Anexação do Canadá como 51.º estado dos EUA  “é impossível” — especialistas luso-canadianos

Especialistas luso-canadianos consideram que a sugestão do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o Canadá deveria tornar-se o 51.º estado norte-americano “é impossível” de materializar.

Anexação do Canadá como 51.º estado dos EUA 

Carlos Leitão, ex-ministro das Finanças do Quebeque (2014-2018), e Victor Severino, ex-vice-ministro adjunto de vários ministérios no Ontário (2010-2022), ambos conselheiros da diáspora portuguesa, consideram, em entrevista à agência Lusa, estas declarações provocadoras e alertam para os impactos económicos e políticos de tais medidas.

A poucos dias da sua tomada de posse, marcada para 20 de janeiro, Trump intensificou a retórica contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, incluindo o Canadá, México e China.

“No dia 20 de janeiro, como uma das minhas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para aplicar uma tarifa de 25% a TODOS os produtos vindos do México e do Canadá”, escreveu Trump na sua rede social Truth Social em novembro de 2024.

Carlos Leitão classificou a ideia de anexação do Canadá como “impossível”, destacando que esta não serve os interesses de nenhum dos países.

“O Canadá é um país soberano e independente. Mesmo no cenário hipotético em que os canadianos quisessem juntar-se aos Estados Unidos, o Congresso americano não apoiaria essa ideia. Não há viabilidade constitucional ou política para tal proposta”, afirmou Leitão.

Victor Severino, que foi negociador-chefe do Ontário para o acordo de comércio com a União Europeia (CETA), reforçou que a anexação não tem base prática.

“Isso exigiria a abolição das legislaturas provinciais no Canadá e uma alteração constitucional, o que é praticamente impossível. Estas declarações de Trump não são mais do que uma manobra política para pressionar o Canadá em futuras negociações comerciais”, explicou.

Para Leitão, as ameaças de tarifas são preocupantes e podem causar instabilidade económica significativa.

“Uma tarifa de 25% aumentaria os custos para as empresas e consumidores americanos, enquanto provocaria sérios danos às exportações canadianas. Esta é uma tática clara de pressão para renegociar acordos comerciais em benefício exclusivo dos Estados Unidos”, afirmou.

Severino partilha a preocupação e destacou que, sem detalhes claros sobre as tarifas, é difícil avaliar o impacto total.

“Ainda não sabemos a que produtos ou setores estas tarifas se aplicarão. A indústria automóvel e o setor energético, por exemplo, estão altamente integrados entre os dois países. Uma medida destas seria prejudicial tanto para os EUA como para o Canadá”, alertou.

Ambos os especialistas sublinham que a resposta do Canadá deve ser estratégica e unificada.

No entanto, a recente demissão do primeiro-ministro Justin Trudeau e o período de transição política em Otava tornam a posição canadiana mais frágil.

“Estamos num momento de fraqueza política no Canadá, o que complica ainda mais as negociações. É essencial que o Canadá fale a uma só voz e procure aliados nos Estados Unidos para contrariar estas ameaças”, concluiu Carlos Leitão.

A tomada de posse de Donald Trump como 47.º Presidente dos Estados Unidos, na próxima segunda-feira, promete abrir um novo capítulo nas relações entre os dois países, com o risco de tensões económicas e comerciais a aumentar nos próximos meses.

 

SEYM // VM

By Impala News / Lusa

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