Denúncias de violência no namoro aumentam 70% entre estudantes

Nos últimos 5 anos, as denúncias de violência no namoro entre jovens aumentaram 70% e cerca de metade são entre ex-namorados. Humilhações verbais à frente de amigos, ciúmes desmedidos e agressões físicas são algumas formas de violência no namoro entre jovens estudantes, muitos deles menores.

Denúncias de violência no namoro aumentam 70% entre estudantes

1787 denúncias de violência no namoro em 2016. Estes são os dados revelados esta segunda-feira pela PSP, através do Programa Escola Segura que abrange cerca de 1,1 milhões de alunos.

Nos últimos 5 anos, verificou-se no total um aumento de cerca de 70% das queixas. Do total destas denúncias, mais de metade são entre ex-namorados, representando 1020 casos.

No que diz respeito a queixas realizadas por menores de 17 anos foram registadas 103 denúncias, observando-se um aumento de 30% desde 2012. Em casos exclusivamente entre ex-namorados foi detectado um aumento de cerca de 40%.

A verdade é que, nos últimos anos, a tendência é sempre a mesma: o aumento progressivo de casos de violência no namoro entre jovens.

Principais factores da violência no namoro entre jovens 

Um dos principais problemas é que as vítimas, menores de 18 anos, não contam aos pais que estão a ser alvo de violência no namoro. É comum em Portugal, os pais e os filhos não falarem abertamente sobre namoros e sexualidade, tornando esta falha de comunicação num dos obstáculo à sinalização de casos de violência no namoro. Geralmente, as vítimas contactam primeiro com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) antes de contarem aos próprios pais. A APAV acaba por ser quem contacta com os encarregados de educação e lhes expõe a situação.

O aumento de casos de violência entre ex-namorados está normalmente relacionado com o facto de muitos jovens não aceitarem o fim da relação, avançando para a actos de violência. Este fenómeno é especialmente preocupante, visto que demonstra que o sentimento de posse é um valor relacionado às relações amorosas entre jovens portugueses.

Muitas vezes começa nas redes sociais. Comentários negativos evoluem para insultos verbais, chegando a agressões físicas. Estas práticas violentas e contra a dignidade humana acontecem entre namorados e ainda são vistas por muitas pessoas, em Portugal, como actos normais e comuns nas relações.

Apesar de a violência no namoro ser transversal a qualquer idade ou classe social é alarmante o aumento das agressões nas relações amorosas entre jovens estudantes.

A maior parte das vítimas de violência no namoro continuam a ser do sexo feminino. O controlo, por parte dos namorados, de como se vestem ou com quem falam nas redes sociais é um tipo de violência psicológica comum dos rapazes exercerem sobre as raparigas. Casos de primeiras experiências sexuais forçadas e de traições culpadas no parceiro/a que foi traído são algumas das práticas mais recorrentes entre jovens casais. Contudo,  existe cada vez mais casos de violência mútua, onde ambos os jovens se agredirem, onde a vítima e o agressor são a mesma pessoa.

O lado positivo de um cenário preocupante

O facto de as denúncias terem aumentado demonstra que, acima de tudo, ainda estamos numa fase de desocultação deste problema na nossa sociedade. Só agora é que jovens começam a expor e a tomar medidas em relação à violência no namoro.  Graças às alterações na legislação e à informação partilhada pelas acções de sensibilização, os jovens sentem-se cada vez mais apoiados e protegidos para denunciarem a violência a que são sujeitos pelos seus companheiros/as.

Não é por acaso que o aumento das denúncias em 2016 coincide com o aumento de 32,5% das acções de sensibilização sobre violência no namoro de 2015 para 2016. Tal como, não será uma coincidência, que o ano em que houve mais denúncias registadas, tenha sido em 2013. Ano em que a violência no namoro passou a ser a punida criminalmente e integrada no crime público de violência doméstica.

 

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