Ataques russos com ‘drones’ contra civis em Kherson são crime contra humanidade
A comissão internacional independente de inquérito da ONU sobre a Ucrânia concluiu que os ataques sistemáticos com ‘drones’ levados a cabo pela Rússia na província ucraniana de Kherson constituem crimes contra a humanidade e crimes de guerra contra civis.

Numa conferência de imprensa hoje realizada em Genebra (Suíça) para apresentar o seu mais recente relatório, focado nos ataques sistemáticos de ‘drones’ das forças russas contra civis na região de Kherson, que terão feito já perto de 150 mortos entre a população civil, os membros da comissão independente, presidida pelo juiz norueguês Erik Mose, estimaram que este padrão de ataques, cometidos há meses na margem direita do rio Dnipro, parecem obedecer a uma política planeada que “tem como objetivo principal espalhar o terror entre a população civil, em violação do direito internacional humanitário”.
“Desde julho de 2024, os operadores de ‘drones’ militares russos, baseados na margem oposta do rio, têm atingido sistematicamente pessoas civis, em várias circunstâncias, principalmente ao ar livre, enquanto caminham ou utilizam transportes. Também visaram ambulâncias, que têm uma proteção especial ao abrigo do direito internacional humanitário, impedindo-as frequentemente de chegar às vítimas”, denunciou o relatório.
“Os ataques seguiram um padrão regular e o mesmo ‘modus operandi’, demonstrando que foram planeados, dirigidos e organizados e, portanto, parte de uma política organizacional”, destacou Erik Mose.
A comissão de inquérito, que entrevistou perto de uma centena de vítimas e testemunhas na região de Kherson (sul da Ucrânia) e geolocalizou mais de 120 vídeos de ataques divulgados publicamente, indicou ter documentado “ataques com ‘drones’ contra civis na cidade de Kherson e em 16 outras localidades que se estendem por mais de 100 quilómetros em zonas ribeirinhas sob controlo do Governo ucraniano”.
“Até à data, foram mortos quase 150 civis e centenas de outros ficaram feridos, de acordo com fontes oficiais”, apontou a comissão, sublinhando que “os ataques continuam à data da publicação do presente documento”.
A comissão independente salientou que “vários canais de Telegram russos com ligações às unidades militares perpetradoras, alguns dos quais com milhares de seguidores, divulgaram centenas de vídeos dos ataques a partir das imagens originais dos ‘drones'”, que “mostram que os perpetradores podiam ver claramente as vítimas e não deixam dúvidas de que a sua intenção era atingir civis”, além de a publicação de vídeos de civis mortos e feridos constituir “um crime de guerra de ultraje à dignidade pessoal”.
“Os ataques individuais com ‘drones’ constituem crimes de guerra, por se dirigirem intencionalmente contra civis. A recorrência destes ataques durante mais de 10 meses, contra múltiplos alvos civis e numa vasta área geográfica, demonstra que são generalizados e sistemáticos e foram planeados e organizados, exigindo a mobilização e a afetação dos recursos necessários”, apontaram os membros da comissão de inquérito da ONU.
De acordo com o relatório, “estes e outros elementos levaram a Comissão a concluir que as forças armadas russas levaram a cabo ataques com ‘drones’ contra civis de acordo com uma política organizacional e cometeram homicídio como um crime contra a humanidade”.
“Na opinião da Comissão, o comportamento dos perpetradores pode constituir o crime contra a humanidade de transferência forçada de população. O caráter generalizado e sistemático dos ataques, o terror incutido na população e o consequente ambiente coercivo obrigaram milhares de pessoas a fugir (…). Estes elementos combinados sugerem uma política estatal coordenada, por parte das autoridades russas, para forçar a população a partir”, concluiu a comissão.
Exortando as autoridades russas a porem imediatamente fim aos ataques com estes aparelhos aéreos não tripulados contra civis, a comissão independente de inquérito instou também a Federação Russa a “assegurar que todos os autores envolvidos na prática de tais crimes, em particular os comandantes e outros superiores e aqueles que ordenam, solicitam ou induzem a sua prática, sejam responsabilizados, em conformidade com as normas internacionais”.
A Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Ucrânia foi criada pelo Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas para investigar todas as alegadas violações e abusos dos direitos humanos, violações do direito humanitário internacional e crimes conexos no contexto da agressão da Federação Russa contra a Ucrânia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
ACC // SCA
By Impala News / Lusa
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