Barricadas, pneus em chamas e intervenção policial em Maputo enquanto deputados tomam posse

Agitação social, barricadas e pneus a arder, com a polícia a realizar disparos para dispersar manifestantes, voltaram esta manhã a algumas zonas de Maputo, ao mesmo tempo que no parlamento eram empossados os deputados eleitos à X legislatura.

Barricadas, pneus em chamas e intervenção policial em Maputo enquanto deputados tomam posse

No mercado do Xiquelene, a polícia realizou vários disparos e lançou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que, pacificamente, embora com barricadas na estrada, contestavam a tomada de posse que decorria em simultâneo na Assembleia da República, boicotada pelos deputados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que não reconhecem os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro.

“Todo o mundo aqui saiu com o intuito de vir vender e não fazer manifestação, mas o que acontece é que a polícia da UIR [Unidade de Intervenção Rápida] chegou aqui e começou a disparar. Levou alguns jovens, meteu dentro do carro e começou a bater. A nossa pergunta é: O que nós fizemos hoje”, questiona Glória Langa, vendedora naquele mercado.

Pouco depois, com alguns populares que tentavam imobilizar as poucas viaturas que circulavam, elementos da UIR, numa viatura blindada, voltavam a fazer vários disparos de gás lacrimogéneo.

“Manifestar de forma pacífica. É o que nós estamos a fazer aqui, não há nenhuma barricada, não há nenhuma confusão, mas estamos a ouvir tiros (…) Qual é mal que nós fizemos”, acrescenta Glória, retorquindo: “O que eles querem de nós? É nos matar? Então que nos matem a todos nós, para eles poderem governar”.

Enquanto alguns populares apresentam vários invólucros de munições de metralhadora disparadas minutos antes, Carlos Milagre queixa-se de ter sido carregado e agredido pela polícia, embora afirme que estava apenas no passeio do mercado.

“Chegaram ali, meteram-me à força no carro, bateram-me a dizer que eu fechei a estrada, enquanto eu lá não estive”, garante, perante a fúria popular contra o blindado da UIR que ia fazendo disparos de gás lacrimogéneo para dispersar pequenos grupos.

A cerca de dois quilómetros do parlamento, a avenida Acordos de Lusaka foi tomada por pneus em chamas, enquanto a polícia tentava, sem sucesso, desmobilizar os manifestantes, que ainda viravam contentores do lixo para travar a circulação automóvel, juntamente com pedras, vidros e paus.

“O protesto que estamos a fazer é pelo melhor do nosso país. Já há 50 anos que a Frelimo está a governar e não muda nada”, queixa-se Abdul Carvalho, lamentando que pouco se fale das vítimas destas manifestações, segundo organizações no terreno quase 300 mortos e mais de 600 atingidos a tiro desde 21 de outubro.

“Eu conheço, tenho três pessoas. Uns vizinhos, um dos meus primos já morreu”, afirma, enquanto os pneus em chamas levavam um espesso fumo negro a toda a avenida, apesar da chuva que ia caindo.

“Por que estão a matar”, questionava ainda Abdul, garantindo: “O povo está cansado, é isso que nós queremos mudar”.

“Acredito que isto vai piorar (…) Não é arma que muda um país, é o povo”, diz ainda.

A Assembleia da República de Moçambique empossou hoje os deputados eleitos à X legislatura, mas dois dos partidos, Renamo, com 28 deputados, e MDM, com oito, cumpriram com o que anunciaram e boicotaram a cerimónia, contestando o processo eleitoral, dia em que estão convocados novos protestos no país.

Os 250 deputados eleitos à X Legislatura da Assembleia da República foram convocados para tomar posse hoje, às 10:00 locais (08:00 em Lisboa), na sede do parlamento, em Maputo, numa cerimónia solene que foi dirigida pelo Presidente da República cessante, Filipe Nyusi.

A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder e que mantém a maioria no parlamento) elegeu a ex-ministra Margarida Talapa como presidente do parlamento, segunda figura do Estado moçambicano.

Além da Frelimo, tomaram posse 39 dos 43 deputados do Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), até agora extraparlamentar e que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, passando a ser o maior da oposição, contrariando o pedido de Venâncio Mondlane, para não tomarem posse.

Fonte do partido confirmou à Lusa que os quatro deputados da formação política que faltaram à tomada de posse vão “regularizar a situação nos próximos dias”.

Venâncio Mondlane apelou no sábado a três dias de paralisação em Moçambique a partir de hoje, e a “manifestações pacíficas” durante a posse dos deputados ao parlamento e do novo Presidente moçambicano, contestando o processo eleitoral.

Mondlane regressou a Moçambique na quinta-feira, após dois meses e meio no exterior, alegando questões de segurança, e insiste em não reconhecer os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, em que a Frelimo elegeu o seu candidato presidencial, Daniel Chapo, manteve a maioria parlamentar, com 171 deputados, contra os atuais 184, e todos os governadores de província, segundo os resultados proclamados pelo CC em 23 de dezembro.

 

PVJ // VM

By Impala News / Lusa

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