Guterres deixa aberta possibilidade de reconhecer Governo HTS na Síria
O secretário-geral da ONU deixou hoje aberta a possibilidade de reconhecer a legitimidade de um eventual Governo da Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS), que liderou o derrube do ex-Presidente sírio Bashar al-Assad.
“Penso que estamos todos ansiosos por saber o que o futuro nos reserva, mas penso que temos de levar as coisas aos poucos, vendo como vão progredindo dia após dia e mantendo determinados objetivos”, disse hoje o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric no seu ‘briefing’ diário à imprensa, em Nova Iorque.
Além disso, a Secretaria-Geral da ONU sublinhou que “a Síria, independentemente das mudanças que tenham sido feitas, continua obviamente a ser um Estado membro” da organização.
De momento, o gabinete de Guterres permanece cauteloso, mas informou que tem “contactos operacionais” com o HTS – bem como com outros actores-chave no conflito, como a Turquia – através da missão do enviado especial da ONU para Síria, Geir Pedersen.
O HTS, herdeiro da Frente Al Nusra — ex-afiliada da Al Qaeda na Síria — assumiu o controlo das principais cidades sírias e declarou Damasco “livre da ditadura” de Assad no domingo, após uma ofensiva de apenas 12 dias.
Este grupo insurgente, em colaboração com diferentes facções rebeldes, derrubou oficialmente o antigo Presidente sírio e pediu hoje aos milhões de refugiados que foram forçados a abandonar o seu país para regressarem e “contribuírem para a construção do futuro”.
Incumbiram Mohamed al-Bashir, o líder do “Governo de Salvação” – a administração de fato na província síria do norte de Idlib controlada pelo HTS – de formar um governo de transição na Síria.
O porta-voz de Guterres também pediu tempo para considerar a possibilidade de excluir o HTS da lista de organizações terroristas da qual faz parte desde 2018.
Embora o HTS insista que não tem ambições ‘jihadistas’ nem faz parte de entidades externas, a ONU, a União Europeia e potências como os Estados Unidos, entre muitas outras, ainda o consideram uma organização terrorista.
“O Conselho de Segurança tomará essa decisão. Agora temos que lidar com o imediato, com a realidade do momento (…) A exclusão da lista depende dos membros do Conselho de Segurança”, disse Dujarric.
O partido sírio Baas, do ex-Presidente Bashar al-Assad, declarou hoje apoiar a fase de transição no país.
“Continuaremos a apoiar uma fase de transição na Síria visando defender a unidade do país”, declarou o secretário-geral do partido, Ibrahim al-Hadid, em comunicado.
O HTS, após a tomada de poder na Síria, lançou vários comunicados nos quais prometeu tolerância em relação aos seguidores de diferentes igrejas e confissões no país, e advertiu os seus membros de que devem evitar maus-tratos ou agressões aos civis.
Segundo a Associated Press (AP), muitos funcionários públicos não retomaram funções, e um responsável das Nações Unidas alertou que o setor público do país está paralisado, causando problemas em aeroportos e fronteiras e desacelerando o fluxo de ajuda humanitária.
O setor público “parou completa e abruptamente”, disse Adam Abdelmoula, coordenador residente humanitário da ONU para a Síria, observando, que um voo de ajuda carregando abastecimentos médicos urgentemente necessários foi suspenso após os funcionários da aviação abandonarem os postos de trabalho.
“Este é um país que teve um único governo durante 53 anos e, de repente, todos aqueles que foram demonizados pela comunicação social pública agora estão no comando na capital do país,” disse Abdelmoula à AP.
O Presidente sírio, que esteve no poder 24 anos, deixou o país perante a ofensiva rebelde e asilou-se na Rússia, segundo as agências de notícias russas TASS e Ria Novost.
Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, enquanto a maioria dos países ocidentais e árabes se mostrou satisfeita por Damasco deixar de estar nas mãos do clã Assad.
No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baas foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.
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By Impala News / Lusa
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