ONG moçambicana eleva para 361 total de mortos nos protestos pós-eleitorais

A plataforma eleitoral Decide disse hoje que pelo menos 361 pessoas foram mortas e mais de 750 baleadas desde 21 de outubro nos protestos pós-eleitorais em Moçambique.

ONG moçambicana eleva para 361 total de mortos nos protestos pós-eleitorais

“Estamos com 361 mortos até agora”, disse à Lusa, Wilker Dias, diretor da Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que acompanha os processos eleitorais.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo, empossado em janeiro como quinto Presidente da República.

Um jovem foi hoje baleado em Maputo, um novo caso relacionado com a agitação social pós-eleitoral, com populares a responsabilizarem a polícia e a carregarem o corpo da vítima mortal para a estrada Nacional 4 (N4), levando à carga policial.

Segundo Wilker Dias, que esteve esta manhã no local do mais recente caso, dados preliminares apontam para mais de 750 pessoas baleadas durante os tumultos.

A agitação, na Casa Branca, a cerca de 500 metros das portagens da Maputo da N4, começou pela manhã, com populares a assinalar o denominado “Dia dos Verdadeiros Heróis do Povo Moçambicano”, instituído unilateralmente pelo ex-candidato Venâncio Mondlane. 

No local, populares relataram que a polícia entrou no bairro, junto à N4, durante a manhã, baleando mortalmente na cabeça um dos jovens, lançando gás lacrimogéneo e disparando tiros. 

“É um feriado normal, ninguém fechou a estrada. De repente aparece o Conselho Municipal e a UIR [Unidade de Intervenção Rápida], começam a disparar sem perguntar nada”, descreveu um dos jovens, de máscara, protegendo-se do gás lançado pouco antes e garantindo que estavam na rua a limpar e a festejar o denominado “Dia dos Verdadeiros Heróis do Povo Moçambicano”. 

Outro jovem explicou que o colega “não estava a fazer nada” e foi atingido a tiro “a sair de casa”, o que provocou a revolta dentro do bairro, que rapidamente passou para a N4, arremessando pedras contra viaturas, incluindo da polícia, e mais tarde tentando vandalizar um espaço comercial, que levou a nova intervenção policial.

Cerca das 11:30 (09:30 em Lisboa), um grupo de jovens carregou o corpo para o separador central da N4, cortando a espaços o trânsito no local, com elementos da UIR da polícia moçambicana a efetuar disparos de gás lacrimogéneo e tiro real, tentando, sem sucesso, desmobilizar o protesto e recolher o corpo. 

Após uma hora de tensão, a intervenção policial conseguiu afastar os jovens do corpo, rapidamente removido por elementos do Serviço Nacional de Investigação Criminal, apesar da resistência dos populares. 

O apelo de Mondlane levou muitos a encarar o dia de hoje como feriado, com a cidade de Maputo com um reduzido movimento, anormal para uma terça-feira, enquanto em alguns bairros periféricos a circulação está condicionada, com algumas manifestações e agitação social. 

Em 18 de março de 2023, agentes da polícia moçambicana alegaram ter “ordens superiores”, nunca esclarecidas, para dispersar grupos que pretendiam realizar marchas pacíficas, em vários pontos do país, em homenagem ao ‘rapper’ de intervenção social Azagaia, que morrera uma semana antes. 

Centenas de pessoas também se concentraram hoje no cemitério de Michafutene, recordando nomeadamente Azagaia e Elvino Dias – ambos sepultados no local -, este último conhecido como “advogado do povo”, baleado com vários tiros na noite de 18 de outubro de 2024, em Maputo.  

Elvino Dias era então assessor jurídico de Venâncio Mondlane e no mesmo carro atingido por desconhecidos seguia ainda Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoiava aquele candidato presidencial, também atingido mortalmente. 

O crime continua por esclarecer pela polícia e marcou o início da violência pós-eleitoral.

 

PVJ/LN // JMC

By Impala News / Lusa

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