Universidade de Coimbra cria rede de pesca biodegradável para proteger oceanos
A criação de uma rede biodegradável e a avaliação das capturas realizadas por embarcações locais na costa portuguesa são dois projetos da Universidade de Coimbra (UC) que visam a sustentabilidade da pesca artesanal e a proteção dos oceanos.
A criação de uma rede biodegradável e a avaliação das capturas realizadas por embarcações locais na costa portuguesa são dois projetos da Universidade de Coimbra (UC) que visam a sustentabilidade da pesca artesanal e a proteção dos oceanos. A BIOREDE nasceu de uma investigação científica no âmbito da ação UC MAR (Transferência de Conhecimento ao Serviço da Economia do Mar), visando a criação de uma rede de pesca totalmente biodegradável e biocompatível, que possa substituir as atuais, feitas de nylon, fibra sintética da família dos plásticos.
As redes atuais “são feitas de material plástico não degradável, pelo que se torna imperativo apostar na inovação e no desenvolvimento de novas redes biodegradáveis que contribuam para eliminar o flagelo que se observa atualmente das mortes de espécies marinhas, devido ao contacto com as redes que se perdem durante os atos de pesca”, lê-se na explicação do projeto do Departamento de Engenharia Química da UC.
“Assim, uma das oportunidades de inovação passa pela mudança do plástico tradicional como matéria-prima da cordoaria para um produto biodegradável e compostável que possa ao mesmo tempo ter a resistência adequada à faina pesqueira”, acrescenta.
Os investigadores firmaram na Figueira da Foz uma parceria com a associação de pesca local FigPesca, que irá testar a nova rede em condições reais, no mar, durante a faina. “Apresentaram o projeto e achei interessante, para ver se conseguimos olhar um bocadinho pelo ambiente e pelo mar. Há muito lixo. Vamos ver se a utilização desta rede vem resolver certos problemas que existem no oceano”, disse à agência Lusa Alexandre Carvalho, vice-presidente da FigPesca, associação que representa cerca de 50 armadores.”Está pronta para ir para o mar, vamos ver como se vai portar. Mas ainda tem de inovar um bocado na questão do material”, notou o pescador.
A equipa científica, liderada por Arménio Serra, criou um primeiro protótipo funcional, que teve dificuldades de desenvolvimento e não é, ainda, a rede final: “Houve várias dificuldades, primeiro logo na produção do fio”, frisou. O investigador explicou que a produção implicou a adaptação das máquinas industriais “hoje em dia dedicadas, sobretudo, à produção de [plásticos] polietileno e polipropileno”, para se conseguir fazer um fio resultante da combinação dos novos materiais biodegradáveis.
A Sicor — Sociedade Industrial de Cordoaria foi responsável pelo fio e entregou 150 quilos à LusoRedes, que produziu a rede de pesca, em consonância com as necessidades do pescador Alexandre Carvalho, quer no tamanho, quer na distância das malhas. Embora um teste efetuado, chamado teste dos nós, tenha demonstrado “que o monofilamento cumpria os requisitos, tendo um comportamento semelhante aos filamentos das redes de pesca convencionais”, Arménio Serra admite que a BIOREDE apresenta “alguma fragilidade na produção dos nós”.
“Uma rede é constituída por nós e a parte do nó ainda não está estável. Há ali coisas que temos de trabalhar para aumentar o que o pescador chama ‘a resistência ao nó’. E também a densidade da rede, a cor da rede [branca, em comparação com os tons de verde das redes tradicionais] que também é muito importante, e a própria maneabilidade da rede, como é que ela trabalha dentro do mar”, assinalou. “Tudo isso foram questões que o senhor Alexandre colocou e que agora vão ser testadas, para ir mudando os materiais e ter uma rede cada vez mais próxima do que a gente quer”, frisou o investigador da UC.
Paralelamente à BIOREDE, outro projeto da UC MAR, denominado ART FISH, assenta na avaliação das espécies capturadas por embarcações de pesca local — que representam quase 80% da frota pesqueira nacional – na costa entre a Figueira da Foz e Viana do Castelo. “É um setor muito importante da pesca em Portugal. Conseguimos perceber que, neste momento, as espécies mais pescadas são a faneca, o sargo e o robalo, mas isto são os dados todos juntos, há muito variedade territorial e essa é uma questão que ainda vamos avaliar até terminar o projeto”, disse à Lusa Filipe Martinho, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.
Comum aos dois projetos é a colaboração voluntária dos pescadores com a Ciência e também a preocupação dos profissionais da pesca com o futuro da atividade, destacadas pelos investigadores. “Muitos destes pescadores da pequena pesca já têm noção de que cada vez há menos recursos, cada vez é mais difícil pescarem e percebem que se tem de começar a criar medidas, épocas de defeso, que se tem de ter uma visão a longo prazo e não a curto prazo, a pescar tudo amanhã”, afirmou, por seu turno, Milene Guerreiro, também do Centro de Ecologia Funcional da UC. A investigadora enalteceu ainda a colaboração “essencial” dos pescadores com a Ciência, para levar os projetos da Universidade de Coimbra “a bom porto”.
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