vegetação.

E acredita que o trabalho a ser desenvolvido no ISA “é só uma primeira fase de algo maior”, que o catálogo a ser divulgado no próximo ano pode inspirar outros movimentos.

Pode ser também um ponto de partida para a criação de uma Rede Europeia de Parques Urbanos Lixo Zero, sem embalagens descartáveis e adotando processos sustentáveis. Porque o futuro não pode passar por embalagens entre a vegetação e pedaços de cartão deixados após um piquenique.

Da área total da cidade de Lisboa, 34% é uma rede de parques urbanos, entre corredores verdes pequenos e jardins extensos. Ainda que menos do que a média europeia, 45%, são espaços “de elevada importância para a qualidade da vida urbana, funcionando como uma bolha de bem-estar e de regulação ambiental e servindo de exemplo para boas práticas ecológicas”, salienta a “Zero Waste Lab” num comunicado.

É ainda Maria Cristina Sousa quem, numa frase, sintetiza toda a filosofia do projeto: “Pretendemos provocar mudanças de comportamento não só da população mas de quem tem responsabilidades de gestão”.

FP // JMR

By Impala News / Lusa

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