Identificadas 843 raparigas em uniões prematuras em província do sul de Moçambique

Um total de 843 raparigas estão em uniões prematuras em Inhambane, no sul de Moçambique, anunciou hoje o governador da província, criticando o “olhar sereno” das autoridades tradicionais e comunitárias.

Identificadas 843 raparigas em uniões prematuras em província do sul de Moçambique

“Os resultados apontam para um total de 843 raparigas em uniões prematuras, sendo 378 mapeadas na primeira fase, entre 2019 e 2020, 302 na segunda fase, entre 2021 e 2022, e 163 casos mapeados no período entre 2022 e 2024”, disse Francisco Pagula, governador de Inhambane, durante o lançamento de um plano para o combate às uniões prematuras na província.

Segundo o responsável, Inhambane “destaca-se negativamente” pela tendência crescente dos casos de uniões forçadas nos últimos anos, entre 2019 e 2024, em cerimónias que são realizadas sob um “olhar sereno” dos líderes tradicionais, comunitários e religiosos.

“As cerimónias são dirigidas por alguns líderes religiosos, numa clara e flagrante cumplicidade de quem devia proteger a rapariga. Assim, desafiamos cada líder comunitário ou religioso a assumir o compromisso de garantir zero uniões prematuras na nossa província”, referiu o governador, apontando a pobreza, hábitos culturais e superstição como algumas das razões que colocam raparigas em uniões prematuras.

Moçambique é o segundo país com mais casos de uniões prematuras na África austral, com 48% das raparigas a casarem antes dos 18 anos e 14% antes dos 15, segundo um relatório da organização não-governamental (ONG) Oxfam.

“Em Moçambique, a região do norte e a do centro são as que apresentam as maiores taxas de uniões prematuras, entre os 57% e os 62%, sendo Nampula e Cabo Delgado as províncias onde o problema é maior”, lê-se no documento da ONG.

Segundo a Oxfam, Moçambique é ainda o décimo país no mundo e o sétimo em África com as taxas mais elevadas destas uniões, apontando como causas fatores como a pobreza, os desastres naturais e a insurgência armada no norte do país.

A ONG explica ainda que 36,1% das meninas que vivem em zonas urbanas casam-se antes dos 18 anos e 11,5% antes dos 15 anos, e em zonas rurais 55,7% casam-se antes dos 18 anos e 16,1% antes dos 15 anos.

Desde outubro de 2019 que Moçambique tem em vigor a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras, que elimina uniões maritais envolvendo pessoas com menos de 18 anos, punindo com pena de prisão até 12 anos e multa até dois anos o adulto que se casar com uma criança.

A pena é igualmente extensível a adultos que participarem nos preparativos do noivado e a qualquer adulto que aceitar viver numa união arranjada por outras pessoas, quando tenha conhecimento de que o parceiro tem menos de 18 anos.

As sanções estão igualmente previstas para funcionários públicos, líderes religiosos e líderes tradicionais que celebrarem casamentos envolvendo menores de 18 anos, caso em que o servidor público será condenado a pena de até oito anos de cadeia.

 

LN (LYCE) // MLL

By Impala News / Lusa

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