“Violência foi de tal ordem que era impossível estancar na fronteira”, diz REN sobre ‘Apagão’

O administrador executivo da REN João Conceição não tem dúvidas que todo o setor fez bem o trabalho de casa, mas detalhou hoje que dados mostram que o apagão que teve origem em Espanha era impossível de travar na fronteira.

Um mês depois do incidente que cortou o fornecimento de eletricidade em Portugal e Espanha, João Conceição assegurou que já têm mais informações do que as que são públicas. Porém, considera que “não seria correto” partilhar tendo em conta que existem várias investigações em curso.

O gestor falava no seminário “Segurança de Abastecimento em Portugal”, que decorreu em Lisboa, no âmbito do Dia Mundial de Energia que se assinala hoje.

No entanto, adiantou que há um facto que já pode confirmar: “Teve origem em Espanha”.

Além disso, o administrador da gestora das redes elétricas nacionais avançou com mais detalhes técnicos para sustentar que os sistemas de deslastre – interrupção de alimentação de alguns consumos para evitar a sobrecarga do sistema – funcionaram.

“A dimensão do problema é que foi de tal ordem violenta que não existem medidas mitigadoras possíveis para estancar na fronteia”, referiu. Por isso, “dá-se o apagão”, acrescentou.

Mas olhando para trás, João Conceição não tem dúvidas de que a REN fez o trabalho de casa que tinha a fazer, e não foi a única.

“O setor todo fez”, destacou.

Na quarta-feira, 28 de maio, a REN — Redes Energéticas Nacionais e a E-Redes entregaram ao regulador do setor (ERSE) o relatório sobre o apagão elétrico de 28 de abril, tendo ambas pedido que seja considerado “evento excecional”.

A classificação do evento poderá ser determinante para o eventual pagamento de indemnizações. Se for considerado excecional, a obrigação de indemnizar os consumidores poderá ser atenuada ou mesmo anulada.

Durante o seminário, João Conceição lembrou ainda que o setor “complexificou-se de uma forma bastante expressiva e tornou-se bastante mais democrático”.

“Hoje toda a gente consegue ser consumidor e produtor de energia, o que significa que estamos numa fase da transição energética crucial”, referiu, acrescentando que é preciso continuar este caminho para garantir até “que não haja novos apagões”.

Para complementar as necessidades de reforço da segurança da rede, é ainda “imprescindível o desenvolvimento de soluções de armazenamento não só em termos técnicos, mas também económicos e de mercado”, disse.

Já o diretor da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), Paulo Carmona, comentou que o recente apagão “serviu como um teste muito importante para a resiliência do sistema elétrico” e para ver se os ‘blackstart’ funcionavam”.

Na sequência do apagão foram ativadas centrais com capacidade autónoma de arranque (blackstart), como as de Castelo de Bode e Tapada do Outeiro. A ERSE já determinou à REN a contratação de mais duas centrais com essa capacidade — Baixo Sabor e Alqueva — que deverão entrar em funcionamento a partir de 01 de janeiro de 2026.

“Foi um “check up” para nos prepararmos para um evento realmente mau como uma sabotagem”, acrescentou o responsável da DGEG.

Por fim, a E-Redes destacou que o tempo de reposição da energia “foi muito bom tendo em conta padrões internacionais”.

José Ferrari Careto contou ainda que no dia do apagão a empresa responsável pela distribuição da energia tinha 600 pessoas no terreno caso fosse necessário.

O apagão causou interrupções significativas no fornecimento de eletricidade em Portugal, Espanha e partes da França. As investigações preliminares apontam para uma perda súbita de geração de energia solar como possível causa, mas as conclusões definitivas ainda estão pendentes.

A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade está a investigar as causas deste apagão, que classificou como excecional e grave. Este painel de peritos terá de elaborar um relatório factual que servirá de base ao relatório final, a concluir até 28 de outubro deste ano.

SCR // MSF

By Impala News / Lusa

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